Ma vie en rose

De frente, de lado, de costas. En France.


terça-feira, setembro 21, 2004

Back to seven

Como eu já comentei no post anterior, uma gripe me derrubou essa semana. Aliás, uma puta gripe, que ativou minha rinite, que ativou minha sinusite que ativou minha faringite e por aí vai. Fiquei dias sem respirar pelo nariz, com dores no corpo, cabeça latejando. Detonei muitas cartelinhas de remédio e remédios de todos os tipos, tamanhos e cores: antigripais, anti-histamínicos, anti-térmicos. Minha mãe preparou um número infinito de chás de limão com mel, limão com alho, orégano com hortelã, laranja com algumas substâncias que, na dúvida, preferi nem tentar identificar. Ah, claro, e a famosa colher de mel com café preto e margarina. Iguarias deliciosas, saborosas, originárias da imaginação e criatividade materna, com o sabor que meu pai definiria como “gosto da aspa do diabo” e que induziram meu estômago a não aceitar muitas das refeições. E, acreditem, recusei até chocolate – fato que não lembro que tenha se sucedido em nenhum momento da minha existência, desde, claro, que eu comecei a perceber que existia.
Mas, tem aquela história de que tudo tem seu lado bom e seu lado ruim. E toda a maratona gripal e anti-gripal desta última semana me renderam uma adorável situação, talvez uma boa história.
Na quinta-feira de madrugada acordei com a minha mãe tocando meu rosto para medir a temperatura. Quando abri os olhos, percebi que ela estava com aquela expressão típica, mista de preocupação e pena. Colocou a mão no meu pescoço, segurou minhas mãos, tocou os meus pés. “Estás com febre”.
Essa cena me fez retornar aos tempos mais remotos da minha infância e da minha adolescência, quando essa situação se repetia sempre que eu estava doente, me machucava, comia demais e depois passava a noite enjoada ou quando qualquer anormalidade no meu dia ou no meu comportamento era detectado pela minha mãe. Às vezes eu acordava brava, achando um pé no saco me tirar alguns minutos de sono porque ELA estava preocupada. “Ô mãe, dá um tempo”.
Grande parte desse cuidado excessivo se perdeu no tempo, ou porque eu já havia crescido ou porque há cinco anos deixei Tubarão e vim morar em Porto Alegre. Aparentemente, essa preocupação havia diminuído muito. E nesta última quinta-feira, eu ali na cama já estava me levantando e ia dizer para ela voltar a dormir, que eu ia levantar e tomar um anti-térmico, que não se importasse, que era só uma febre boba, reação do corpo. Mas, diante de todas as lembranças, me veio uma sensação muito boa, de proteção, de carinho, de cuidado, que me fez sentir importante. Então resolvi ficar ali, “bem quietinha”, como ela mesma me sugeriu. E fiquei pensando que, nesse mundo cruel, competitivo e individualista, alguém ainda se preocupa muito comigo e me quer bem.