Ma vie en rose

De frente, de lado, de costas. En France.


terça-feira, março 31, 2009

Her(d)ança genética

Liguei a televisão e dei de cara com um programa desses su-pe-rin-te-res-san-tes, sobre a vida de ex-Big Brothers franceses. Tipassim, se as vidas de atuais Big Brothers já é uma big bosta, imaginem as dos ex.

Mas, só porque o centro da minha dissertação do master é o infotainment, a informação diversão/distração, resolvi prestar atenção na história muito bonita de uma moça. Fazer o quê, agora tenho créditos para algumas coisas. E vocês sabem, faço quase tudo tudo pela pesquisa.

Não lembro o nome da criatura, mas sua profissão é dançarina e sua missão no mundo é desmistificar a pole dance e o strip-tease. Geinteim, que lindo! Porque eu não vim ao mundo com uma missão assim, Zeus? (Minha mãe responderia: "é que tu nasceu sem bunda, minha filha". Aliás, essa é a mesma desculpa de porque minha família nunca achou que eu fosse prosperar no Jornalismo).

Enfim, enquanto a ex-Big Brother francesa se pelava na frente das câmeras junto com uma colega de profissã, ela contava da dificuldade que as pessoas tinham para aceitar seu trabalho como arte. E ela fica muito triste diante dessa situação, já que sua atividade é tão digna como a de qualquer trabalhador. Quase chorei de emoçã.

Então, já desnuda e se esfregando na colega de trabalho, a bailarina confessa que dança estava no seu sangue, já que sua maman também exercia o mesmo ofício. "Veio de casa a minha vocação..."

- Vagabundice é genético? - pergunto a petit-ami que também assistia ao programa.

"... e tive uma boa escola, já que a minha mãe é brasileira".

- Tá, não precisa me responder.

FIM!

segunda-feira, março 30, 2009

Lynch, go to hell

Sonhei que eu tinha tido uma decepção tão grande que eu entrava em coma. Coma de tristeza. E eu acordava quinze anos depois, mas não lembrava de quase nada do passado.

As pessoas me reconheciam e vinham me contar quem elas eram e a importância que elas tinham tido para mim. Eu já não sabia nem de mim mesma.

Um homem me abraçou e disse que tinha esperado por mim todo esse tempo, que ele era meu namorado, embora eu só tivesse recordações dele como amigo. "Mas agora estamos juntos", ele me garantiu. Enquanto ele fazia declarações de amor, eu pensava que não era possível que eu namorasse uma pessoa com o cabelo tão fedorento. Tinha pena e compaixão quando ele estava longe, mas quando se aproximava e me abraçava de um jeito desajeitado e brusco, eu me sentia invadida.

Em uma festa de boas-vindas organizada especialmente para mim, me vestiram com um vestido velho e manchado de sangue. Sentada, encontrei uma cicatriz no interior da coxa, tive flashs da dor que eu senti quando alguém me atacou com uma faca. E eu comecei a achar que era esse o motivo da minha tristeza.

Foi então que ele chegou e se identificou. Eu lembrei quem ele era, senti ternura, saudade e impotência, daquelas que se sente quando não se pode mais voltar atrás. Ele me revelou que a razão do meu coma eram meia dúzia de palavras. Ele as repetiu. "Foi só por isso", jurou enquanto eu entrava num choro desesperado.

- Quanto tempo faz mesmo? - eu começava a esquecer tudo novamente.
- Quinze anos. Tu preferes viver agora ou quinze anos atrás?
- Quinze anos atrás - eu implorei.

Nesse momento, acordei me perguntando se era pesadelo ou sonho. E não consegui mais dormir.

sexta-feira, março 27, 2009

A vida é um doce, vida é mel

E daí que andaram falando por aí que, para os franceses, a minha Amélie, estampada no ombro direito, seria o equivalente a ter uma tatuagem da Xuxa, no Brasil.

E daí que petit-ami não sabia quem era a Xuxa, e eu mostrei vários vídeos, cantei muitas musiquinhas e mostrei algumas coreografias.

"Meu Cãozinho Xuxo" virou hit aqui em casa. De tanto eu cantar, petit-ami decorou e agora sabe a letra inteira da canção. Coisa mais engraçada do mundo é que ele imita direitinho até a parte em que a Xuxa chora. Sweeeeeeeeeet!

