Ma vie en rose

De frente, de lado, de costas. En France.


terça-feira, agosto 28, 2007

Nosso fromage de cada dia

Os franceses tem uma paixao doentia pelos queijos. Eles comem queijo no café da manha, no almoço, no jantar e por aih vai. E, pasmem, aqui, queijo também é sobremesa. Ou seja, depois de eles se entupirem de queijo durante a refeiçao, eles ainda comem...apos a refeiçao. Para mim, isso nao eh nenhum problema, desde que nao seja fromage de chèvre: parece que eu estou comendo a propria cabra.
Recentemente encontrei um brasileiro que me contou que o roommate frances dele se ofendeu muito depois que meu conterraneo recusou um pedaço de queijo que lhe havia sido oferecido.
Exageros à parte (porque nos, latinos, adoramos um draminha - ninguém pode negar), convivo com esse comportamento queijolatra todos os dias. Meu namorado, frances, logo, tarado por queijo, precisa comer 876 tipos do laticinio por refeiçao. A geladeira nao tem mais espaço porque estah atrolhada de fromages, mas sempre que vamos no supermercado, ele me convence de trazer mais uns cinco, seis tipos. "Para tu experimentares", ele justifica.
Eis que voltavamos do Carrefour e desde que saimos do supermercado um cheiro terrivel nos perseguia. Como era sabado e todas as maes resolvem passear com suas crias no final de semana, comecei a especular que uma criança havia feito coco nas calças. Alguns metros depois, o cheiro continuava ao nosso redor. "Nao fui eu." "Nem eu." Na parada do tramway, o odor aumentou. Olhamos debaixo dos pés. Nada. Ateh que abrimos a mochila e desvendamos o mistério: um camembert fedorentissimo mimetizava coco de neném. Pior: nos pagamos por ele! Depois de algumas tentativas inuteis de convencer meu namorado jogar o queijo no lixo, o camembert veio, bem feliz, fedendo pra casa conosco. E permanece fedendo ha duas semanas e infectando o apartamento inteiro cada vez que a gente abre a porta da geladeira. Eu jah tentei de tudo, ateh greve sexual, em vao. Florent me ameaça de morte quando ele percebe que a permanencia de seu camembert neste recinto corre perigo. Nao especulem se ele prefere o queijo a mim. Porque ele jah me respondeu.

quinta-feira, agosto 23, 2007

Filha de peixe...

Presto uma homenagem a Dona Sonia, minha mamma, publicando o ultimo e-mail que recebi dessa pessoa mais fofa do mundo. Hoje é aniversario dela. Nao posso dizer que somos iguais porque nao existe ninguem igual a minha mae: elle est génial! Mas continuo dizendo: quando eu crescer, quero ser como ela...

"Oi, filha! Tudo bem?
Eu estou aqui catando letras, a cada dia aprendo mais um pouquinho. Viu o que a mamy faz por ti? Assim podemos nos falar sempre! Meu amor, estou com muitas saudades! Ainda nao sei por acentos, mas vou aprender... eheheheheheheh.
O teu irmao tem sido maravilhoso comigo. Nao estou muito facil de aturar. Que droga, tudo sem acento!
Completamos a coleçao dos grandes mestres da pintura; pena que nao veio PORTINARI. Eu comprei a trilogia das cores do Kieslowski: que maravilha! Ontem assisti Dr. Jivago, MARAVILHOSO. Deu para notar que eu estou fugindo das palavras com acento, ne? ehehehehehehhe.
Como vai o Florent? Manda um beijo para ele.
Filha, como funciona no apto o sistema de aquecimento? E o chuveiro? Com gas? Por favor, tomem cuidado!! No Rio, morreram duas irmas asfixiadas, pois nao tinha ventilaçao. Precisa deixar uma boa abertura para entrada do ar. Eu ia pedir pro Felipe falar contigo, mas eu sei que ele me ficaria rindo de mim!
Por favor te cuida direitinho! Tu eo teu irmao sao a razao do meu viver! Meio Kafka, neh? Fala serio, eu sou assim mesmo! TO BE OR NOT TO BE! ehehehehehehhe!
Minha princesa, agora tenho que ir: cansei! Sabe a quanto tempo eu estou aqui nesta coisa horrorosa? Meus miolos estao derretendo aiaiaiiiiiiii!
Te amo muito! Fica com Deus! Deus te abençoe!
MAMY"

Qualquer semelhança nao é mera coincidencia...

