Lost in translation, encore
Estranho como viver no exterior me faz sentir desprotegida e insegura. É muito mais fácil reagir, ser e existir quando a gente está no nosso próprio meio, especialmente porque a comunicação é natural, espontânea, e a gente conhece (quase todas) as reações dos nossos conterrâneos.
Explicome. Ontem, a caminho da universidade, me senti muito mal no tram, e não teve uma criatura que se prestasse a me ajudar. Branca do jeito que eu devia estar, olhos fechados, tentando me equilibrar em pé no meio de uma multidão de estudantes, era impossível de não notar que eu não estava nada bem, especialmente depois de eu atirar mochila, casaco e cachecol no chão. Um guri sentado me olhava com aquela cara básica de preocupação, mas com toda a falta de atitude do mundo. Continuou sentado. Prestes a desmaiar, consegui sair do tram e me sentar em um banco da parada de ônibus na frente do meu bâtiment da faculdade até que eu me recuperasse. Ninguém se comoveu, ninguém se importou e a sensação de anormalidade era tão grande que comecei a me questionar se eu tinha ativado minha invisibilidade X-Men. Not. Porque, logo depois que eu segui meu caminho para a aula, uma colega passou por mim e me cumprimentou. Pelo menos, eu estava viva... (não é, Polyanna?)
Fiquei boa parte da aula pensando no quanto as pessoas podem ser egoístas, individualistas, cagalhonas e descartando a possibilidade de uma situação como essa acontecer no Brasil. Ao menos, comigo, em casos extremos como esses, nunca me negaram ajuda. Nem vi nunca ninguém morrer de infarto em público por falta de socorro, como aconteceu há pouco tempo aqui em Grenoble. O tiozinho arrebentou o coração, atirado no chão, sozinho, dentro do mesmo tram onde todo o meu açúcar se evaporou no sangue.
Durante a aula, mais um incidente: uma colega americana que fazia sua exposé teve o despeito de comparar a eutanásia a um suicídio (ok, uma das coisas mais bestas que eu já ouvi in my whole life) e depois disso quase foi linchada pelos colegas e professora. Chorando, completamente perdida, sem saber a quem apelar, sem encontrar as palavras para se defender e com a mesma frustrada desproteção que eu havia sentido no começo da manhã, ela saiu da sala. Eu, que não vou lá com a lata da Andy, porque ela se acha superior a todo o grupo e vive detonando as opiniões limitadas dos orientais, fui ao seu encontro e ofereci toda a ajuda que ela precisasse para que pudesse superar essa comum situação incômoda de abandono que só um estrangeiro sabe bem o que é. Surpresa com a minha consternação e com a ausência dos amigos e conterrâneos americanos (que provavelmente estavam se rasgando de vergonha da infeliz), me agradeceu muito por eu não deixá-la sozinha. E só me pediu um abraço.
Explicome. Ontem, a caminho da universidade, me senti muito mal no tram, e não teve uma criatura que se prestasse a me ajudar. Branca do jeito que eu devia estar, olhos fechados, tentando me equilibrar em pé no meio de uma multidão de estudantes, era impossível de não notar que eu não estava nada bem, especialmente depois de eu atirar mochila, casaco e cachecol no chão. Um guri sentado me olhava com aquela cara básica de preocupação, mas com toda a falta de atitude do mundo. Continuou sentado. Prestes a desmaiar, consegui sair do tram e me sentar em um banco da parada de ônibus na frente do meu bâtiment da faculdade até que eu me recuperasse. Ninguém se comoveu, ninguém se importou e a sensação de anormalidade era tão grande que comecei a me questionar se eu tinha ativado minha invisibilidade X-Men. Not. Porque, logo depois que eu segui meu caminho para a aula, uma colega passou por mim e me cumprimentou. Pelo menos, eu estava viva... (não é, Polyanna?)
Fiquei boa parte da aula pensando no quanto as pessoas podem ser egoístas, individualistas, cagalhonas e descartando a possibilidade de uma situação como essa acontecer no Brasil. Ao menos, comigo, em casos extremos como esses, nunca me negaram ajuda. Nem vi nunca ninguém morrer de infarto em público por falta de socorro, como aconteceu há pouco tempo aqui em Grenoble. O tiozinho arrebentou o coração, atirado no chão, sozinho, dentro do mesmo tram onde todo o meu açúcar se evaporou no sangue.
Durante a aula, mais um incidente: uma colega americana que fazia sua exposé teve o despeito de comparar a eutanásia a um suicídio (ok, uma das coisas mais bestas que eu já ouvi in my whole life) e depois disso quase foi linchada pelos colegas e professora. Chorando, completamente perdida, sem saber a quem apelar, sem encontrar as palavras para se defender e com a mesma frustrada desproteção que eu havia sentido no começo da manhã, ela saiu da sala. Eu, que não vou lá com a lata da Andy, porque ela se acha superior a todo o grupo e vive detonando as opiniões limitadas dos orientais, fui ao seu encontro e ofereci toda a ajuda que ela precisasse para que pudesse superar essa comum situação incômoda de abandono que só um estrangeiro sabe bem o que é. Surpresa com a minha consternação e com a ausência dos amigos e conterrâneos americanos (que provavelmente estavam se rasgando de vergonha da infeliz), me agradeceu muito por eu não deixá-la sozinha. E só me pediu um abraço.
2 Comments:
At 7:01 PM, RodOgrO said…
Puxa, Dany, muito legal você dar um apoio pra coitada. Ser um alien não é fácil, sem sombra de dúvida.
Agora... me explica a diferença entre eutanásia e suicídio? Pode ser que eu seja simplesmente burro (grande probabilidade), mas não é a mesma coisa??? (tirando, é claro, que no caso da eutanásia tem uma "justificativa" física)... Fiquei curioso!
At 5:49 PM, Anônimo said…
dany, abre uma ong
Postar um comentário
<< Home