Ma vie en rose

De frente, de lado, de costas. En France.


quarta-feira, fevereiro 22, 2006

23

As entradas do meu rosto
E os meus cabelos brancos
Aparecem a cada ano
No final do mês de Agosto

Há vinte anos você nasceu
Ainda guardo um retrato antigo
Mas agora que você cresceu
Não se parece nada comigo

Esse seu ar de tristeza
Alimenta a minha dor
Tua pose de princesa
De onde você tirou

Amanhã é 23
São 8 dias para o fim do mês
Faz tanto tempo que eu não te vejo
Queria o seu beijo outra vez

(Amanhã é 23 - George Israel/Paula Toller)

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Todo ano é a mesma coisa, esse inferno de aniversário. No primeiro, tive queimaduras de terceiro grau, no segundo quebrei o nariz, no terceiro... Amanhã é a missa de sétimo dia de falecimento do meu pai. Sabe aquela impressão de que alguém está se divertindo as suas custas? Agora entendo porque aquela vontade enorme de me esconder quando me cantavam "parabéns pra você"...

terça-feira, fevereiro 21, 2006

declaração

Meu pai veio de uma família estranha e teve uma criação e uma educação rígidas, onde qualquer tipo de demonstração de amor e carinho parecia sempre estar proibido. Como não sabia ser diferente daquilo que lhe havia sido ensinado, cresceu e viveu escondendo seus sentimentos. Ele não sabia abraçar, beijar, dizer palavras ternas, e quando tinha necessidade de mostrar que se importava conosco, comprava algum presente ou nos dava dinheiro. Além disso, tinha uma dificuldade enorme de receber carinho, se enrijecia frente a qualquer elogio, morria de vergonha de ser presenteado, de ser afagado, se transformava facilmente em uma montanha de gelo quando isso acontecia.

Em uma madrugada do ano passado, quando eu estava me preparando para dormir, ele me ligou e tratou logo de espantar minha aflição diante daquela situação inusitada, queria mesmo “só conversar”. Dificilmente meu pai me telefonava, geralmente falava comigo quando a iniciativa partia de minha mãe. Mas, naquela noite, ele estava cheio de assuntos, por mais de uma hora me contou várias histórias e chegou a me consolar quando eu disse que estava cansada de toda aquela dura rotina de trabalho não reconhecida. “Fica fria que as coisas vão melhorar”, ele me disse, todo tímido.

Quando nos despedimos, senti que aquela era a oportunidade para dizer o que sempre senti por ele, mas que jamais havia me arriscado a falar. Então juntei toda a minha coragem, morrendo de receio de como ele receberia a declaração. “Pai, eu te amo”. E se passaram longos segundos até que todo o gelo daquela enorme montanha se derretesse... Com a voz embargada, ele respondeu: “Mana, eu também te amo”.

A partir desse dia, antes de terminar as ligações, ele sempre tinha a iniciativa de dizer que me amava (nossas conversas também passaram a ser mais freqüentes). Cheguei muitas vezes a suspeitar que ele me telefonava esperando só pelo momento da despedida.

segunda-feira, fevereiro 20, 2006

Canção pra você

Nunca pensei um dia chegar
E te ouvir dizer
Não é por mal
Mas vou te fazer chorar
Hoje vou te fazer chorar

Não tenho muito tempo
Tenho medo de ser um só
Tenho medo de ser só um
Alguém pra se lembrar

Faz um tempo eu quis
Fazer uma canção
Pra você viver mais
Faz um tempo que eu quis
Fazer uma canção
Pra você viver mais

Deixei que tudo desaparecesse
E perto do fim
Não pude mais encontrar
O amor ainda estava lá
O amor ainda estava lá

Faz um tempo eu quis
Fazer uma canção
Pra você viver mais
Faz um tempo eu quis
Fazer uma canção
Pra você viver mais

