Ma vie en rose

De frente, de lado, de costas. En France.


quarta-feira, julho 30, 2008

Como pode?

Em um grupo de pessoas semi-conhecidas nenhuma delas trocar uma palavra contigo? Não encontro explicações para que esse tipo de situação se repita há um ano. Medo, vergonha ou falta de vontade? Ah, claro, também existe a possibilidade de eu ter ativado a minha invisibilidade X-Men sem querer. Então, talvez, seja mesmo mea culpa.
A verdade é que sinto falta da espontaneidade de relacionamentos do Brasil, da amizade fácil, de jogar conversa fora, da liberdade de dialogar. Aqui, conto nos dedos de uma mão as pessoas quem eu posso considerar amigas (deixa eu contar: um... pronto, acabou!). Além de que me sinto na obrigação de estar sempre medindo as minhas palavras e as minhas atitudes. Ilustro: uma criatura que tem toda a liberdade comigo até para fazer críticas sobre a minha aparência física, se negou a responder sobre sua namorada alegando falta de intimidade comigo. Verídico e nos dedos!
Incoerência ou diferença de cultura, desisti de tentar entender algumas atitudes e situações. Quando se chega em uma festa, por exemplo: a gente tem que cumprimentar toda a manada com beijinhos e frescurinhas, mas depois ninguém mais te olha na lata. Putaquipariu, então, pra que esse circo todo? Assumam a antipatia, period.
Seria tão bom diminuir as cerimônias para poder falar normalmente com as pessoas, de ter mais espaço, menos julgamentos, e, ao mesmo tempo, acabar com essa distância que insiste em permanecer entre eu e qualquer francês. Não é à toa que eu me sinto sempre muito mais à vontade com estrangeiros. (Menos com angolanos, né. He!)

Saudade até das amizades e conversas de fila de banheiro. Snif.

quarta-feira, julho 23, 2008

Cebolinha doce

Com todas as decisões tomadas e obrigações para resolver, entrei correndo no prédio cheia de pastas, papéis, formulários e dossiês, mas parei de sopetão quando o vi, ao lado das caixinhas de correspondência, no hall de entrada.
Por alguns segundos, a inércia da comoção me deteve. "O que eu faço?". Me aproximei e percebi que havia um bilhete com uma mensagem em francês: "me adote e cuide bem de mim". O que eu faço?
Não fiz. Analisando rapidamente a situação, lembrei das minhas bagunças do apartamento que eu nunca consigo organizar, das duas roseiras mortas por falta de cuidados, da minha vocação para a não-maternidade, da dificuldade em lidar com as resoluções e responsabilidades a longo prazo. E levei ainda mais em consideração o fato de que os meus dois braços estavam ocupados por bolsas, documentos, burocracias e preocupações. "Impossível te carregar por três andares", expliquei mais para mim do que para ele. Desejei boa sorte e subi correndo as escadas – a forma mais rápida e eficaz de escapar de mais uma dessas tantas roubadas em que eu me meto.
Cheguei na porta do apartamento com um cansaço além do normal. Entrei, larguei toda a bagagem no chão, me sentei e bebi uma garrafa d'água. Mas a fatiga não passou: era o peso da consciência que me atordoava. "E se ele morrer de fome, de sede, por falta de cuidado ou companhia?".
Aí me veio a imagem da criatura sendo esmagada dentro do caminhão do lixo, junto com todos os outros dejetos orgânicos, se lamentando por não ter tido carisma suficiente para conquistar seu antigo dono ou a boa vontade de um novo. Não tive mais dúvidas. Desci desesperada os três lances de escada, imaginando o tamanho da catástrofe psicológica que eu poderia ter causado – para mim e para ele – e respirei aliviada quando o avistei ainda no térreo, exatamente como estava quando eu o recusei. Pedi mil desculpas pelo meu desdém relâmpago e ele pareceu agradecido porque me abraçou quando eu o levantei do chão.
Subimos juntos e felizes, e eu o apresentei para a sua nova casa. Imaginei que ele gostaria de ficar perto da janela, do sol e que a vista das montanhas ajudaria a superar o trauma do abandono. Mas, criança que é, Cebolinha gosta mesmo é de abanar para as crianças que freqüentam a piscina pública da esquina.





- Tu acha que o Cebolinha gosta de escutar Soko?
- Claro que sim, olha como ele dança bem sincronizado com o ritmo.

terça-feira, julho 22, 2008

8 choses à faire avant de mourir

Ai, que emoçã! O Ma vie en rose recebeu o primeiro meme de sua existência. Veio de oCinematographo (a Penkala jah havia me delegado essa função há alguns dias, mas cabeça de vento que eu sou, só vi ontem). Obrigadíssima, Ana!!!

Então, allons-y!

Regulamento:
1) Escrever uma lista com 8 coisas que sonhamos fazer antes de morrer;
2) Convidar 8 parceiros(as) de blogs amigos para responder também;
3) Comentar no blog de quem nos convidou;
4) Comentar no blog dos nossos(as) convidados(as), para que saibam da "intimação";
5) Mencionar as regras.

E, voilà! As oito coisas que eu quero fazer (na França) antes de morrer:
1. Terminar de escrever esse meme;
2. Conseguir minha carta de residência (ô novela, hein!!!)
3. Passar do Master 1 ao Master 2, e do Master 2 ao Doctorat;
4. Mochilar por muitos mais países com o meu guri (e isso inclui fazer muitos mais shows e festivais de música por aí);
5. Fazer minha mamma e meu "ermão" arredarem o pé de Shark City para virem me visitar aqui en France pelo menos uma vez por ano;
6. Trabalhar no Le Monde ou no Libération (ainda nao decidi qual eu quero mais - ai, como sou mudexta!) como journaliste (antes que algum engraçadinho venha me dizer que tem vaga na faxina);
7. Escrever livros;
8. Não fazer filhos (porque já plantei uma árvore).