quarta-feira, agosto 22, 2007

Paris nao é uma festa


Nao vou discutir com ninguem que Paris é linda. Eu deveria ser linchada se me atrevesse a falar o contrario. Nao por discordar de opinioes (eh, acho que isso nunca foi problema), mas porque, sem duvidas, a capital da França é uma cidade fenomenal.
O grande problema de Paris sou eu, voce e todos nos que resolvemos colocar os pes lah, encher os lugares, lotar os pontos turisticos, conturbar o transito, comprar souvenires ridiculos (minha mae pediu uma miniatura da Torre Eiffel, fazer o que!) e irritar os franceses. Confesso: eu tambem sairia excomungando os estrangeiros que transformassem minha cidade em um caos, mesmo que isso custasse a reputaçao de um pais inteiro.
Tinhamos um final de semana em Paris e resolvemos começar o tour pela Catedral Notre Dame. E foi na frente da mesma igreja, diante de uma fila monstruosa de gente de toda a parte do mundo derretendo e fedendo debaixo do calor de oitocentos graus, que resolvemos terminar nossa incursao turistica. Notre Dame é linda, de ser admirada por horas, de dar caimbra no pescoço de tanto tempo que se pode ficar com a cabeça inclinada, de secar a lente dos miopes (como eu) para nao perder um milesimo de segundo de observaçao. Mas dah vontade de sair chutando a cambada que chega gritando no lugar, que nao usa desodorante, que luta desesperadamente contigo pelo espaço e pelo ar e que nao tem uma unha de educaçao.
Depois de sair de Notre Dame, tudo o que eu queria era um banquinho pra sentar e uma garrafinha de agua para beber. Banquinho para sentar: estavam todos ocupados e talvez alugados durante toda a alta temporada do verao europeu. Garrafinha de agua: meia hora para ser atendida na fila de um barzinho. Restou sentar no chao, ao lado de uma babel de gente vemelha e mal-humorada. Mas nao foi possivel desfrutar da sombra. Duas alemas bebadas resolveram entrar em uma fonte proxima e molhar todo mundo que estava por perto. Ok, on y va.
No metro, mais fila para entrar, mais gente para disputar lugar. Sentar, entao, nem em sonho, nem em pesadelo. Se entrar no metro eh dificil, sair eh uma prova de resistencia fisica e psiquica. Pra tudo tem fila, espera, luta braçal e exercicios mentais de paciencia que sao impossiveis de ser cumpridos.
Vi um padre da Notre Dame xingando um visitante. Vi uma menina saindo de uma loja desesperada: "Queue de mèrde, vie de mèrde". Parisiense? Francesa? Nao, nao, humana mesmo.

Resolvemos voltar a Paris no inverno.

sexta-feira, agosto 17, 2007

Os franceses


A primeira coisa que um frances quer saber de um estrangeiro que recem chegou na França eh o que ele acha da França. Eles nao sao nem um pouco modestos e nao sentem a menor vergonha ou receio de demonstrar isso. Porque eles sao franceses. Logo, eles podem.
Na aula de hoje, quando a professora discorria sobre o vinho frances, ela terminou a explicacao dizendo: "Nao sou nenhuma especialista, mas sou francesa". Ela poderia dar a mesma justificativa sobre queijos, vinhos, culinaria, literatura, arte, moda, tecnologia ou... sobre ornitorrincos, açai, icerbergs, surf, budismo, enuits ou sexo tantrico. Afinal, ela eh francesa e acredita que tenha propriedade para se afirmar em qualquer assunto.
Eles sao extremamente educados, simpaticos e polidos, mas fazem questao que todas as mesuras sejam retribuidas, independente da tua vontade ou do teu conhecimento sobre isso. Se a gente encontra um colega frances no corredor 543 vezes em uma manha, as 543 vezes ele vai te dizer bonjour e as 543 vezes tu vais ter que responder. Se a resposta nao vier, corre-se o risco de ser xingado. E isso, acreditem, eles tambem fazem muito bem. S'il vous plaît, excuse moi e merci, sao, de longe, as expressoes mais faladas. Ok, mèrde, tambem.
Eles tem incontaveis regras de boas maneiras e eles as seguem naturalmente, eh mesmo intrinseco ao comportamento deles, nao eh teatro. Se a gente entra em qualquer lugar e quer pedir alguma coisa, a gente entoa: "Bonjour!Excuse moi, s'il vous plaît, bla bla bla bla..." Outra: a gente nunca QUER nada. Tu nao podes chegar em um restaurante, por exemplo, e querer. Eh proibido! E feio, mal educado, desprezivel. A gente sempre GOSTARIA, voudrais. Assim: "Je voudrais bla bla bla". E mais, quando se vai embora eh: "Merci, au revoir, bonne journée, bon week-end", assim mesmo, tudo junto, com um sorriso no rosto, quase cantando e bem natural.
Eles fazem isso muito bem e eu os admiro. Porque os franceses se respeitam e fazem questao de demonstrar bons modos. Por exemplo, em tres semanas que estou aqui, ateh agora, nao ouvi uma buzina de carro. Os condutores dos transportes publicos esperam os passageiros, mesmo que eles estejam a uma quadra de distancia. Os pedestres sempre tem a preferencia, sinal vermelho ou nao. Eh mesmo surpreendente.
Mas tao intensos quanto a nocao de limites e respeito é o sarcasmo deles. Eles ironizam tudo: sai de perto! Nao se impressionam com nada bom ou ruim: "c'est normal". Aceitar um convite: "pour quoi pas?". Eles nao dizem: "Claro, vamos sair!". Eles dizem: "por que nao?" - no melhor estilo blasé de ser.
Educados, organizados, sarcasticos ou blasés, uma reaçao eh invariavel, a animaçao deles quando conhecem um brasileiro. Eles abrem um baita sorriso e: "Oh, brésilienne!!!!!!". E dizem que amam o Rio, que bebem caipirinha, que adoram o Carnaval, o samba, as praias, o calor. E toda essa animaçao sempre termina com comentarios sobre um fato tao inesquecivel para eles como para nos: a Copa do Mundo de 98. Ok, pas de problème. Eles também tem propriedade para falar de futebol...

