Da dificuldade das cousas
- Quel est votre nom?
- Franco.
Quinze minutos depois...
- E votre prénom?
- Zzzzzzzzzzzz... pardon?
Calma, galera, não tenho nada grave. Tudo o que eu precisava era de receita de anticoncepcionais. Porque o processo aqui é mais zzzzzzzzz... lento, né. Não posso comprar contraceptivos nas farmácias sem receita médica. Então, eu devo marcar uma consulta com uma enfermeira perita em agrupamento familiar (medo) que vai me dar todas as informações sobre anticoncepcionais, métodos de prevenção de gravidez, como funciona meu corpitcho e... zzzzzz... vai querer saber meus planos de procriação e... zzzzzzzz... de novo.
Depois, disso, a enfermeira vai marcar uma consulta com a ginecologista, que vai repetir todo o procedimento que ela fez e conferir as informações de sua colega. Vai fazer um histórico da minha vida sexual, perguntar se eu tenho Aids, perguntar se eu estou grávida, quanto tempo faz que eu não consulto o ginecologista, o nome do meu bicho de estimação, meu sabor de sorvete preferido na Häagen Dazs e se a vida é bela, e, não vai me examinar. Vai marcar uma próxima consulta.
O terceiro retorno (pensei que retorno fosse só a segunda vez, mas não) foi hoje. Como as consultas têm um intervalo de um mês e meio, é claro que a criatura não lembrava de mim e que ela tinha pedido exames de glicemia, triglicerídio, colesterol e o diabo a quatro. Recordei a tiazinha de tudo o que ela tinha pedido e que eu estava ali, pela terceira vez, porque eu precisava dos anticoncepcionais. Afinal, como eu falei na consulta com a enfermeira, não quero ter filhotinhos. E ela nem deu bola, só me disse: «Depois do exame eu passo a receita do contraceptivo». Tá difícil, né. Quase abri um pacotinho de Nissin Miojo. E ela voltou a olhar a tela do laptop e a digitar uma tese, pela demora. Meia hora depois:
- Mademoiselle Frrranco?
- Zzzzzzzz... pardon?
- Você pode tirar a sua roupa para o exame.
E, como eu mesma já havia relatado, a gente se despe na frente do médico, sem direito à salinha privativa ou uma batinha para se cobrir. Enquanto isso, a doutora ficava me olhando com cara de «ai que demora». Nem liguei, aprendi a ser blasé aqui mesmo.
- Está tudo bem – ela me garante, depois do exame, mas eu não ouvi porque estava dormindo.
Enquanto eu me vestia, ela fez mais outras perguntas essenciais:
- Mademoiselle Frrranco, você sabe o que é a rubéola?
- Claro! Foi a doença que mamãe teve durante minha gravidez e que me deixou assim retardada.
- E hepatite B?
- De onde você acha que vem esse meus charmosos olhinhos amarelos?
E me receitou vacinas para ambas as doenças, mas, adivinhem, não me passou a porcaria das receitas dos anticoncepcionais para um ano, como é o procedimento normal. Pediu para eu voltar daqui há três meses. E para eu não engravidar nesse período por conta da vacina contra rubéola. Enquanto isso, eu sigo invariavelmente elaborando minhas teorias contra a procriação humana e pensando num plano para traficar anticoncepcionais...