Desorganizada que eu sou, é claro que em nenhum dos meus itens eu considerei qualquer classificação ou ordem de importância: limitações desse cérebro pisciano. Escrevi do jeito que veio sem pensar muito pra não ter atucanações ou choradeiras posteriores (sabecomé!). Como já dizia minha astróloga, "Daniella, tu és um caos". Aham, eu sei. Todo mundo sabe.

Passo esse meme para: Lu Thomé, do 50kg; Prof. Cintia, do Cintia que disse ; Jujuba, do Desastre à vista; Monica, do Moniquices; Rô, do Ogrices; Mari Thomé, do Dicionário de idéias afins; o Gui, do XXI et XXIII; Cela, do Menina da lua; a Lady Clementine, do Blog de Meninas; e a Tati, do Morte súbita.

quinta-feira, julho 17, 2008

A educação no trânsito

Aqui na França, os motoristas têm a obrigação de parar na faixa branca para os pedestres atravessarem. A multa para um atropelamento é muito alta e ninguém se atreve a brincar com essa condição. O Florent vive me puxando as orelhas porque, sempre que vamos atravessar uma rua, eu paro na hora se vejo um carro vindo. Ele vive me dizendo que o pedestre tem a preferência, mas trauma do trânsito brasileiro, eu prefiro sempre me precaver.
E aí que estávamos passeando com uns amigos e atravessamos todos na faixa enquanto um veículo se aproximou e esperou que passássemos. Não estávamos com pressa, caminhávamos normalmente e o motorista deve ter tido que aguardar, tipassim, cinco segundos, porque quando ele chegou até a faixa, já estávamos na metade da rua. E então, quando terminamos de atravessar e chegamos na calçada, a criatura se pôs a buzinar desvairadamente. Olhamos para trás e o monsieur estava batendo os tamanquinhos e nos xingando sei lá do quê (tem horas que é ótimo não entender tudo o que os franceses dizem).

- Ué, o que ele tem? - perguntei, sem entender nada, enquanto o motorista continuava nos encarando e disparando impropérios.
- É que ele quer que a gente o agradeça por ele ter parado na faixa.

E deve estar naquela esquina até agora esperando que eu diga merci.

................................................................

SMS no meu celular: "Dany, hoje vou chegar mais tarde em casa por causa do tráfico"
Erro lexical ou mudança de profissão, acho que esse guri passou tempo demais no Brasil.

quinta-feira, julho 03, 2008

Vem chegando o verão



Com as temperaturas chegando perto dos 3O graus, os franceses se mandam para o sul do país para pegar uma prainha. Em Marseille, onde passamos um final de semana, era disputado um lugarzinho na areia. Estendidos ao sol, fosforecendo a cor branca da pele escondida durante o longo e gélido inverno europeu, os franceses tostam com a ajuda de grossas camadas de bronzeadores.

Observando a disputa pelos infravermelhos para uma pele saudavelmente ultraroxa, achei que o sol tinha superaquecido meu cérebro quando vi uma vovozinha de peitos de fora. E como nem sempre os meus seis graus de miopia me dão o verdadeiro testemunho do fato, resolvi confirmá-lo com o petit-ami. "Aqui todo mundo faz topless", ele me acalmou. E então, que com os olhos espremidos e com um rastreamento mais detalhado, me dei conta que quase toda a mulherada estava de peitos à mostra, das mais mocinhas às mais velhinhas.

O mais interessante é que isso não é nenhum motivo de escândalo, é normal mesmo. As mamães se banham e brincam com seus filhotes, balançando suas protuberâncias sem o menor problema. As vovós não entram na água sem antes se despir da parte de cima. As moçoilas caminham na maior naturalidade pela areia só de calcinha. Ninguém fica olhando ou comentando ou criticando. E independente da idade, todas elas usam biquini. Na falta dele, aliás, vale usar a lingerie, mesmo no mar, transparente ou não.

A grande diferença é que aqui não se existe essa cultura de corpo e estética como no Brasil. Os franceses vão à praia para descansar, para se divertir, para nadar, se bronzear e em nenhuma dessas opções consta a de exibir formas perfeitas. Todo mundo se aceita do que jeito que é, longe das necessidades impostas ao mulheril lá ao sul do Equador. Para mim, me causou uma certa surpresa ao perceber que a calça que eu uso para correr no parque causa mais comoção entre as pessoas que as francesas seminuas na praia. Claro, por mais que minha legging não esconda grandes atributos, ela sugere muito mais malícia do que os corpos nus, naturalmente à mostra à beira do Mediterrâneo.

Achei genial esse comportamento e vejo que isso está muito relacionado à liberdade das mulheres aqui. Afinal, se a macharada pode andar de sunga na praia, porque as francesas não poderiam ficar só de calcinha também? É tudo uma questão de respeito ao espaço, à escolha e à aceitação de cada um. E nisso, é inegável, eles dão de dez a zero na gente.

Mas, bem, às francesas o que é das francesas. É claro que não me aventurei a deixar minhas peitcholas de fora, até porque sentindo na pele os efeitos do tórrido sol do verão francês, mal tive coragem de tirar minha camiseta. Mesmo assim levei um tostão que ficou pra história. Imagina se eu me pelasse toda! É aquele velho ditado... pimenta nos peitos dos outros não arde.

terça-feira, julho 01, 2008

Das sutilezas francesas

Eu, experimentando a Cherry Coke:
- Mas não tem muito gosto de cereja, né?
Francês, sendo francês:
- É que a gente só sente mesmo o gosto da cereja quando arrota.