Ma vie en rose

De frente, de lado, de costas. En France.


quarta-feira, julho 23, 2008

Cebolinha doce

Com todas as decisões tomadas e obrigações para resolver, entrei correndo no prédio cheia de pastas, papéis, formulários e dossiês, mas parei de sopetão quando o vi, ao lado das caixinhas de correspondência, no hall de entrada.
Por alguns segundos, a inércia da comoção me deteve. "O que eu faço?". Me aproximei e percebi que havia um bilhete com uma mensagem em francês: "me adote e cuide bem de mim". O que eu faço?
Não fiz. Analisando rapidamente a situação, lembrei das minhas bagunças do apartamento que eu nunca consigo organizar, das duas roseiras mortas por falta de cuidados, da minha vocação para a não-maternidade, da dificuldade em lidar com as resoluções e responsabilidades a longo prazo. E levei ainda mais em consideração o fato de que os meus dois braços estavam ocupados por bolsas, documentos, burocracias e preocupações. "Impossível te carregar por três andares", expliquei mais para mim do que para ele. Desejei boa sorte e subi correndo as escadas – a forma mais rápida e eficaz de escapar de mais uma dessas tantas roubadas em que eu me meto.
Cheguei na porta do apartamento com um cansaço além do normal. Entrei, larguei toda a bagagem no chão, me sentei e bebi uma garrafa d'água. Mas a fatiga não passou: era o peso da consciência que me atordoava. "E se ele morrer de fome, de sede, por falta de cuidado ou companhia?".
Aí me veio a imagem da criatura sendo esmagada dentro do caminhão do lixo, junto com todos os outros dejetos orgânicos, se lamentando por não ter tido carisma suficiente para conquistar seu antigo dono ou a boa vontade de um novo. Não tive mais dúvidas. Desci desesperada os três lances de escada, imaginando o tamanho da catástrofe psicológica que eu poderia ter causado – para mim e para ele – e respirei aliviada quando o avistei ainda no térreo, exatamente como estava quando eu o recusei. Pedi mil desculpas pelo meu desdém relâmpago e ele pareceu agradecido porque me abraçou quando eu o levantei do chão.
Subimos juntos e felizes, e eu o apresentei para a sua nova casa. Imaginei que ele gostaria de ficar perto da janela, do sol e que a vista das montanhas ajudaria a superar o trauma do abandono. Mas, criança que é, Cebolinha gosta mesmo é de abanar para as crianças que freqüentam a piscina pública da esquina.





- Tu acha que o Cebolinha gosta de escutar Soko?
- Claro que sim, olha como ele dança bem sincronizado com o ritmo.

8 Comments:

  • At 12:27 PM, Anonymous Anônimo said…

    Pq vc não adota um cão?!

     
  • At 12:48 PM, Blogger Unknown said…

    eu fui lendo e pensando 'meu deus! ela se resusou a desenhar o carneiro!'
    mas não, ainda bem que tu te deixou vencer.

     
  • At 3:03 PM, Blogger RodOgrO said…

    Cara, você está sempre se superando! Fantástico, cheio de suspense e muuuuuito bonitinho! Adorei!

    De alô ao Cebolinha do ruivo doido de Brèsil. Aliás... como se diz "cebolinha" en Français??? ;)

     
  • At 9:50 PM, Blogger Julia Franco Gomes said…

    o falta de pinto!!! kkkkkkkkk acho que andei te influenciando negativamente rsrs calma, voce não vai ficar grávida so pq eu to a fiom, não se desespere não ok bjos mil

     
  • At 10:29 PM, Blogger hires héglan said…

    sehr gut! minha primeira experiência com plantas foi um genocídio! matei todas. agora tenho váááááárias!

    fiquei feliz que tu tenha gostado do ruído rosa. ele tem um irmão (o nugget fashion). vou te linkar e espero que tu apareça mais vezes!!!

     
  • At 9:49 PM, Blogger Unknown said…

    Eu ainda não confio nesta planta.Cebolinha?

     
  • At 3:39 PM, Blogger Unknown said…

    EMBORA O TÍTULO DIGA MUITO, MEU CORAÇÃO QUASE PAROU COM TODO ESTE SUSPENSE...PENSEI QUE FOSSE UM BICHINHO...MAS COMO PLANTINHA "TAMBÉM É GENTE", QUE O CEBOLINHA E SEUS "PAPIS" SEJAM MUITO FELIZES!!!

     
  • At 9:01 PM, Anonymous Anônimo said…

    bah, e ela voltou pra pegar o mato.

     

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