(Canção Pra Você Viver Mais - Pato Fu)

quarta-feira, fevereiro 15, 2006

Despedidas no Gravatá

Posted by Picasa

Foto: Mateus Bruxel

A beleza da praia do Gravatá sempre contrastou com um profundo clima de melancolia desde que a conheci, em 1990. Não estava habituada a praias desertas, e aquele poderia ser o dia mais feliz de toda a minha curta vida, não fosse a implícita despedida de uma das pessoas mais importantes que conheço. Foi em um dia quente de fevereiro que minha madrinha, um dos maiores ícones da minha infância, ao lado de tantos outros pueris, me disse estar indo embora.
Voltei ao local na adolescência, com um namorado quase ex-namorado, e depois com amigos, em um fim de férias, próximo à volta aos estudos e à vida fabicana em Porto Alegre. E, ainda que a praia me parecesse menor desde a primeira vez que a visitei, o clima de adeus era permanente.
Nesse fevereiro, falei para o Mateus que queria levá-lo à praia do Gravatá. Assim, atravessamos a bote o canal de Laguna, subimos e descemos dunas e morros por mais de meia hora até chegarmos ao nosso destino. Tomamos banho de mar e ficamos nos espichando ao sol até que ele se cansou do meu silêncio e foi fotografar. Continuei estendida na areia, absorta em pensamentos, satisfeita com o único dia de férias em quatro anos, de muito sol, de água calma e limpa, de areia branca, longe de todos os problemas que eu fingia me abster só por aquela tarde.
Felicidade verdadeira e momentânea, como sempre prego, como poucos concordam. De súbito, foi crescendo uma saudade daquele momento presente só de pensar que, em poucas horas, aquilo já seria parte do passado, da minha história. E junto se agregou uma certeza de que é tudo passageiro. De nada adianta lutar contra o tempo porque ele sempre leva tudo e deixa só saudade, que é felicidade mentirosa, tristeza fantasiada.

Novamente, mais um dia de despedida, na praia do Gravatá, em um fevereiro quente: não seriam esses partes dos eternos círculos da Macondo de García Márquez?

Mas eu sei que nada será igual quando ele se for.

sexta-feira, fevereiro 10, 2006

Blog do Chewbacca

Vou pedir licença para a Lu "50 Kg" Thomé para também indicar o blog http://rrrrrrrrrrrrrnnnnnnnnnnhhhh.blogspot.com/ . Até porque quero compartilhar com vocês a única risada dessa semana. E ter a aliviante certeza de que não sou só eu que me dedico a coisas inúteis e sem sentido...

quinta-feira, fevereiro 09, 2006

E o troféu vergonha pela pessoa vai para...

Nos poucos minutos que a minha paciência permitiu agüentar a apresentação do Grammy, ontem à noite, cheguei à conclusão que o SBT tem uma preferência irrefutável por moçoilas de pouca atividade cerebral para comentar eventos como esse. Já não bastasse Analice ex-Casa dos Artistas levando Rubens Ewald Filho ao desespero devido ao rol de besteiras proferidas durante a transmissão do Globo de Ouro, Adriane Galisteu resolveu seguir o exemplo da colega e disparar absurdos que eu reuni em itens, por ordem crescente de nulidade intelectual:

6- “Esse nariz do Bono [Vox] está estranho. Isso me parece plástica...”
O comentário, feito logo após o U2 ganhar o prêmio de melhor banda pop/rock, deve ter abalado o mercado comercial de todo o mundo...

5- “O problema da Mariah Carey é que ela usa roupas muito claras que realçam sua má forma física”
É realmente um grande problema, especialmente para gente como Galisteu, que vive só da aparência da carcaça...

4- “O Stevie Wonder já concorreu tantas vezes ao Grammy que não deveria nem estar aqui hoje”
Hummmm... nem eu entendi. Ainda bem que ela não resolveu explicar o porquê.

3- “Vocês acreditam que o Grammy premia quesitos como o melhor encarte de CD? Aqui no Brasil ninguém se importa com isso, não...”
Talvez ela se importasse... se soubesse ler.

