Estava sozinha na parada de ônibus, na frente do Hospital Mãe de Deus, depois de uma pauta. Quando o T2, o ônibus que eu aguardava, estava a menos de duas quadras, um senhor bem velhinho se aproximou para pedir informação. Pelo forte sotaque, percebi que ele era de alguma dessas cidadezinhas do interior, provavelmente descendente de alemães. Perdido, queria saber que ônibus ele poderia pegar dali até o centro de Porto Alegre. Respondi que nenhum ônibus que passa ali vai até o centro.
- Eu estava na outra parada, do outro lado da rua, esperando o T5, mas me disseram que eu tenho que pegar o T5 deste lado – me explicou.
Neste momento, o T2 parou para eu entrar.
- O que eu faço? – perguntou ele, completamente desnorteado, enquanto eu me perguntava o que deveria fazer. O motorista, com o olhar, me fez a mesma indagação.
Antes de subir no ônibus, ainda tive tempo de dizer que o T5 passava ali, mas não ia até o centro. Pela janela, percebi que o senhor continuara no mesmo lugar, olhando para os lados, provavelmente procurando outra pessoa que lhe desse alguma informação útil, ao contrário da minha.
Me senti muito pequena, ridícula, egoísta, boba, idiota. Talvez, se eu tivesse permanecido no local e o ajudado, eu perdesse dez minutos do meu tempo, mas faria o bem a alguém – o que era nenhum favor, mas, naquele momento tornou-se quase uma obrigação.
Eu sabia o que era o certo e o que me acalmaria, e me segurei para não descer na próxima parada e voltar correndo, pedir desculpas pelo desdém e auxiliar o senhor. Como uma típica covarde, escolhi um lugar, me sentei e me encolhi, tentando conter o choro e esconder minha vergonha do resto do mundo. Quando olhei novamente pela janela, eu já não sabia onde estava. Me conformei pensando que, naquele estado, não valeria mesmo a pena ajudar ninguém. A verdadeira perdida era eu.