Ma vie en rose

De frente, de lado, de costas. En France.


quarta-feira, abril 23, 2008

Promoção

Passados dez dias de férias na Espanha, estivemos em lugares impressionantes, festamos muito, caminhamos mais ainda, nos alimentamos praticamente de paella e, claro, bebemos parte da Rioja do país. Mas o que nos surpreendeu mesmo foi o preço das bossetas em Barcelona. Baita promoção.


quarta-feira, abril 09, 2008

A má educação

Pode: tirar um lenço nojento de sujo de tão melecado de dentro do bolso para assoar o nariz, utilizar toda a energia dos pulmões e expirar todo o gás carbônico do corpo, no melhor estilo "um elefante incomoda muita gente". Não sei como eles conseguem atingir tantos decibéis (preciso começar a utilizar protetores auriculares). E fica a certeza de que se os franceses tivessem tromba, todo mundo aqui já estaria surdo.
A verdade é que, depois de sete meses en France, ainda me assusto com esse comportamento. E não consigo pregar o olho o resto da noite, depois que meu petit-ami resolve assoar seu dengoso nariz ao pé do meu ouvido, no auge do meu sono, e de manhã vir com a explicação "mas é tão normal..."

Não pode: espirrar normalmente, naquele nível sonoro aceitável do atchim. Manda a boa educação francesa que o indivíduo tranque o espirro, sem fazer qualquer mínimo ruído pra ninguém te olhar com cara feia, mas, rapidamente te oferecer, sorrindo, um simpático "à tes amours!", o equivalente ao nosso "saúde!" ou "deus te ajude!". Até hoje não entendi a relação lógica entre os amores e o espirro...
Só um pouquinho: mas é óbvio que eu não disfarço, nem aqui, nem no Brasil, nem na China (onde eu espirraria gritando Free Tibet!). Primeiro porque, vai dizer, é uma baita boa sensação a de compartilhar todos os meus micróbios com a humanidade: eu adoro! Segundo porque minha mãe diz que se a gente tranca o espirro, explode o cérebro.

sexta-feira, abril 04, 2008

Não confunda: o cul é bunda

Não tenho ainda um vasto vocabulário em francês, mas elegi, há algum tempo, minhas palavras preferidas: porte-mine (lapiseira), ensemble (junto ou conjunto) e parapluie (guarda-chuvas). A verdade é que o francês tem uma sonoridade tão aveludada que a impressão, para quem começa a estudar e ouve, mesmo sem entender, é que tudo soa bonito. Porque depois, claro, a gente acaba se habituando e, quando se começa a captar tudo o que os franceses falam, a vontade é de voltar ao estágio inicial da língua.
A Ana, uma amiga brasileira que mora aqui em Grenoble, também elegeu sua expressão favorita: trou du cul. Ela acha lindo a conjunção das três partes e a musicalidade que produz a pronunciação: "truduicui". O som sai quase como um assovio e em um único movimento dos lábios - o famoso biquinho (sem o qual é impossível falar francês, c'est vrai!).
Mas, como nem tudo são fleurs, a palavra preferida da Ana tem um significado (e um significante também, pra que estudou Lingüística: ix!) nem tão galante. Trou du cul, tradução literal, é o "buraco da bunda". Isso mesmo, galera, é o cu.

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Anote no seu caderninho: Cul é bunda e cou é pescoço. O som é quase o mesmo, a localização é que é diferente (depende né, depende...).

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- Dany, pega o meu cartão aqui no bolso, por favor.
- Que bolso?
- No bolso do meu cu.
- Flo, quantas vezes eu vou ter que te falar que é bunda? Buuuuuuunda.
- Ah é.

Tsc, tsc, franceses!

quarta-feira, abril 02, 2008

Lost in translation, encore

Estranho como viver no exterior me faz sentir desprotegida e insegura. É muito mais fácil reagir, ser e existir quando a gente está no nosso próprio meio, especialmente porque a comunicação é natural, espontânea, e a gente conhece (quase todas) as reações dos nossos conterrâneos.
Explicome. Ontem, a caminho da universidade, me senti muito mal no tram, e não teve uma criatura que se prestasse a me ajudar. Branca do jeito que eu devia estar, olhos fechados, tentando me equilibrar em pé no meio de uma multidão de estudantes, era impossível de não notar que eu não estava nada bem, especialmente depois de eu atirar mochila, casaco e cachecol no chão. Um guri sentado me olhava com aquela cara básica de preocupação, mas com toda a falta de atitude do mundo. Continuou sentado. Prestes a desmaiar, consegui sair do tram e me sentar em um banco da parada de ônibus na frente do meu bâtiment da faculdade até que eu me recuperasse. Ninguém se comoveu, ninguém se importou e a sensação de anormalidade era tão grande que comecei a me questionar se eu tinha ativado minha invisibilidade X-Men. Not. Porque, logo depois que eu segui meu caminho para a aula, uma colega passou por mim e me cumprimentou. Pelo menos, eu estava viva... (não é, Polyanna?)
Fiquei boa parte da aula pensando no quanto as pessoas podem ser egoístas, individualistas, cagalhonas e descartando a possibilidade de uma situação como essa acontecer no Brasil. Ao menos, comigo, em casos extremos como esses, nunca me negaram ajuda. Nem vi nunca ninguém morrer de infarto em público por falta de socorro, como aconteceu há pouco tempo aqui em Grenoble. O tiozinho arrebentou o coração, atirado no chão, sozinho, dentro do mesmo tram onde todo o meu açúcar se evaporou no sangue.
Durante a aula, mais um incidente: uma colega americana que fazia sua exposé teve o despeito de comparar a eutanásia a um suicídio (ok, uma das coisas mais bestas que eu já ouvi in my whole life) e depois disso quase foi linchada pelos colegas e professora. Chorando, completamente perdida, sem saber a quem apelar, sem encontrar as palavras para se defender e com a mesma frustrada desproteção que eu havia sentido no começo da manhã, ela saiu da sala. Eu, que não vou lá com a lata da Andy, porque ela se acha superior a todo o grupo e vive detonando as opiniões limitadas dos orientais, fui ao seu encontro e ofereci toda a ajuda que ela precisasse para que pudesse superar essa comum situação incômoda de abandono que só um estrangeiro sabe bem o que é. Surpresa com a minha consternação e com a ausência dos amigos e conterrâneos americanos (que provavelmente estavam se rasgando de vergonha da infeliz), me agradeceu muito por eu não deixá-la sozinha. E só me pediu um abraço.