Despedidas no Gravatá
Foto: Mateus Bruxel
A beleza da praia do Gravatá sempre contrastou com um profundo clima de melancolia desde que a conheci, em 1990. Não estava habituada a praias desertas, e aquele poderia ser o dia mais feliz de toda a minha curta vida, não fosse a implícita despedida de uma das pessoas mais importantes que conheço. Foi em um dia quente de fevereiro que minha madrinha, um dos maiores ícones da minha infância, ao lado de tantos outros pueris, me disse estar indo embora.
Voltei ao local na adolescência, com um namorado quase ex-namorado, e depois com amigos, em um fim de férias, próximo à volta aos estudos e à vida fabicana em Porto Alegre. E, ainda que a praia me parecesse menor desde a primeira vez que a visitei, o clima de adeus era permanente.
Nesse fevereiro, falei para o Mateus que queria levá-lo à praia do Gravatá. Assim, atravessamos a bote o canal de Laguna, subimos e descemos dunas e morros por mais de meia hora até chegarmos ao nosso destino. Tomamos banho de mar e ficamos nos espichando ao sol até que ele se cansou do meu silêncio e foi fotografar. Continuei estendida na areia, absorta em pensamentos, satisfeita com o único dia de férias em quatro anos, de muito sol, de água calma e limpa, de areia branca, longe de todos os problemas que eu fingia me abster só por aquela tarde.
Felicidade verdadeira e momentânea, como sempre prego, como poucos concordam. De súbito, foi crescendo uma saudade daquele momento presente só de pensar que, em poucas horas, aquilo já seria parte do passado, da minha história. E junto se agregou uma certeza de que é tudo passageiro. De nada adianta lutar contra o tempo porque ele sempre leva tudo e deixa só saudade, que é felicidade mentirosa, tristeza fantasiada.
Novamente, mais um dia de despedida, na praia do Gravatá, em um fevereiro quente: não seriam esses partes dos eternos círculos da Macondo de García Márquez?
Mas eu sei que nada será igual quando ele se for.
1 Comments:
At 11:15 AM, RodOgrO said…
Impermanência... é realmente a parte mais difícil. O melhor caminho é trabalhar internamente a questão do desprendimento.
Nossa, como ficou sério meu comentário! Pra não perder o costume: "Tudo é passageiro. Menos cobrador e motorista!" Agora sim. ;)
Beijão!
PS: lendo seus textos realmente bate uma depreção de ter colocado um post sobre BBB... mas eu não assisto não! Só acompanho as novidades pra saber como tá o Rafa!
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