Pena que o meu ombro esquerdo também já é tatuado, senão ia começar a considerar a possibilidade de tatuar nossa Amélie brasileira. Xuro pra voxês, xente!

quarta-feira, março 25, 2009

A França (nos) engorda

Me assustei quando vi o estado de Isabelle Adjani, na televisão francesa, dando entrevista sobre o seu novo filme. Refleti muito (afinal, esse é um assunto muito intelectual, que merece hipóteses, pesquisa e dossiê), e desvendei o mistério lá no Em busca do phino.


Eu era assim...

Diz a sogra que os franceses são imunes à ingestão dos pratos calóricos da culinária nativa. E geralmente são os estrangeiros que reclamam da engorda durante a expatriação. Mas, como diz o ditado, para toda regra, uma exceção.


mas fiquei assim de tanto passar na patisserie pra fazer uma boquinha...

domingo, março 22, 2009

Domingo tem futebol

Juninho Pernambucano, jogador do Lyon, dando entrevista em francês na televisão. Petit-ami pede minha atenção:

- Tá ouvindo ele falar, Dany?
- Uhum.
- Mas ele fala muito bem, né?
- Né.
- Não tem nenhum sotaque!
- Ah é?
- Fiquei impressionado!
- Sei.
- Mas deve ser porque ele mora aqui há alguns anos.
- TÁ BOM, CHEGA, JÁ ENTENDI!!!

Mãe, anuncio que acabo de largar o Jornalismo: vou virar jogadora de futebol. Falar francês perfeitamente é uma questão de honra.

quinta-feira, março 19, 2009

Verdade ou mentira?

A Sonâmbula Insone do Vigília Onírica me lançou o desafio deste meme e eu aceitei. Digo desafio por dois motivos: o primeiro é que, para uma pessoa que leva sinceridade até no sobrenome, vai ser difícil encontrar mentiras convincentes. Segundo que eu só conheço a Sonâmbula da blogosfera, mas vamos ver se a minha intuição continua afiada...

Eis as regras:
1) Falar 9 coisas aleatórias a seu respeito, não importando a relevância.
2) Sendo 6 verdades e 3 mentiras.
3) Quem receber o meme, deverá postar na suas respostas as 3 mentiras do blogueiro.
4) Quem indicou revela depois (ou não)
5) Não tem quantidade especifícas p/ quantidade de blogs.
 
O que eu acho que é verdade  sobre a Sonâmbula Insone :
- Já morei na Nova Zelândia
- Já trabalhei no Mc Donalds.
- Já fui apaixonada por um homem 27 anos mais velho que eu.
- Estudei para ser bibliotecária.
- Já animei festa infantil.
- Já pratiquei caratê.

E as mentirinhas dela:
- Já desfilei em escola de samba no carnaval.
- Adoro café frio.
- Já joguei basquete.

As minhas verdades e/ou mentiras en France:
- Desde que me entendo por gente, sempre quis morar na França
- Conheci petit-ami durante a redação de uma matéria sobre estudantes franceses no Brasil
- Cheguei aqui falando (mal) meia-dúzia de frases em francês
- Dispenso: qualquer tipo de doce, chocolate ou patisserie francesa
- Petit-ami me deu uma bicicleta rosa de presente
- As maiores diversões (minhas e de petit-ami) são viagens e shows
- Tenho uma Amélie Poulain tatuada no ombro direito
- Esqui e snowboard viraram meus esportes preferidos
- Do Brasil, sinto falta da família, dos amigos e das festas de Porto Alegre

Passo o meme para a minha prima-irmã Jujuba, do Desastre à vista . E para quem mais quiser fazer, claro!

sexta-feira, março 13, 2009

Tristeza não tem fim; felicidade sim

Por conta da greve, as universidades continuam sem aulas, e a cada vez que eu apareço na minha unidade pra buscar livros ou para me encontrar com a orientadora da minha dissertação, tenho grandes surpresas. O Instituto de Comunicação virou um kinder ovo gigante!

Semana passada, os alunos manifestantes colocaram um caixão na entrada da faculdade e vários cartazes dizendo que o ensino superior francês estava morrendo. Achei que se eles estivessem mesmo preocupados, deveriam era ter construído uma UTI. Não é?

