Ma vie en rose

De frente, de lado, de costas. En France.


terça-feira, setembro 21, 2004

Pressentimentos

Olhei no relógio: 23:30. O Vini ia chegar em pouco tempo, o Mateus uns dez minutos depois, calculei. Desci para abrir o portão, O Vini subiu as escadas falando mal do meu cabelo, perguntando porque eu não tinha alisado, porque isso, porque aquilo. Sentou no sofá amarelo e ficou namorando a Pandora, minha cocker que pensa que é gente.
23:35. Eu não estava me sentindo bem. Impaciente, sem vontade nem de me defender das implicâncias do Vini. " – É porque quando tu alisa o cabelo fica mais tchan, entendeu?". Fui na cozinha, tomei um copo d’água, droga de calor. Nada a ver gripe com calor. Minha pressão estava lá em baixo. Respirei fundo. Voltei pra sala. Peguei o celular na mesinha.
23:38. Minha mãe se divertia vendo a Pandora grunhindo de barriga pra cima no colo do Vini. Muita dor no meu estômago. Mas que droga, até meia hora atrás estava tudo bem. Mais um copinho de água. Sala. Celular.
23:40. Nada. Meia hora é o tempo que a van leva do Sul até meu prédio. Mais uns minutinhos.
23:43. Minha mãe começa a contar a história de um primo meu que trabalha na Itália. Ih, até ela terminar ele já deve estar aí. Me falta o ar. Vou até o quarto, pego o descongestionante nasal power que o Mateus descobriu e me deu de presente. Não estou bem. Definitivamente não estou bem.
23:47. Vou descer e esperar lá em baixo. Minha mãe me pergunta alguma coisa. " – Ahan". Pernas bambas, sento no sofá vermelho. Vou descer. Toca o can-can. " – Oi, Gus, fala". Combinamos o horário. " – Então a gente se encontra lá".
23:51. Tenho que descer. " – Olha só, não sei se o Mateus está com as chaves. Vou descendo para abrir o portão pra ele". Mentira, ele sempre está com as chaves.
Continuo sem ar, meus joelhos parecem que vão se dobrar a cada degrau. Abro a porta. Abro o portão. Olho para um lado, para outro. Entro de volta no prédio. Chaveio o portão e fico cuidando através da grade quem passa. Minha lente de contato fraca não ajuda muito. Passam dois carinhas. O mendigo que manda a gente se fuder quando não se tem moeda para ele me enxerga lá da esquina. Senta. Minhas mãos suam. Olho para cima. Será que tem barata aqui?. Bato uma chave na outra para me distrair. Calma, calma. Agora me deu vontade de chorar. O que eu faço?.
Me encosto no portão. Apóio o rosto na grade. Sopro. O mendigo levanta e vai embora. Um menino pára na frente do portão. " – Tem seda?". "– Poxa, foi mal cara, não tenho não". "– Ah, tá. Valeu". Interfono. O Vini atende. " – Liga pra Mari e pergunta se o Mateus já saiu da redação, por favor". Não sei mais que horas são. Mas definitivamente aconteceu alguma coisa. Penso que se ele esqueceu de me avisar de vinha na van das 12:20, eu vou pedir vários cravinhos das costas dele em troca. Mas se ele chegar agora não peço nada, juro, juro, juro. Barulho de van. Um carro dobra a rua. Uma menina grita dentro do carro. Tá, agora sim é barulho de van. O carinha buzina. " – Ô Dany, a Mari disse que ele foi na van das onze". Agradeço. Hum, de repente o movimento da Lima e Silva. Lembro da vez que tiveram que levar um cara lá no Cristal e a van demorou uma hora para chegar no Shamrock. Esse dia era aniversário do Mateus. Não deixaram a gente entrar porque já estavam fechando o pub. O pessoal que estava lá dentro ficou puto. E o Mateus não pode entrar no aniversário dele.
Ai, ai, quero chorar. Penso em um milhão de coisas. Resolvo ir ao encontro dele. Mas a gente pode se desencontrar. Abro o portão. Olho. Nada. Fecho o portão. Sopro, sopro de nervosa, de impaciente, de medo.
