Ma vie en rose

De frente, de lado, de costas. En France.


terça-feira, setembro 28, 2004

Just for you

Clocks (Coldplay)

Lights go out and I can't be saved
Tides that I tried to swim against
You've put me down upon my knees
Oh I beg, I beg and plead (singing)
Come out of things unsaid, shoot an apple of my head (and a)
Trouble that can't be named, tigers waiting to be tamed (singing)
You are, you are

Confusion never stops, closing walls and ticking clocks (gonna)
Come back and take you home, I could not stop, that you now know (singing)
Come out upon my seas, curse missed opportunities (am I)
A part of the cure, or am I part of the disease (singing)

You are
And nothing else compares
Oh no nothing else compares
And nothing else compares

You are [continues in background]
Home, home, where I wanted to go

segunda-feira, setembro 27, 2004

Música para desfiar frango

Fim de semana não é fim de semana sem lasanha. Acordamos de uma noite com overdose de The Cure. Ficamos na cama até às 2h da tarde. Até que o Mateus começasse a chorar de fome. Tá, vamos fazer lasanha então. Desfiando o frango, perguntei se ele queria escutar música. “Ahan, pega um cd bom para desfiar frango”, ele disse. Voltei com Belle and Sebastian, “If You Are Feeling Sinister”. E chegamos à conclusão de que Belle and Sebastian é a trilha mais apropriada para desfiar frango no mundo inteiro.
Muitas situações e épocas da minha vida têm trilha sonora. Para ser sincera, acredito que todas as partes da minha vida têm uma música. E não falo somente de anos, mas de meses, semanas, horas, minutos que mereceram uma trilha.
Com as pessoas, isso não é diferente. Às pessoas mais importantes da minha vida e que marcaram minha quase longa existência (estou nessa de me sentir velha agora) dediquei, ainda que instantaneamente ou involuntariamente, uma banda, um cd ou uma música. Hoje, quando estava indo para o Campus do Vale, fiquei relacionando... (nem precisa dizer que tive miiiiiiiuito tempo para isso. E como aquele Universitária é demorado, pelamordedeus!).
Começando pela minha mãe: Beatles, especialmente a primeira fase deles. Ainda pequena, decorei as letras de Help, Love me Do, I Wanna Hold Your Hand, Yesterday, e por aí vai. Meu irmão: Linkin Park, Limp Bizkit, Blink 182, Green Day (tsc, tsc tudo banda de adolescente, ainda bem que já saí dessa fase), Tarde de Outubro, do CPM 22 (aliás, essa música marcou uma época muito barra pesada da nossa vida). E Engenheiros do Havaí. Quando ele tinha uns oito, nove anos, se chaveava no quarto para escutar. Até hoje não entendi porquê. Mateus: (nossa, muitas bandas, cds e músicas!) Clocks, do Coldplay é a nossa música. Mas A Rush of Blood to the Head é só meu e dele. Tem mais: Radiohead, Tom Bloch, Belle and Sebastian, “Think Tank”, do Blur, Yo La Tengo, Vines, White Stripes. Quando me apaixonei por ele e enlouqueci geral eu ficava cantando para mim mesma: “I just don´t kinow what to do with myself”. Ainda bem que ele soube...
Adelante... Rafabal: “Girls and Boys”, do Blur e The Cure. Aliás, Rafa, devolve o meu cd do The Cure. Mari: CPM 22. O que era a gente naquele show do CPM ali no Araújo Vianna? Nunca me senti tão tia na vida! Vini: musiquinhas anos 80 em geral, mas especialmente Echo and the Bunnymen. Um dia tocou “The Killing Moon” no Ocidente e ele me perguntou o que era. Aí, ficou. Angel: Los Hermanos. Preciso justificar? Além dos cds originais, ela costuma fazer várias cópias dos cds deles. E sempre quando estamos juntas, ela está ouvindo Los Hermanos. Lila, minha madrinha fofa: Led Zeppelin (ela tinha um casaco com aquele famoso anjo: eu achava lin-do), Dire Straits, Men at Work, Cazuza, Lobão (que eu ficava ouvindo na casa dela quando acordava muito cedo e ela e a Paula ainda estavam dormindo). Paula, minha prima importada: Dave Matthews Band. Quando ela veio para o Brasil, não me deixou ouvir mais nada além disso. Ju, minha prima atriz: Gilberto Gil, ficamos ouvindo durante todo o Natal de 2002, apesar dos meus protestos (blergh). Karina: desculpa, Ka, mas a tua trilha é aquela do Roupa Nova que tu, até há quase pouco tempo atrás, cantavas: “Eu perguntava tu e o holandês. E te abraçava tu e o holandês”. E a gente achava que ela só estava querendo ser engraçadinha. E, claro, Janis Joplin, porque ninguém a imita melhor que ela. Sério mesmo. Manu: Counting Crows e Cramberries por causa do verão de 96, Hottie and the Blowfish, pela consciência pesada que me causa os cinco anos sem devolver um cd que ela adora, e Pato Fu (tinha uma época que a Manu só vivia se ouvisse “Made in Japan..tchu tchu tchuru tchururu). Milaine: Zé Ramalho (que eu reclamava um monte) e Marisa Monte, recordando o primeiro vestibular em Floripa quando ficamos uma semana ouvindo Marisa Monte. Rô: me convenceu a gostar um pouquinho, mas só um pouquinho de Oasis (porque quem gosta de Blur não pode gostar de Oasis). Em 97, era só o que ele ouvia. E eu ouvia junto. Carol Andreis: Fat Boy Slim, da época em que moramos juntas, e Belle and Sebastian. Ela também deve lembrar de mim quando ouve Belle and Sebastian...hehe... Tito: Dave Matthews Band (especialmente Crash), Strokes, Collective Soul. Kênyo: Iron Maiden. Nós ouvíamos juntos, num clima muito romântico... Milioli: Placebo: enchi muito o saco o dele uma noite para convencer todo mundo que estava no carro indo pra festa a escutar Placebo. Paulista: Pink Floyd. Gravamos dois documentários de rádio sobre o Pink Floyd. Ele a-ma. Martinha, Denny e Pablito: Beatles. Denise: forrós em geral. Papinto: Rolling Stones. O cara tatuou a boca do Mick Jaegger no braço. Kmelianos em geral: “Here Comes Your Man”, do Pixies, “I Touch Myself”, do Divinals e muito Beatles, por causa do primeiro churrasco da turma 99/2.
Ufa... Claro que não pára por aí... Essa lista vai longe longe... Mas de repente fica para uma outra história, um outro post...
E quem não foi citado, sinta-se beijado...

