Ma vie en rose

De frente, de lado, de costas. En France.


domingo, março 04, 2007

Perdidos

Estava sozinha na parada de ônibus, na frente do Hospital Mãe de Deus, depois de uma pauta. Quando o T2, o ônibus que eu aguardava, estava a menos de duas quadras, um senhor bem velhinho se aproximou para pedir informação. Pelo forte sotaque, percebi que ele era de alguma dessas cidadezinhas do interior, provavelmente descendente de alemães. Perdido, queria saber que ônibus ele poderia pegar dali até o centro de Porto Alegre. Respondi que nenhum ônibus que passa ali vai até o centro.
- Eu estava na outra parada, do outro lado da rua, esperando o T5, mas me disseram que eu tenho que pegar o T5 deste lado – me explicou.
Neste momento, o T2 parou para eu entrar.
- O que eu faço? – perguntou ele, completamente desnorteado, enquanto eu me perguntava o que deveria fazer. O motorista, com o olhar, me fez a mesma indagação.
Antes de subir no ônibus, ainda tive tempo de dizer que o T5 passava ali, mas não ia até o centro. Pela janela, percebi que o senhor continuara no mesmo lugar, olhando para os lados, provavelmente procurando outra pessoa que lhe desse alguma informação útil, ao contrário da minha.
Me senti muito pequena, ridícula, egoísta, boba, idiota. Talvez, se eu tivesse permanecido no local e o ajudado, eu perdesse dez minutos do meu tempo, mas faria o bem a alguém – o que era nenhum favor, mas, naquele momento tornou-se quase uma obrigação.
Eu sabia o que era o certo e o que me acalmaria, e me segurei para não descer na próxima parada e voltar correndo, pedir desculpas pelo desdém e auxiliar o senhor. Como uma típica covarde, escolhi um lugar, me sentei e me encolhi, tentando conter o choro e esconder minha vergonha do resto do mundo. Quando olhei novamente pela janela, eu já não sabia onde estava. Me conformei pensando que, naquele estado, não valeria mesmo a pena ajudar ninguém. A verdadeira perdida era eu.

7 Comments:

  • At 4:53 PM, Blogger Rosana said…

    Lindo texto, amiga Darko.

     
  • At 6:36 PM, Blogger Penkala said…

    poutz, aconteceu uma coisa parecida comigo outro dia. era eu dentro do ônibus e vendo um senhor chegando na parada e o motorista indo embora, sem ter visto (ou fingindo que não via). achei que ia dar, mas quando vi que o senhor estava ali e o ônibus foi embora, eu fui covarde por um tempo suficiente pra não dar tempo de gritar do fundão, onde eu estava (era aquele T2 "minhocão, loooongo), que tinha um sanhor vindo. me senti muito mal e a pior das criaturas. muita, mas muita vergonha mesmo.

     
  • At 2:34 PM, Anonymous Anônimo said…

    Danizoka, que situaçao heim!!! Mas já passei por isso tb...
    Bjokas

     
  • At 3:42 PM, Blogger Gabi Voskelis said…

    isso SEMPRE acontece comigo! me consolo no banco!!! sempre tem velhinhas simpáticas precisando de ajuda pra fazer depósitos ou sacar a aposentadoria.

     
  • At 1:40 PM, Anonymous Anônimo said…

    Já era de se esperar mesmo... que feio.

     
  • At 10:59 AM, Blogger RodOgrO said…

    Cada um por si... lei da selva.

    O ser humano realmente é uma espécie perdida! Todos nós somos uma vergonha!

     
  • At 10:10 PM, Blogger Isadora said…

    ontem vi um senhor dormindo, e quando o terminal chegou, todos desceram e ele continuou no sono. eu bati a bolsa no braço dele, "sem querer", quando saí, pra ele acordar. ganhei um "sua sem educação!", quando pensei que fazia uma boa ação ! mas, no final das con tas, depois de me xingar, o senhorzinho percebeu que se nao fosse isso, ele teria perdido o ponto, e ate deu uma risadinha.

    valeu a pena.
    =]

     

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