quinta-feira, agosto 16, 2007

Grenoble


Grenoble fica no sudeste da França, no centro da região Rhône-Alpes, pertinho da Italia e da Suiça. Com cerca de 500 mil habitantes, tem uma galera de todo o canto do mundo que vem para a cidade para estudar, especialmente o pessoal das Exatas. Ok, nao é o meu caso: ninguem precisa me lembrar disso. Tambem tem gente, como eu, que vem estudar Lingua, Cultura e Civilizaçao Francesa. Ou seja, as excessoes estao em todo o canto do mundo. Mas vou deixar esse tema para outro post (de preferencia quando eu estiver de tpm).
A minha primeira impressao da cidade foi que ela parecia um desenho daqueles livros infantis coloridos, de conto de fadas. Grenoble eh fofa, cercada de montanhas, completamente arborizada, com ruas formadas por predios antigos, coloridos, com boulangeries (padarias) lindas, fromageries (pasmem! os franceses tem lojas onde soh se vendem queijos!), cafes, restaurantes, praças, parques, fontes em cada esquina, piscinas publicas. Enfim, soh vendo mesmo para saber. Eu fiquei completamente encantada e andava por aih apontando para os lugares, que nem criança mesmo, e exclamando: "que liiiiiiiiiiiiiiiiindo", "que foooooooooooooofo". Para melhorar tudo, nos lugares mais verdes, quando a gente menos espera, passam coelhos ou esquilos correndo.
E as lojas, arffffffff!!! Da vontade de comprar tudo! Sabe aquele creminho da Lancome que no Brasil custa 500 reais? Aqui sao 40 euros! Perfumes? Kenzo, Cacharel, Gyvenchy... 20, 30 euros. Uma tentaçao! Ok, eu multiplico tudo por tres e acabo nao levando nada porque meu bolso nao permite. Mas, teoricamente, o valor para eles eh o mesmo para nos. Uma camiseta no Brasil custa 40 reais, aqui sao 40 euros: os digitos se equivalem. As minhas possibilidades, nao.
Mas nem tudo sao flores, coelhos ou Lancome. Um dia bem feliz quando eu resolvi experimentar a liberdade de caminhar de madrugada (porque aqui a gente pode fazer isso sem NENHUM estresse e porque estah fazendo um calor de mais de trinta graus), me deparei com um rato na porta do meu predio. Resolvi descansar do meu susto e sentar em um banquinho de uma praça aqui perto e me deparei com varias blattes (as baratas francesas) fazendo a festa em um lixo. Ok, em uma proporçao bem menor que no verao brasileiro, mas, CARALHO! Todo o lugar que eu vou eu sou perseguida por essas criaturas! Soh me resta esperar pelo inverno. Acho que nao sou mesmo resistente ao calor...

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O romantismo frances:

- Olha que linda a cor das montanhas com a luz do fim de tarde!
- Nao eh a luz do fim da tarde, eh a poluiçao de Grenoble.

Hum, ok.

terça-feira, agosto 14, 2007

La vie en rose

Depois de mais de dois meses de ausencia, anuncio oficialmente que estou em Grenoble, na Franca. Primeira grande constatacao aqui: teclado estranho. E friso: sem acentos.
Cheguei na Europa no dia 30 de julho, em Roma, Italia. Primeira grande constatacao lah: os italianos, meus aclamados, admirados e vangaloriados ancestrais sao o contrario do que minha familia sempre pregou: completamente pirados, mal-educados, fora da casinha e gritam muito - entre eles, com os outros, com eles mesmos. Toda a confusao no aeroporto Leonardo da Vinci que aliou troca de portao de embarque no ultimo minuto sem avisar os passageiros (o que quer dizer que eu poderia ter ido parar em qualquer outro lugar do mundo), com o calor de 35 graus as 6 horas da tarde, ainda culminou na perda das minhas duas grandes e indispensaveis malas.
Cheguei em Paris a meia noite do dia 31 de julho, com uma mochila de documentos, uma camiseta e uma bagagem de mao com 11 pares de sapatos (porque eles nao couberam na mala), completamente esgotada, suja, descabelada, desesperada. Mas fui recepcionada por uma criaturinha com a qual passei 10 meses - os ultimos cinco separada por um oceano - e que me fez esquecer a viagem de mais de um dia dentro de tres turbulentos avioes, as confusoes italianas, o descaso com as minhas bagagens, o medo de ser barrada na imigracao e ter que passar tudo isso de novo em um possivel caminho de volta para o Brasil.
C'est ma vie en rose. Bienvenues!