Já, essa semana, me deparei com um mural de fotos dos estudantes do movimento grevista. Não entendi qual era a de colocar imagens de seus próprios rostos espalhados pelas paredes. E, só depois de ler as explicações do manifesto, é que soube que eles a intenção era mostrar a tristeza dos alunos diante do impasse do governo. Ou seja, teoricamente, nas imagens do mural, eles estavam fazendo cara de tristes. Coincidentemente, é a mesma expressão facial que eles têm durante as aulas.

Mas o mais engraçado de tudo foi ver que um colega argelino, que passou o semestre passado rindo e trovando as colegas durante as aulas, também é integrante do movimento grevista. Sendo que ele espalhou para toda a faculdade que ele se negava a estudar, é difícil de acreditar que ele está realmente chateado com a suspensão das atividades na universidade. Ou não. Observando mais atentamente a foto de Fateh, percebi que essa foi a única ocasião em que eu o vi sério. O coitadinho deve estar mesmo sentindo falta da mulherada...

quarta-feira, março 11, 2009

Nem feio, nem na moda, mas limpinho

Para todos os hominhos que pensavam que a beleza fundamental só valia para as mulheres, Em busca do phino traz hoje dicas de higiene e cuidados pessoais para você poder chegar na gatchenha sem medo, sem ser bonito e sem estar na moda. A gente só percebe a beleza interior na ausência do fedor.


Que Louis Garrel é lindo de MÓÓÓÓÓRRER estamos todos de acordo. O que você não sabia é que ele suou muito para isso, mas sempre usou desodorante.

sábado, março 07, 2009

Eu podia estar roubandu, eu podia estar matandu

Eu comentava com o petit-ami que, apesar do meu um ano e meio aqui na França, ainda acho estranha a convivência com os franceses. A sensação que tenho é que todo mundo é mau-humorado full-time e que qualquer discussão está a um fio do começo.

E aí contei pra ele a história que eu estava sentada no banco do corredor no tram e que a pessoa ao meu lado (sentada na janela) pediu licença para passar. Eu virei meu corpo e deixei a passagem livre para ela, mas mesmo assim ela tropeçou. Aí fez uma cara do diabo nervoso pra mim e me falou qualquer coisa que eu não ouvi porque eu congelei de medo estava com os meus fones de ouvido enormes que os adolescentes morrem de inveja.


Petit-ami me deu de aniversário: muito útel!!!

Tipassim, não tenho culpa se ela tem labirintite não fez ballet e não tem equilíbrio. Ela devia era me agradecer por quase ter caído com a bufa no colo de um tiozinho. Pelo menos assim ela podia dar umazinha fazer amigos e ser feliz.

Segundo episódio do dia: supermercado. Sempre, SEMPRE quando eu estou quase passando as compras chega alguém pra brigar com a pessoa do caixa. Dessa vez foi por causa de um produto que a funcionária passou duas vezes. E aí fica aquela discussão, aquele torce nariz, a cliente batendo os tamancos xingando a caixa pra mim e a caixa xingando a mulher pra mim e eu procurando a saída de emergência os meus fones de ouvido. Deusulivre eu me meter em briga de supermercado, perderia meu emprego lá no Em busca do phino .

E petit-ami me explica que não é bem assim, que eu tenho uma visão exagerada das coisas. Sei, sei. O que aconteceu com o "tu precisa ser acostumada a ser xingada na França: c'est normal"?

- Além disso, Dany, esse horário que tu estavas na rua é um tanto particular.
- Por quê?
- Porque as pessoas normais, que trabalham, que estudam, estão ocupadas.
- Hum...
- Aí, o que acontece é que, nesse período, só tem velho, desocupado e louco circulando.

Não sei em que categoria ele me classificou, mas ficaria mais feliz se ele também criasse a opção de "estudante em greve que foi buscar mais livros para a sua dissertação na biblioteca".

quinta-feira, março 05, 2009

O problema não é você, sou eu



O que a gente faz quando chega no consultório médico e encontra criaturas tão grossas que se tem a impressão que errou de porta e entrou em um ringue de boxe?