E assim, chegar e partir

Aqui no Rio Grande do Sul tem daqueles chicletinhos de morango bem azedinhos mas que também são docinhos? Porque esse finde foi assim. Doce e azedo. Muita, mas muita felicidade mesmo pelo Vini ter ido para Londres, fazer coisas legais, conhecer gente legal, estudar – tudo o que um dia pretendo fazer. E azedo, muito azedo por saber que, por um longo ano, ele vai estar longe.
Que coisa mais triste que é despedida! Eu sempre vivi me despedindo das pessoas, de casa, da minha família, dos amigos. De alguns deles, para sempre. Porque é assim: as pessoas esquecem, tu deixas de fazer parte daquele local, daqueles acontecimentos. Até porque, quando tu voltas, as coisas estão diferentes e tu estás diferente. E assim, tudo fica muito mais difícil.
No sábado, quando eu vi o Renato se despedindo da namorada dele, que também estava indo para Londres, me deu um aperto enorme, uma dor, uma dor... Não sei se eu iria suportar. Só de olhar os dois ali abraçados, naqueles últimos segundinhos juntos, eu já me desesperei. Pensei no Mateus. Se às vezes eu já enlouqueço por não vê-lo durante algumas horas, imagina assim, ficar seis meses, um ano longe.
A Angel acha que para quem vai é mais difícil. Eu definitivamente penso o contrário. Quem vai encontra um mundo novo, gente nova, situações novas: tudo diferente. Aí se preenche com todos os aprendizados. Mas quem fica, continua no mesmo lugar, fazendo as mesmas coisas, encontrando as mesmas pessoas, indo nos mesmos lugares. Com um adicional: aquele vazio enorme enoooooooooorme deixado por quem partiu.

