Ma vie en rose

De frente, de lado, de costas. En France.


sexta-feira, janeiro 30, 2009

Da dificuldade das cousas

Depois de três consultas na ginecologista, hoje, ela resolveu desgrudar os olhos da tela do computador e me examinar, finalmente. Até então, o máximo de contato com a doutora acontecia quando ela levantava as pupilas por cima de seu laptop se eu demorava a responder. E seu demorava a responder era porque eu estava quase dormindo.

- Quel est votre nom?
- Franco.
Quinze minutos depois...
- E votre prénom?
- Zzzzzzzzzzzz... pardon?

Calma, galera, não tenho nada grave. Tudo o que eu precisava era de receita de anticoncepcionais. Porque o processo aqui é mais zzzzzzzzz... lento, né. Não posso comprar contraceptivos nas farmácias sem receita médica. Então, eu devo marcar uma consulta com uma enfermeira perita em agrupamento familiar (medo) que vai me dar todas as informações sobre anticoncepcionais, métodos de prevenção de gravidez, como funciona meu corpitcho e... zzzzzz... vai querer saber meus planos de procriação e... zzzzzzzz... de novo.

Depois, disso, a enfermeira vai marcar uma consulta com a ginecologista, que vai repetir todo o procedimento que ela fez e conferir as informações de sua colega. Vai fazer um histórico da minha vida sexual, perguntar se eu tenho Aids, perguntar se eu estou grávida, quanto tempo faz que eu não consulto o ginecologista, o nome do meu bicho de estimação, meu sabor de sorvete preferido na Häagen Dazs e se a vida é bela, e, não vai me examinar. Vai marcar uma próxima consulta.

O terceiro retorno (pensei que retorno fosse só a segunda vez, mas não) foi hoje. Como as consultas têm um intervalo de um mês e meio, é claro que a criatura não lembrava de mim e que ela tinha pedido exames de glicemia, triglicerídio, colesterol e o diabo a quatro. Recordei a tiazinha de tudo o que ela tinha pedido e que eu estava ali, pela terceira vez, porque eu precisava dos anticoncepcionais. Afinal, como eu falei na consulta com a enfermeira, não quero ter filhotinhos. E ela nem deu bola, só me disse: «Depois do exame eu passo a receita do contraceptivo». Tá difícil, né. Quase abri um pacotinho de Nissin Miojo. E ela voltou a olhar a tela do laptop e a digitar uma tese, pela demora. Meia hora depois:

- Mademoiselle Frrranco?
- Zzzzzzzz... pardon?
- Você pode tirar a sua roupa para o exame.

E, como eu mesma já havia relatado, a gente se despe na frente do médico, sem direito à salinha privativa ou uma batinha para se cobrir. Enquanto isso, a doutora ficava me olhando com cara de «ai que demora». Nem liguei, aprendi a ser blasé aqui mesmo.

- Está tudo bem – ela me garante, depois do exame, mas eu não ouvi porque estava dormindo.

Enquanto eu me vestia, ela fez mais outras perguntas essenciais:
- Mademoiselle Frrranco, você sabe o que é a rubéola?
- Claro! Foi a doença que mamãe teve durante minha gravidez e que me deixou assim retardada.
- E hepatite B?
- De onde você acha que vem esse meus charmosos olhinhos amarelos?

E me receitou vacinas para ambas as doenças, mas, adivinhem, não me passou a porcaria das receitas dos anticoncepcionais para um ano, como é o procedimento normal. Pediu para eu voltar daqui há três meses. E para eu não engravidar nesse período por conta da vacina contra rubéola. Enquanto isso, eu sigo invariavelmente elaborando minhas teorias contra a procriação humana e pensando num plano para traficar anticoncepcionais...

terça-feira, janeiro 20, 2009

Amar é

Tínhamos acabado de ver um Scrubs que falava de como companheiros mudavam com a convivência. No final do episódio, olhei para petit-ami e perguntei:

- O que tu achas que tu mudaste convivendo comigo?
- Ah, muitas coisas - ótima resposta para quem não tem nada de bom pra dizer.
- Se tem tanta coisa assim, me diz uma.

Ele pensa, pensa, e me revela:

- Contigo, eu passei a comer brócolis.

Definitivamente, eu transformei a vida dessa criatura. Não sei se para melhor ou pior.

terça-feira, janeiro 13, 2009

Viagem ao Líbano

Ontem fomos a um restaurante libanês com amigos franceses, bem aqui na esquina de casa. O lugar era desses restaurantes que são destaque nos jornais locais e onde as pessoas vão com orgulho de estar fazendo uma viagem culinária. E onde o garçom não te deixa em paz te dando um milhão de explicações sobre todas as comidas, bebidas e cultura do país. Como se a França não tivesse sido tomada pelo árabes há décadas e a cultura libanesa ainda fosse novidade, né.

O garçom era um jovem oriental, talvez chinês, talvez vietnamita – tudo a ver com um restaurante libanês que quer parecer um restaurante libanês, cheio de penduricalhos e breguices do Líbano grudadas nas paredes. E seria até aceitável se o pentelho do garçom não fosse um porre e nos deixasse em paz. De dez em dez minutos, ele vinha na mesa para dar explicações irrelevantes sobre a comida, nos fez jantar respeitando as tradições de uma janta libanesa e recebendo informações que um bom bordeaux tinto lavou da minha memória eu guardei lá no fundo do meu coração.

Toda a vez que o pentelho dava o ar das graças e atrapalhava nossa janta discursando coisas que ninguém entendia pelo sotaque dele, à parte do orgulho de bem desempenhar sua performance decorada, nós parávamos de comer e esperávamos que ele zarpasse dali para que a gente pudesse continuar enchendo a cara de vinho nosso lindo jantar libanês.

Lá pela décima terceira vez que o chino voltou, eu já tinha esgotado a minha paciência e continuei comendo, sem dar atenção para o topete de gel dele. E aí a criatura começou a explicar o que era o tabule; uma mistura muito delicada de tomate, grão de bico e...

- E muita cebola – eu completei em português e fiz rir petit-ami.

O pentelho percebeu que eu não era francesa e, na sua aparição seguinte, disse que estava vendo que eu não compreendia tudo que ele falava.

- É que teu francês é uma boxta, meu amigo.

Claro, vocês me conhecem, não respondi isso. Mas eu disse que era brasileira – e caí naquele mesmo erro de sempre...

- Brésiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiil! – ele comemorou, berrando.

- Isso mesmo – eu, sorriso antipático.

- Zé Pequenooooooooooo!

- Ahan. (ai, sai daqui!)

- Favelaaaaaaaaaaaaaaaaaa!

- Ah, mas vá tomar no teu cu!

Dessa vez, eu falei mesmo. Deve ter sido coincidência que, depois disso, ele não voltou mais na mesa? Sei que fomos todos felizes para sempre.

FIM!

quarta-feira, janeiro 07, 2009

Feliz 2008 pra todo mundo!

Meu primeiro post de 2009, o ano que não começou, está lá no Em busca do phino . A quem interessar possa, voltei de Londres, passei pela semana de provas do master, e agora estou aqui morrendo na cama com a gripe que eu trouxe da terra da Rainha.

E um dia ainda vou morar em Londres, escrevam aí. Talvez seja o mesmo dia em que eu começar a gostar de Réveillon e a fazer listas de resoluções para o ano vindouro.

Contarei sobre a viagem quando eu terminar meu último trabalho do último semestre de 2008 - isso mesmo, aquele que ainda não acabou.

Atchim pra vocês também!

FIM.