A secretária xingou um bebê que estava engatinhando pela sala de espera. Segundo ela explicou para a mãe, os passos do pequeno faziam muito barulho, e isso dava dor de cabeça nela e atrapalhava sua conversa no telefone. Uia!

E aí chegou o médico, todo esbaforido, dizendo que tinha só 15 minutos por paciente e brigando com a secretária. Ele me chama, fazendo um sinal com a mão, bem apropriado para um dotô. Pior, só se me assoviasse. Quando vira as costas para a secretária, ela faz sinal pra mim insinuando que ele é louco.

O que a gente faz? Utiliza a saída de emergência, não é?

É, mas eu entrei no consultório.

No primeiro momento, ele quer saber qual é minha língua de origem. Depois da resposta, pergunta de qual cidade de Portugal eu venho. "Não, não. Sou brasileira". Ele procura meu sobrenome na lista de pacientes, me sugere "Bordão?", e eu o corrijo. Meio segundo depois, o doutor está berrando meu sobrenome com sotaque italiano pelo consultório. Tem meda. Mas a janela estava fechada e eu tinha esquecido meu pára-quedas em casa.

"Quem diria, uma portuguesa com um nome desses!", ele vibra. E eu o corrijo: "sou brasileira".

Durante o exame, o docteur acha a origem do meu problema: dois pontinhos pretos nos olhos. Ele comenta comigo, enquanto meu globo ocular está preso a uma máquina à la Clockwork Orange, que as lesões são bem visíveis e eu peço para saber qual é a origem delas. "Por favor fique quieta, senão você me atrapalha. Vocês, portugueses, falam demais."

Meo Zeos.

Ao final do exame, o médico-monstro me diz assim, bem tranquilamente, que eu tenho uma dégénérescence de la rétine, que não tem cura para o meu mal, que a minha retina está se esfarelando, que outros pontinhos vão aparecer e que minha visão vai piorar. Mas que eu não me preocupe. "Se você visse flashs de luz no escuro, seria grave."

Ah tá, intindi. Nem cheguei em casa me esgoelando de tanto chorar. Briguei com o petit-ami, e xinguei a França, e disse que era tudo culpa do Sarkozy, e liguei para a minha mãe no Brasil e disse que ia me matar. Ainda tive que ouvir meu irmão simijando de rir de mim e dizendo que ia me mandar um livro em braile de aniversário. Mas essa parte o docteur não viu, porque foi depois de ele me mandar embora.

E aí, o que a gente faz, hein? A gente chama o ETA, o IRA, o exército do tio Laden e pede pra eles explodirem toda a quadra do consultório do médico-monstro, não?

Não, errado. A gente marca uma consulta de retorno. (Esqueci de pedir uma receita para óculos novos!)

terça-feira, março 03, 2009

Chez les Ch'tis

É impressionante que, apesar do reduzido território francês, possa haver tanta disparidade entre os lugares. Passados alguns dias no norte da França, constatei algumas diferenças na região dos Ch'tis - como são chamados os habitantes de lá.

A "capital" da região Norte é Lille e fica só a cinco horas de trem aqui de Grenoble, e a duas horas de Paris. A impressão que eu tive quando cheguei é que Blumenau tinha mudado de continente e todas as pessoas pareciam ter vindo do Pomerode (región dos alemón de Santa Catarina). O clima também é bem diferente. As temperaturas são mais baixas, o sol quase não dá os ares da graça e chuvisca, quase sempre. E quando pára de garoar, todo mundo fica olhando para o céu e dizendo: "oh, que lindo dia de calor e sol!". Apesar das tentativas, oh, ninguém me convenceu que 3 graus com respingos e vento gelado na fuça é très agréable.

Claro que pra aguentar um tempo desses, todo o esforço ch'ti é necessário e eles compensam os dias acinzentados com muita cerveja e uma culinária pra lá de calórica. Não provei as tais ostras fritas com batatas fritas (parece que tudo por lá passa pela frigideira...), mas experimentei, com moderação, o welsh.

Sintam a delícia: à base de pão, cerveja e queijo cheddar, o welsh pode levar também presunto, bacon e ovo, com o acompanhamento de... batatas fritas e, claro, um balde de cerveja.

E aí, vai encarar?



O ministério da saúde adverte que o sul da França é mais seguro...