sexta-feira, setembro 24, 2004

Encontros e despedidas

Ontem quando vi a Carlinha e a Mari chorando no Revólver deixei a ficha cair. Isso mesmo. Porque nas últimas semanas evitava pensar nisso, transportava meus pensamentos para outro lugar, fazia de conta que não ouvia quando ele dizia "Faltam duas semanas", "É semana que vem", "Estou indo essa semana". Mas é inevitável: o Vini está indo embora.
Vai ficar um ano na Europa. Poxa, um ano. Fico imaginando como vão ser as coisas a partir de sábado, quando eu chegar sour sour sour em casa do aeroporto, sentar na cama, olhar pela janela e pensar: "E agora?".
E agora, quem vai comigo às Balonês? E agora, quem vai passar na minha casa para me buscar? E para me trazer? E agora, para quem eu vou ligar quando eu estiver desesperada, histérica, enlouquecendo e ficar me ouvindo durante horas a fio? Quem vai rir dos meus problemas e dizer "Ah, pára, não esquenta."? Quem rir dos cachinhos do meu cabelo e ficar me enchendo para alisá-lo? Quem vai me xingar de anos 80? Quem vai me contar histórias nojentas? Quem vai caminhar por aí comigo à noite, procurando alguma coisa pra fazer? Quem vai dizer: "Tá, agora deu, chega, Dany", quando eu tiver minhas crises de exagero, de perseguição, de depressão? Quem vai ficar perguntando toda hora sobre a minha monografia e ficar dizendo: "Cuidado, hein, só faltam dois meses", só para me encher o saco? Quem vai me xingando de gorda, só para rir da minha reação? E agora, quem vai ficar perguntando "Por quê?" no final de cada frase que eu falar? E agora?
Poxa, vai ser muito difícil mesmo. E vai ser assim para todo mundo que ele conhece. Porque é unanimidade, não conheço ninguém que não goste do Vini. E daí fico imaginando que amanhã, quando cada pessoa olhar no relógio e vir ou se der conta que já passou das 10h30min, vai pensar: "E agora?".
Na verdade, já entendi tudo. O Vini já conquistou muita gente por aqui. Já fez muitos amigos. Já foi muito legal por aqui. E ele precisa dividir isso. Conquistar outras pessoas, fazer outros amigos e compartilhar tudo isso que ele é com o resto do mundo. É justo. Se todo mundo tiver um pouquinho da companhia, da amizade, do carinho, da lealdade, do amor, enfim, de tudo que compõe o Vini, vai ser muito melhor.

....................................................................

Obrigada pelo cartão, pela tirinha. Eu também te amo muito muito muito, Vini. E te desejo toda a sorte, toda a força, garra, boas energias, muita festa, muita diversão, muita experiência, muitas histórias engraçadas prá contar. Como dessas que a gente viveu por aqui. E quando estiver triste, lembra da Mari sambando, a Pambeleza, Rainha da Bateria da Rede Pampa, e dá umas boas risadas. Quem sabe quando tu voltares, ela já vai estar famosa por sua ginga, sua mulatice, seu jeito único de sambar.

"Todos os dias é um vai-e-vem
A vida se repete na estação
Tem gente que chega pra ficar
Tem gente que vai pra nunca mais
Tem gente que vem e quer voltar
Tem gente que vai e quer ficar
Tem gente que veio só olhar
Tem gente a sorrir e a chorar
E assim, chegar e partir"