2- “Franz Ferdinand é uma banda francesa”
Boa tentativa. Se ela continuasse chutando, quanto tempo levaria até dizer: escocesa?

1- “Não sei por que o Eminem tem essa imagem de mau garoto. Imagina só, boa-praça, super bem-casado...”
Um doce de pessoa! Só matou a mãe dele em um vídeo, mas o que isso quer dizer, não é?

Troféu vergonha pela pessoa para ela e troféu pena da pessoa para o pobre do João Marcelo Bôscoli que se via obrigado a corrigir as barbaridades da loira, um zero à esquerda em conhecimentos musicais, e cuja única preocupação era comentar forma física e a vestimenta dos concorrentes.

Infelizmente, tia Galisteu se esforçou, mas não conseguiu superar a apresentação do Globo de Ouro. Analice levou xingões ao vivo de Ewald Filho (“Menina, como é que vou saber quem vai ganhar o prêmio de melhor filme? Você quer que eu diga que vai ser o Brokeback Mountain e acabe com a audiência que espera que O Jardineiro Fiel ganhe?).

Para fechar com chave de ouro, deixou sua grande declaração para o final. Quando Ewald reclamava a falta do longa “King Kong” entre os concorrentes, minha conterrânea (sim, ela é catarinense) franziu a testa, levou o dedo indicador ao queixo, fez aquela carinha de apresentadora inteligente e disse: “Mas quem sabe ‘King Kong’ não volta no próximo Globo de Ouro, não é Rubens?”.

“Vão ler, mulheres!”
(Lygia Fagundes Telles, em entrevista à revista TPM de dezembro, em um apelo por um mundo menos fútil)

quarta-feira, fevereiro 01, 2006

Chega de choro

A pior sensação/situação do mundo, para mim, sempre foi a de ver minha mãe chorar. Ela, que é o símbolo de todo o esforço, dedicação e personalidade, acaba com qualquer tipo de defesa ou segurança minha quando está triste. Mas, no final de semana, tive o pior sentimento de todos os tempos ao ver meu pai chorando. Sempre tive uma relação complicada com meu pai: nunca tivemos muita afinidade um com o outro e já chegamos a ficar três anos sem trocar uma única palavra. Mas vejo que a gente vai crescendo, amadurecendo e, talvez, se tornando mais tolerante. Isso me levou a perceber, por exemplo, que sou extremamente parecida com ele.

No último sábado, quando chegamos ao hospital onde meu pai está internado, ele não conseguia falar direito, tinha os olhos marejados, e só depois de muitas tentativas conseguiu explicar o que tinha acontecido. Um residente idiota que havia passado pelo quarto teve a sensibilidade de comunicar, mesmo sem nenhum exame prévio, que meu pai tem, no máximo, dois meses de vida. Sinceramente, não me importei muito com o diagnóstico infundado, porque uma das minhas melhores amigas é recém-formada em Medicina e, nos últimos anos, ela já me conseguiu um câncer de útero, uma hepatite, uma anemia e um tumor na cabeça – este último na véspera da virada do ano. O que realmente me abalou foi ver meu pai chorando, situação tão inédita quanto inimaginável até então. Ele sempre foi aquele tipão que ouve muito sem nada responder, que esconde seus sentimentos, se finge de muralha, faz de conta que nada o atinge: até parece quem?

Naquele momento, me senti totalmente sem base, sem chão, sem referência, como se eu estivesse sozinha dali para adiante e nada, nem ninguém, me restasse. Lembrei de umas poucas vezes que admiti sentir falta do meu pai, aos quatro anos de idade, quando ele tinha viajado para um congresso em Joinville, e teve que voltar no meio da madrugada para casa de tanto que eu gritava e me esperneava de saudades dele.

Há quase sete anos eu nem moro mais em casa, venho mesmo só para visitar a família e as amigas, mas eu sinceramente preciso desesperada e urgentemente que ele volte. Talvez pela ilusão que dessa forma todos os problemas estarão resolvidos. Espero que ele não demore muito.