As plastificadas que me perdoem
Mas minha sanidade mental é que é fundamental. Porque voltar ao Brasil é também retornar à neura da beleza física, do corpo perfeito, do bronzeado em dia e dos cabelos (a)lis(ad)os e dourados. Ou seja, exatamente o contrário do que eu sou.
Durante cinco meses na França, passava sem medo pelas farmácias, já que lá não é tão fácil assim encontrar uma balança. Nos primeiros meses, até encarei correr no parque porque, sem hipocrisia, gosto de exercícios físicos. Mas depois que esfriou (muito), eu me divertia mais comendo queijo e bebendo vinho em casa.
Ainda não descobri qual é a fórmula mágica, mas os franceses são um povo magro por natureza, apesar da sua dieta (teoricamente) calórica. Além disso, ninguém lá fica discutindo plástica, lipospiração, drenagem linfática ou sei lá mais qual futilidade estética, como se faz aqui no Brasil. Não é à toa que somos o segundo país em número de cirurgias plásticas, só ficamos atrás dos Estados Unidos. Um absurdo se pensarmos que vivemos em um país onde falta educação, emprego, segurança, saúde e... o que mais mesmo? Só não falta silicone.
Na França, ao invés de passarem publicidade de mulher pelada tomando cerveja, as propagandas de qualquer produto alimentício sugerem a ingestão de frutas e legumes diariamente. Além disso, o povinho se movimenta e não foge dos exercícios físicos. Nas randonnées, muitas vovós me colocaram no chinelo: encontrei até casais de idosos fazendo jogging nas montanhas. E ai de quem me diga de que as francesas são feias!
O fato é que desde o momento em que voltei, tive que ouvir que estou gorda, que estou branca, que estou flácida, ao que eu respondo sem o menor remorso: estou feliz. Meu contentamento não cessou ao ver as moçoilas em seus mínimos trajes da estação, exibindo sua cor alaranjada de bronzeadores artificiais. Ou ver as últimas novidades de combate à celulite, ou o que fazer ter um abdômen de tanquinho em uma semana ou as dietas milagrosas que ensinam a tomar meio copo de vinagre antes de cada refeição: assuntos que renderam "importantes" matérias em revistas femininas daqui e que eu li dando muita risada.
Em uma das aulas sobre cultura e sociedade francesa, no semestre passado, discutíamos sobre beleza física. É óbvio que ela é importante, em qualquer parte do mundo. Mas todos foram unânimes em afirmar que há um limite, tanto para o corpo quanto para a mente. Porque é doentio essa gente que passa o dia contando as calorias daquilo que come. Ou, como eu vi dias atrás em uma loja, uma menina que deixou de levar uma calça que ela provou e gostou só porque o número da calça era 38 e ela, que veste 36, não queria se sentir gorda. Foi cômico ver a garota se espremendo, em sucesso, em um minúsculo jeans que ela insistia em dizer que ele iria "ceder" depois de algumas horas de uso. Não cedeu. Pior ainda, é uma amiga do meu irmão, que contava, ansiosa, os dias para completar 19 anos. "Vais fazer uma festa?", perguntei, inocente. "Não, vou ganhar peitos de silicone dos meus pais." Diante da minha expressão incrédula, a adolescente me explicou que sofre de um agudo complexo de inferioridade por não portar vastas protuberâncias naturais.
Ah, galera, o que é isso?! Lipospiraram o cérebro das pessoas junto com a gordura, só pode. Depois de tanto me indignar com a "preocupação" alheia, e apelar para aquele famoso clichê de que tem tanta coisa mais importante no mundo pra se preocupar, resolvi me precaver para não me intoxicar com essa ignorância: reservei minha passagem de volta. Porque eu não vejo a hora de voltar a comer queijo, beber vinho e subir montanhas...
Durante cinco meses na França, passava sem medo pelas farmácias, já que lá não é tão fácil assim encontrar uma balança. Nos primeiros meses, até encarei correr no parque porque, sem hipocrisia, gosto de exercícios físicos. Mas depois que esfriou (muito), eu me divertia mais comendo queijo e bebendo vinho em casa.
Ainda não descobri qual é a fórmula mágica, mas os franceses são um povo magro por natureza, apesar da sua dieta (teoricamente) calórica. Além disso, ninguém lá fica discutindo plástica, lipospiração, drenagem linfática ou sei lá mais qual futilidade estética, como se faz aqui no Brasil. Não é à toa que somos o segundo país em número de cirurgias plásticas, só ficamos atrás dos Estados Unidos. Um absurdo se pensarmos que vivemos em um país onde falta educação, emprego, segurança, saúde e... o que mais mesmo? Só não falta silicone.
