Ma vie en rose

De frente, de lado, de costas. En France.


sábado, março 29, 2008

Pra francês ver




Eles são experts em humor negro, em ironias e sarcasmos. Depois de conviver sete meses com esse povo, posso dizer que sair de casa, enfrentar neve, temperaturas negativas e congelar as mãos pra fazer uma escultura como essa é bem coisa de francês.

quarta-feira, março 19, 2008

Lost in translation - parte 2




Eu entro na sala de aula e todos estão sentados, completamente em silêncio e concentrados em seus testes. A professora me olha torcendo o nariz e aponta para o relógio, insinuando que algo estava errado. Ao me aproximar dela, ela sussurra, daquela maneira nem um pouco discreta, a fim de todos ouçam que ela está me repreendendo, mas "sem querer" chamar a atenção de ninguém. Ahan. E lá vou eu decifrar o mistério:

- Mas a prova não começou agora, às 14h?
- Não, começou às 13h30.
- Então, houve mudança no horário da aula?
- Pas de tout. Essa aula SEMPRE começou às 13h30.
- Mas eu sempre cheguei às 14h.
- Sim, tu sempre chegas atrasada.
- Mas, mas...
- E tens os trinta minutos restantes para fazer a prova.
- Ah, d'accord.

A parte nem tão divertida de ser um estrangeiro é ter a constante sensação de que a gente vive em uma bolha e que estamos sempre hermeticamente separados do mundo lá fora. E embora a gente faça parte desse universo, esse universo não faz parte completamente da gente. Esse ser e estar parcialmente nos faz passar por momentos cegos, surdos e mudos, surreais, oníricos, e tudo mais que possa representar essa atmosfera Lynchniana. Porque é assim que eu me sinto: "Mulholland Dr.".
Porexemplo: faz um mês que freqüento esse curso e não teve uma vivalma que me dissesse que a cadeira de Lexique começa às 13h30, sendo que todas as outras aulas da tarde, durante o resto da semana, começam meia hora depois. Admito que sempre me senti um tanto estranha ao chegar à faculdade e sem encontrar colegas nem no tramway, nem no hall de entrada, nem nos corredores e, ao abrir a porta da sala de aula, receber alguns olhares reprovadores, escutar risinhos, e algum colega sempre me olhar com uma cara de masoquehouve e me perguntar "ça va, Daniellá?", como se algo de anormal estivesse acontecendo. E estava, mas como diabos eu ia saber?!
A parte irritante de ser um estrangeiro é que não vai adiantar eu explicar pra professora que eu pensava que blá blá blá blá porque eu já sou a brasileira sem pontualidade e cara de pau que sempre está atrasada nas aulas de Lexique e que ainda tem o despeito de chegar no meio de uma prova, atrapalhar os colegas e de inventar qualquer mentirazinhainha. Ffffffffff!
A parte mais revoltante ainda de ser estrangeiro é, depois de sair arrasada da prova, consolidando a fama de irresponsável, desdenhosa e mentirosa (porque brasileiro só se importa mesmo com Carnaval, futebol, cerveja e pornografias) é ter que observar uma criatura breguíssima hip-hop/rap/boné virado/calça caída/cueca aparecendo/corrente dourada (arg, odeio dourado!) atravessar uma praça inteira com o único intuito de me xingar de "thon"*  sem que eu encontrasse rapidamente um impropério bem terrível, em uma língua que não é a minha, pra responder ao desaforado. Ahpoisé, mas isso a minha aula de Lexique não ensina e eu não sei dizer vaitomanocu em francês.

* thon= tradução literal, atum; sentido dispensável: mulher feia, baranga, fubanga, mocréia, tribufu, canhão.

terça-feira, março 11, 2008

Lost in translation

Grande parte das vezes que eu saía com os amigos do Florent para bebermos aqui em Grenoble era a mesma historia. Levantávamos o copo para o alto e algum dos guris dizia: «Ao Etienne!». Pelo menos era o que meus ouvidos decifravam. Até que um dia, eu questionei, indignada:
- Adrien, mas porque diabos a gente sempre brinda para o Etienne?
- Ahn? Etienne?
- Sim, é sempre «ao Etienne! ao Etienne!»
- Nao, Dany. Eh «à la tienne», ou seja, à saúde.

Ix!
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Conversas escatológicas com o Florent:
- E aí eu vi que tinha uma espinha dentro do meu nariz.
- Uma espinha dentro do nariz? Mas isso é muito bizarro, Dany!
- E dolorido!
- Mas, espera. Como é que uma espinha foi parar dentro do teu nariz?
- Sei lá, Flo. Mistério da fé.
- Já sei! Só pode ter sido da roseira!
- Da roseira? Quê!?
- Sim, uma espinha da roseira entrou no teu nariz!
- Hum, acho que não, hein...

Como ele confundiu «espinha» com «espinho» é notavelmente compreensível. Mas ainda estou tentando conceber de onde ele tirou a idéia de que uma espinha da nossa roseira foi parar dentro do meu nariz.

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Eu, conversando em francês com a Yoko, uma colega japonesa.
- E no Japão, tu estudas o quê?
- Eu estudo «bizu».
- Tu estudas o quê mesmo?
- Hehehehehe... Eh isso mesmo que tu ouviste, eu estudo «bizu». Todo mundo acha estranho e eu sempre tenho que explicar.
- Sim, imagino... mas, afinal, o que é «bizu»?
- «Bizu» é a abreviação de « bizuterie ». Entendeste? « Bizu-terie ».

Ah, entendi.

segunda-feira, março 03, 2008

Conselho



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O vídeo é inglês, mas por algum bom motivo colocaram uma insuportável criança francesa como protagonista...