(M. Nascimento/F. Brant)

quarta-feira, setembro 22, 2004

I´m not joking

"I was only joking when I said I’d like to smash every tooth in your head"
Hoje vou ter que discordar do Morissey. Me desculpa, amigo. Mas tem dias que eu realmente tenho vontades de esmagar todos os dentes de alguém. E hoje, ah, hoje eu esmagaria não só os dentes, mas todo o corpo dessa pessoa. Sabe aquela cena do "Irreversível" que o cara pega o extintor de incêndio e faz a cabeça de outro cara virar uma folhinha de papel? Bem assim. Só que com as minhas próprias mãozinhas delicadinhas, de dedos finos e de unhas curtas. Hoje faria isso com prazer imenso. Abriria uma champanhe no final.
Estou sour, muito sour, azeda, amarga. E não adianta comer chocolate. Não, não. Não vou nem tentar.
E deixo registrado aqui que estou ficando de saco cheio dessa palhaçada. Como diz minha chefe Lu Thomé: "Chega".
Aviso: agirei. Mas ainda dá tempo de tu ficar na tua. E de parar de invadir minha vida, meu orkut, meu blog. I´m not joking.

terça-feira, setembro 21, 2004

Pressentimentos

Olhei no relógio: 23:30. O Vini ia chegar em pouco tempo, o Mateus uns dez minutos depois, calculei. Desci para abrir o portão, O Vini subiu as escadas falando mal do meu cabelo, perguntando porque eu não tinha alisado, porque isso, porque aquilo. Sentou no sofá amarelo e ficou namorando a Pandora, minha cocker que pensa que é gente.
23:35. Eu não estava me sentindo bem. Impaciente, sem vontade nem de me defender das implicâncias do Vini. " – É porque quando tu alisa o cabelo fica mais tchan, entendeu?". Fui na cozinha, tomei um copo d’água, droga de calor. Nada a ver gripe com calor. Minha pressão estava lá em baixo. Respirei fundo. Voltei pra sala. Peguei o celular na mesinha.
23:38. Minha mãe se divertia vendo a Pandora grunhindo de barriga pra cima no colo do Vini. Muita dor no meu estômago. Mas que droga, até meia hora atrás estava tudo bem. Mais um copinho de água. Sala. Celular.
23:40. Nada. Meia hora é o tempo que a van leva do Sul até meu prédio. Mais uns minutinhos.
23:43. Minha mãe começa a contar a história de um primo meu que trabalha na Itália. Ih, até ela terminar ele já deve estar aí. Me falta o ar. Vou até o quarto, pego o descongestionante nasal power que o Mateus descobriu e me deu de presente. Não estou bem. Definitivamente não estou bem.
23:47. Vou descer e esperar lá em baixo. Minha mãe me pergunta alguma coisa. " – Ahan". Pernas bambas, sento no sofá vermelho. Vou descer. Toca o can-can. " – Oi, Gus, fala". Combinamos o horário. " – Então a gente se encontra lá".
23:51. Tenho que descer. " – Olha só, não sei se o Mateus está com as chaves. Vou descendo para abrir o portão pra ele". Mentira, ele sempre está com as chaves.
Continuo sem ar, meus joelhos parecem que vão se dobrar a cada degrau. Abro a porta. Abro o portão. Olho para um lado, para outro. Entro de volta no prédio. Chaveio o portão e fico cuidando através da grade quem passa. Minha lente de contato fraca não ajuda muito. Passam dois carinhas. O mendigo que manda a gente se fuder quando não se tem moeda para ele me enxerga lá da esquina. Senta. Minhas mãos suam. Olho para cima. Será que tem barata aqui?. Bato uma chave na outra para me distrair. Calma, calma. Agora me deu vontade de chorar. O que eu faço?.
Me encosto no portão. Apóio o rosto na grade. Sopro. O mendigo levanta e vai embora. Um menino pára na frente do portão. " – Tem seda?". "– Poxa, foi mal cara, não tenho não". "– Ah, tá. Valeu". Interfono. O Vini atende. " – Liga pra Mari e pergunta se o Mateus já saiu da redação, por favor". Não sei mais que horas são. Mas definitivamente aconteceu alguma coisa. Penso que se ele esqueceu de me avisar de vinha na van das 12:20, eu vou pedir vários cravinhos das costas dele em troca. Mas se ele chegar agora não peço nada, juro, juro, juro. Barulho de van. Um carro dobra a rua. Uma menina grita dentro do carro. Tá, agora sim é barulho de van. O carinha buzina. " – Ô Dany, a Mari disse que ele foi na van das onze". Agradeço. Hum, de repente o movimento da Lima e Silva. Lembro da vez que tiveram que levar um cara lá no Cristal e a van demorou uma hora para chegar no Shamrock. Esse dia era aniversário do Mateus. Não deixaram a gente entrar porque já estavam fechando o pub. O pessoal que estava lá dentro ficou puto. E o Mateus não pode entrar no aniversário dele.
Ai, ai, quero chorar. Penso em um milhão de coisas. Resolvo ir ao encontro dele. Mas a gente pode se desencontrar. Abro o portão. Olho. Nada. Fecho o portão. Sopro, sopro de nervosa, de impaciente, de medo.
Opa, conheço aquela camiseta verde. " – Teus!". Rosto suado, o olhar transtornado, lábios contraídos. Abro rapidamente o portão. " – O que foi? Me fala!". " – Tentaram me assaltar. Os caras me cercaram, me bateram". Abraço ele com força. " – Eu sabia, eu sabia". E ficamos ali, abraçados até que eu conseguisse absorver parte do susto e da revolta dele. Assim, eu ficava um pouco aliviada. Assim passou minha falta de ar, meu enjôo, minha tontura.
.........................................