Na França, ao invés de passarem publicidade de mulher pelada tomando cerveja, as propagandas de qualquer produto alimentício sugerem a ingestão de frutas e legumes diariamente. Além disso, o povinho se movimenta e não foge dos exercícios físicos. Nas randonnées, muitas vovós me colocaram no chinelo: encontrei até casais de idosos fazendo jogging nas montanhas. E ai de quem me diga de que as francesas são feias!
O fato é que desde o momento em que voltei, tive que ouvir que estou gorda, que estou branca, que estou flácida, ao que eu respondo sem o menor remorso: estou feliz. Meu contentamento não cessou ao ver as moçoilas em seus mínimos trajes da estação, exibindo sua cor alaranjada de bronzeadores artificiais. Ou ver as últimas novidades de combate à celulite, ou o que fazer ter um abdômen de tanquinho em uma semana ou as dietas milagrosas que ensinam a tomar meio copo de vinagre antes de cada refeição: assuntos que renderam "importantes" matérias em revistas femininas daqui e que eu li dando muita risada.
Em uma das aulas sobre cultura e sociedade francesa, no semestre passado, discutíamos sobre beleza física. É óbvio que ela é importante, em qualquer parte do mundo. Mas todos foram unânimes em afirmar que há um limite, tanto para o corpo quanto para a mente. Porque é doentio essa gente que passa o dia contando as calorias daquilo que come. Ou, como eu vi dias atrás em uma loja, uma menina que deixou de levar uma calça que ela provou e gostou só porque o número da calça era 38 e ela, que veste 36, não queria se sentir gorda. Foi cômico ver a garota se espremendo, em sucesso, em um minúsculo jeans que ela insistia em dizer que ele iria "ceder" depois de algumas horas de uso. Não cedeu. Pior ainda, é uma amiga do meu irmão, que contava, ansiosa, os dias para completar 19 anos. "Vais fazer uma festa?", perguntei, inocente. "Não, vou ganhar peitos de silicone dos meus pais." Diante da minha expressão incrédula, a adolescente me explicou que sofre de um agudo complexo de inferioridade por não portar vastas protuberâncias naturais.
Ah, galera, o que é isso?! Lipospiraram o cérebro das pessoas junto com a gordura, só pode. Depois de tanto me indignar com a "preocupação" alheia, e apelar para aquele famoso clichê de que tem tanta coisa mais importante no mundo pra se preocupar, resolvi me precaver para não me intoxicar com essa ignorância: reservei minha passagem de volta. Porque eu não vejo a hora de voltar a comer queijo, beber vinho e subir montanhas...
5 Comments:
At 11:52 AM, Trevas said…
Acho que vou me mudar para a França e ser feliz sem nunca mais ver uma capa de Boa Forma. E comer queijo e chocolate sem culpa!
Boa viagem de volta!!!!
Bjs, Tati
At 2:07 PM, CJ said…
Oi...
Gostei de suas letras...
a França deve ser um lugar legal...
Percebi que não tem fotos aqui e me bateu curiosidade de conhece-la...
Tem carnaval por ai? Que ver alguma coisa daqui.? depois te mando... bjs.. CJ ( orkut: http://www.orkut.com/Profile.aspx?uid=2668054753725485192 )
At 11:32 PM, Kallil said…
huahahahuahahhahahaha
ISSAÊ!!!
Eu já gastei milhares de reais pra esculpir minha barriga conforme os moldes e tendências dos melhores Machos-Alfa: esférica, consistente e com pêlos. Não temos culpa do conceito de beleza mudar!! Aliás, ainda considero Plutão um planeta!- demorei mto pra decorar todos 9, na ordem, antes de surgir essa ciência conceitual e destruir tudo.
E no fim, é tudo mto bacana! =D
=*****
Se cuida!! E, não nos comunicando, EXCELENTE VIAGEM!
At 9:48 AM, Nessita! said…
bah, muito verdadeiro isso! acho que vou embora para a França, eles parecem bem mais felizes do que nós. adorei teu post, adorei teu blog. grande beijo!
At 5:18 AM, Anônimo said…
tem um livro meio de dietas que tem um nome tipo "por que as francesas comem e nao engordam?". e tem tambem uma coisa chamada completa falta de padrão nas confecçoes brasileiras. esses dias minha mae, q usa 40, comprou uma calça 36...
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