Casa
Ao chegar em casa do aeroporto, olhei ao redor e não me reconheci em nada. Tu, ao contrário de mim, estavas por tudo. A cama desarrumada, as taças de champanhe na pia da cozinha, as toalhas ainda úmidas do banho da manhã.Não tive coragem de tocar em nenhum objeto, como quando um estranho chega em uma residência alheia. Caminhei pelo apartamento, olhando cada detalhe, relembrando passagens e acontecimentos. Tentei visualizar tua movimentação pelos cômodos naquela última manhã que passaste por aqui, desejando profundamente que o tempo retrocedesse para que eu não precisasse reviver sozinha tudo aquilo. Em vão. Uma solidão escura e dolorida pairou e choro foi inevitável. Estavas por tudo, mas não estavas comigo. E nada do que havia era só meu. Os cds, os livros, os dvds, as roupas espalhadas, uma embalagem de um presente: tudo compartilhado por nós dois. Brinquei de imaginar que estavas às minhas costas, mas a dor foi maior ainda quando tive vontade de me virar – fui barrada pela realidade da tua ausência. Nem as minhas lembranças são só minhas.Quando retornei à sala, encontrei um bilhete dizendo o que eu jamais consegui. Me culpei pelo egoísmo de nunca haver explicitado, a esse ponto, meus sentimentos. Mas, agora, não tinha mais volta, já estavas a milhares de quilômetros de distância. Me restou sentar no chão, que sempre foi chão – meu, teu e de todo mundo – para esperar o tempo passar. Porque agora estou sem casa.
“E até mesmo no vão entre a cama e a parede
na televisão e nas janelas
e no marco da porta.
Onde quer que se passe
essa casa cheirando a flores.
Essa casa é assombrada”
(Nessa Casa – Tom Bloch)
“E até mesmo no vão entre a cama e a parede
na televisão e nas janelas
e no marco da porta.
Onde quer que se passe
essa casa cheirando a flores.
Essa casa é assombrada”
(Nessa Casa – Tom Bloch)
6 Comments:
At 10:37 AM, Penkala said…
aaaaaaaaaaaaaaaaai. não aguento. não dá. vou viver mais ou menos a mesma coisa HOJE. já estou sofrendo, agonizando.
a PRESENÇA DA AUSÊNCIA é muito pior que a ausência. a PRESENÇA DA AUSÊNCIA é gorda, silenciosa, assustadora, e não dorme nunca.
força, guria. dizer algo numa hora dessas é estranho, mas a única coisa que dá pra dizer é que com o tempo a dor passa. um pouco.
At 5:36 PM, Julia Franco Gomes said…
tudo isso pra falar que tava com preguiça de limpar a bagunça que o homem deixou na sua casa? rsrs acostume-se... beijocas
At 10:28 PM, Anônimo said…
faça aquele curso
At 2:40 PM, Anônimo said…
Danizoka, eu sei q é triste,mas ânimo garotaaaaa..qlqr coisa estamos ai...e concordo com a tua amiga..todo esse texto só pra dar desculpa q tava com preguisa de arrumar a casa..hahahahaha(brincadeirinha)
bJOKAS
At 6:23 PM, RodOgrO said…
Ah... nada como a força do seu lirismo, Dany, pra me fazer acreditar de novo que existe vida inteligente na terra...
Abraço seus sentimentos como a um cobertor no inverno!
Força aí, guria! ãmiga!
At 11:54 PM, Anônimo said…
Dani, tu dorme de passador no cabelo?
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