Opa, conheço aquela camiseta verde. " – Teus!". Rosto suado, o olhar transtornado, lábios contraídos. Abro rapidamente o portão. " – O que foi? Me fala!". " – Tentaram me assaltar. Os caras me cercaram, me bateram". Abraço ele com força. " – Eu sabia, eu sabia". E ficamos ali, abraçados até que eu conseguisse absorver parte do susto e da revolta dele. Assim, eu ficava um pouco aliviada. Assim passou minha falta de ar, meu enjôo, minha tontura.
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Eu pressinto algumas coisas desde pequena. Impressionante. Eu dizia: vai acontecer. E acontecia. Às vezes coisas boas, às vezes, ruins. Às vezes sweet, outras sour. Tipo quando a minha madrinha foi embora para os Estados Unidos de surpresa, sem ninguém imaginar e eu estava na frente de casa, esperando. Tipo quando o telefone tocava e eu atendia dizendo "Oi, Kênyo". E era ele. Ou quando eu estava na casa de alguém, tocava o telefone e antes de alguém atender eu dizia: "É a minha mãe". Às vezes nem eu sabia que ela tinha o telefone da casa da pessoa. Tipo quando eu estava fazendo vestibular na Ufrgs, totalmente nada a ver com o da Ufsc, pra qual eu tinha me preparado o ano inteiro. Eu sabia quase nada de história, geografia e literatura gaúcha. E estava passando a redação para a ficha quando pensei "Cara, vou passar nessa droga". Tipo quando eu olhei a lista da segunda chamada e li o nome Rafael Salbego Balsemão e pensei: "Esse cara vai ser meu amigo". Tipo quando eu já morava na casa da Carol e tive uma crise de choro que eu não conseguia parar. Ligava pra Tubarão, o telefone chamava e ninguém atendia. E aí minha mãe me ligou dizendo que ela e o meu irmão tinham saído de casa e que ela ia se separar do meu pai. Tipo quando o Tito quis estacionar o carro no meio-fio entre as duas vias da avenida Atlântica para tomar açaí no barzinho do outro lado da rua e eu disse: "Não vai dar certo". E quando voltamos o carro nem ligava mais. Tipo quando eu olhei pela primeira vez o Mateus no Orfanatrófio, sentado lá no fundo e eu pensei: "É esse menino". Tipo quando meu irmão pisou pela primeira vez neste apartamento para morarmos juntos, eu ele e a minha mãe, e eu pensei: "Ele não vai ficar". Tipo quando eu cheguei na Casa de Cultura, a Lu me entrevistou e eu perguntei: "Quando eu começo?", com a maior certeza do mundo que eu ia trabalhar ali.
Na segunda-feira tive uma crise de insônia. E alguma coisa me alertava e me dizia e me chamava e eu não podia dormir. Aí levantei. E descobri o que eu já sabia. Quando eu contei pra Mari ela se impressionou. Eu pressenti tudo. Só que dessa vez não fiquei só observando e tracei um pedacinho do destino. E dessa vez, foi sweet.

4 Comments:

  • At 1:46 PM, Anonymous Anônimo said…

    wshuishfuig
    dany

     
  • At 2:14 PM, Anonymous Anônimo said…

    Sweet as you have always been, sour as you always try to make life seem. Vou com certeza ser leitor assíduo do teu blog, morena - no mínimo. Te devo uma ligação. Espero que vc já tenha "pressentido" quem é!! rs ;) Beijos muitos,

    Your (not so) secret admiror.

     
  • At 6:16 PM, Anonymous Anônimo said…

    Dany! Bonita percepção das coisas...

    Um comentariozinho: foi na praia de Botafogo, e pior ia ter sido levar multa :P

    T.

     
  • At 9:40 PM, Blogger Dany Darko said…

    Não lembra no primeiro dia de aula, quando eu cheguei prá ti e te perguntei se eras tu o Rafael Balsemão? Tsc, tsc, memória fraca hein... Isso foi a... cinco anos atrás...

     

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