Eu pressinto algumas coisas desde pequena. Impressionante. Eu dizia: vai acontecer. E acontecia. Às vezes coisas boas, às vezes, ruins. Às vezes sweet, outras sour. Tipo quando a minha madrinha foi embora para os Estados Unidos de surpresa, sem ninguém imaginar e eu estava na frente de casa, esperando. Tipo quando o telefone tocava e eu atendia dizendo "Oi, Kênyo". E era ele. Ou quando eu estava na casa de alguém, tocava o telefone e antes de alguém atender eu dizia: "É a minha mãe". Às vezes nem eu sabia que ela tinha o telefone da casa da pessoa. Tipo quando eu estava fazendo vestibular na Ufrgs, totalmente nada a ver com o da Ufsc, pra qual eu tinha me preparado o ano inteiro. Eu sabia quase nada de história, geografia e literatura gaúcha. E estava passando a redação para a ficha quando pensei "Cara, vou passar nessa droga". Tipo quando eu olhei a lista da segunda chamada e li o nome Rafael Salbego Balsemão e pensei: "Esse cara vai ser meu amigo". Tipo quando eu já morava na casa da Carol e tive uma crise de choro que eu não conseguia parar. Ligava pra Tubarão, o telefone chamava e ninguém atendia. E aí minha mãe me ligou dizendo que ela e o meu irmão tinham saído de casa e que ela ia se separar do meu pai. Tipo quando o Tito quis estacionar o carro no meio-fio entre as duas vias da avenida Atlântica para tomar açaí no barzinho do outro lado da rua e eu disse: "Não vai dar certo". E quando voltamos o carro nem ligava mais. Tipo quando eu olhei pela primeira vez o Mateus no Orfanatrófio, sentado lá no fundo e eu pensei: "É esse menino". Tipo quando meu irmão pisou pela primeira vez neste apartamento para morarmos juntos, eu ele e a minha mãe, e eu pensei: "Ele não vai ficar". Tipo quando eu cheguei na Casa de Cultura, a Lu me entrevistou e eu perguntei: "Quando eu começo?", com a maior certeza do mundo que eu ia trabalhar ali.
Na segunda-feira tive uma crise de insônia. E alguma coisa me alertava e me dizia e me chamava e eu não podia dormir. Aí levantei. E descobri o que eu já sabia. Quando eu contei pra Mari ela se impressionou. Eu pressenti tudo. Só que dessa vez não fiquei só observando e tracei um pedacinho do destino. E dessa vez, foi sweet.

