Na padaria
Oito horas da noite, volta do trabalho, entro na padaria lotada com o pressentimento de não conseguir mais nenhum pãozinho vivo. Do outro lado do balcão, um homem de cabelos brancos e óculos, com os seus 60, 65 anos, vem me atender.
- O senhor ainda tem cacetinho? - pergunto, distraída.
E um silêncio constrangedor paira. Todas as pessoas se voltam para mim. Cochichos e risinhos. Enquanto isso, surge um princípio de sorriso irônico por debaixo do bigode do velhinho. Tento, em vão, manter a normalidade, não parecer uma tarada, pervertida, sem-vergonha. Olho para os lados, mexo na bolsa, coloco os cabelos para trás da orelha, mas o senhor segue parado na minha frente:
- Ainda tenho sim.
Que bom que ele não precisou conferir.
- O senhor ainda tem cacetinho? - pergunto, distraída.
E um silêncio constrangedor paira. Todas as pessoas se voltam para mim. Cochichos e risinhos. Enquanto isso, surge um princípio de sorriso irônico por debaixo do bigode do velhinho. Tento, em vão, manter a normalidade, não parecer uma tarada, pervertida, sem-vergonha. Olho para os lados, mexo na bolsa, coloco os cabelos para trás da orelha, mas o senhor segue parado na minha frente:
- Ainda tenho sim.
Que bom que ele não precisou conferir.