Back to seven

Como eu já comentei no post anterior, uma gripe me derrubou essa semana. Aliás, uma puta gripe, que ativou minha rinite, que ativou minha sinusite que ativou minha faringite e por aí vai. Fiquei dias sem respirar pelo nariz, com dores no corpo, cabeça latejando. Detonei muitas cartelinhas de remédio e remédios de todos os tipos, tamanhos e cores: antigripais, anti-histamínicos, anti-térmicos. Minha mãe preparou um número infinito de chás de limão com mel, limão com alho, orégano com hortelã, laranja com algumas substâncias que, na dúvida, preferi nem tentar identificar. Ah, claro, e a famosa colher de mel com café preto e margarina. Iguarias deliciosas, saborosas, originárias da imaginação e criatividade materna, com o sabor que meu pai definiria como “gosto da aspa do diabo” e que induziram meu estômago a não aceitar muitas das refeições. E, acreditem, recusei até chocolate – fato que não lembro que tenha se sucedido em nenhum momento da minha existência, desde, claro, que eu comecei a perceber que existia.
Mas, tem aquela história de que tudo tem seu lado bom e seu lado ruim. E toda a maratona gripal e anti-gripal desta última semana me renderam uma adorável situação, talvez uma boa história.
Na quinta-feira de madrugada acordei com a minha mãe tocando meu rosto para medir a temperatura. Quando abri os olhos, percebi que ela estava com aquela expressão típica, mista de preocupação e pena. Colocou a mão no meu pescoço, segurou minhas mãos, tocou os meus pés. “Estás com febre”.
Essa cena me fez retornar aos tempos mais remotos da minha infância e da minha adolescência, quando essa situação se repetia sempre que eu estava doente, me machucava, comia demais e depois passava a noite enjoada ou quando qualquer anormalidade no meu dia ou no meu comportamento era detectado pela minha mãe. Às vezes eu acordava brava, achando um pé no saco me tirar alguns minutos de sono porque ELA estava preocupada. “Ô mãe, dá um tempo”.
Grande parte desse cuidado excessivo se perdeu no tempo, ou porque eu já havia crescido ou porque há cinco anos deixei Tubarão e vim morar em Porto Alegre. Aparentemente, essa preocupação havia diminuído muito. E nesta última quinta-feira, eu ali na cama já estava me levantando e ia dizer para ela voltar a dormir, que eu ia levantar e tomar um anti-térmico, que não se importasse, que era só uma febre boba, reação do corpo. Mas, diante de todas as lembranças, me veio uma sensação muito boa, de proteção, de carinho, de cuidado, que me fez sentir importante. Então resolvi ficar ali, “bem quietinha”, como ela mesma me sugeriu. E fiquei pensando que, nesse mundo cruel, competitivo e individualista, alguém ainda se preocupa muito comigo e me quer bem.

sábado, setembro 18, 2004

E no início...

Pelo menos uns dois dias da semana eu volto da Casa de Cultura conversando com o Nando. Subindo a Andradas, vamos os dois tagarelando – típico de dois tímidos juntos.
Esses dias ele comentou "Bah, Dany, tu é cheia de histórias". E sempre fica uma pela metade quando, na esquina com a Borges, ele vai para um lado e eu para outro. "Deixa essa pra amanhã". Só que no outro dia sempre surge uma nova história. E uma sempre fica pela metade...
Essa semana não dormi quase nada. Primeiro porque um turbilhão de acontecimentos surraram meu coraçãozinho pisciano. Depois porque peguei uma gripe que me derrubou. Na quinta-feira acordei de madrugada com minha mãe medindo minha febre. Chazinho, anti-térmico, anti-histamínico, anti-gripal. Enquanto a febre não baixava, meu cérebro funcionava a milhões (conseqüência da mistura de substâncias, talvez). Então apareceu um blog e eu comecei a escrever uma história. Só porque os pensamentos iam e viam em uma velocidade impressionante e eu não conseguia organizar uma só historinha no meu blog cerebral. Começava uma no meio da outra e no meio desta outra já tinham outras muitas... O mais engraçado é que dentro dos meus próprios pensamentos existiam outros pensamentos. "Isso vai ter que ser entre parênteses", eu pensava.
O resultado dessas conversas com o Nando, com as várias noites sem dormir (devido a preocupações, dores no corpo, no coração e de cotovelo), misturado às minhas alucinações, é o Sweetness. Acredito que tenho muita coisa para contar, doçuras e amarguras para dividir e sentimentos, muitos sentimentos para compartilhar.
E aqui começa uma nova história...