Ma vie en rose

De frente, de lado, de costas. En France.


terça-feira, novembro 18, 2008

Conversa de farmácia

Em uma gigantesca e sufocante fila de cinema, eu e petit-ami encontramos um amigo e duas colegas do carinha, que nos apresentou as meninas. Por um um muito bem determinado motivo, só me lembro do nome da primeira.

- Dany, essa é a Vasseline.

Hum? Nãããããããããão. Entendi errado, só pode. Deve ser Adeline, nome comum aqui na França, não Vasseline. Mas e aí, pergunto de novo? Peço para ela repetir? O que eu faço? Enquanto a curiosidade corrói esta alma, espero o momento propício para a confirmação. O amigo, petit-ami e menina que eu não lembro o nome pelo motivo que vocês já captaram, engatam uma conversa. Viro de costas para eles e fico de frente para ...line. Me aproximo dela e falo baixinho para que a pessoa à minha frente na fila não escute:

- Desculpa, mas quando o Sébastien nos apresentou, eu não ouvi bem seu nome.

Ela parecia já esperar a minha observação e responde confiante e sem rodeios, em alto e bom som, sorriso no rosto:

- É bem isso que tu entendeste: Vasseline.

No mesmo momento em que ela repete o nome claramente para que sua interlocutora estrangeira – moi – a compreenda, a conversa do nosso grupo de amigos pára e se centra em nós. "Va-sse-li-ne". A criatura da frente na fila se vira e nos encara ao constatar a bizarrice.

Segundos de silêncio. Constrangimento a todo vapor.

- Ah, claro, claro, Vasseline! - essa sou eu, tentando reatar em vão a normalidade da situação.
- Tem Vasseline no Brasil? - Sébastien me pergunta (tipassim, ele acreditou a tentativa de resgatar a normalidade da situação fosse mesmo verdade).
- Ahn... não. Quer dizer, o nome não.

Voilà a falta de capacidade para aproveitar a oportunidade de ficar quieta. Pior é que, depois disso, ainda fiquei pensando que a coitada da Vasseline é coitada ao quadrado e precisei segurar uma daquelas minhas famosas e incessantes crises de riso nervoso. Nunca mais reclamarei que meu nome é refrão de música bagaceira francesa.

quarta-feira, novembro 12, 2008

Brasil-il-il-il!

Meu Brasil, brasileiro, agora é oficial: todas as quarta-feiras, estarei no Em busca do phino contando tudo o que é schique (ou não) no Velho Mundo, junto com Rafabal, Lady Glam e Sextasessão.

Na estréia, conto da estonteante experiência de encontrar meus conterrâneos em solo estrangeiro e faço um apelo para, quando vocês forem viajar, deixem seu pandeiro, sua bandeira do Brasil ou a camisa da seleção brasileira em casa. O passaporte basta para identificação, né, gente?

Passem lá e aprendam a ser phinos conosco!

sexta-feira, novembro 07, 2008

Como não ir para Amsterdam

Querem não viajar para Amsterdam? Fácil! Primeiro tomem todas as providências de viagem, comprem passagem, reservem hotel, façam planos, organizem sua estadia, se planejem para eventos, atrações culturais, lugares bonitos, festas... Mas antes de ir, passem pela Prefeitura de Grenoble!

A três dias do départ, precisava saber se teria algum problema viajar com o récépissé (o documento temporário que atesta que eu estou no aguardo da minha carta de permanência) perto de vencer. Depois de uma hora esperando em uma fila de estrangeiros depressivos, a pessoa que me atendeu garantiu que eu poderia viajar tranqüila, mas como o papel perderia a validade uma semana depois da minha volta, seria bom fazer a renovação antes. Segundo ela, um procedimento simples: voltar no dia seguinte com fotocópia do récépissé e uma foto. E eles me entregariam a nova bagaça na hora mesmo.

E eu acreditei, né, porque minha mãe sempre me disse que eu sou "tansinha" (linguajar catarina sem necessidade de tradução, hope so), que eu sempre acredito em todas as historinhas que me contam e tanta coisa mais (eu adoro a "quando a Daniella está indo, já está todo mundo voltando"). E então que chegou minha vez de voltar (à prefeitura) no dia seguinte. Esperei uma hora e meia na fila e... adivinhem. Fui atendida por uma pessoa diferente, com o humor do cão de zorba virada e com fome de foie gras. Expliquei todo o caso novamente, falei que tinha ido lá no dia anterior, que eu precisava viajar para Amsterdam (porque na França não vendem drogas em coffee shops: necessidade extrema!) e tinham me aconselhado renovar o récépissé porque ele estava próximo de vencer. Ela fez cara de "aham, aham, já sei de tudo, não precisa me contar porque eu não quero saber". Entreguei meu documento, a fotocópia dele e a foto. E ela me respondeu, com aquela cara sádica da administração francesa:

- Tudo certo. Você recebe o novo récépissé dentro de uma semana pelo correio.
- Você entendeu que eu preciso viajar para fora da França em três dias? (como assim, Bial?)
- Para onde mesmo você vai?
- Amsterdam, (já te falei mil vezes, sua vaca).
- Ah é? Iria, então. Não vai mais.
- Estou com passagens compradas, hotel reservado, é minha única semana de férias na universidade!
- Désolé, não posso fazer nada - e me devolveu um pobre xerox do meu antigo récépissé com um carimbo que dizia "Documento em fase de renovação. Original na prefeitura de Grenoble".
- E o que acontece se eu viajar com essa... coisa? (chutando o balde)
- Você não entra de volta na França e é deportada para o seu país.

Afinal, qual é a finalidade de um xerox do documento temporário quase vencido? Num intindi até agora. Sintam a ironia da situação: recebi um documento temporário do documento temporário. O primeiro já era um papelzinho meia-boca, o segundo era uma folha A4 toda amassada (que eu tive o prazer em transformar em uma bolinha bem compacta até dissipar toda a minha raiva). O que poderia vir depois? Um pedaço de papel higiênico?

Pra nos vingar, fomos, eu e petit-ami para Parrí. Ficamos quase uma semana, passeamos, aproveitamos, gastamos o que não tínhamos, fomos no show do Mogwai, do M83, e bebemos várias taças de vinho em homenagem à tiazinha que tentou arruinar minhas férias. E quando chegamos em casa, adivinhem o que nos esperava? Meu novo récépissé, com validade de mais três meses de espera até a chegada da carte de séjour, estampando como data de confecção aquele mesmo dia em que eu mandei a atendente da prefeitura de Grenoble tomar no cu. Em português, claro.

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Minha mãe no msn, engraçadíssima: "Ué, tu não querias tanto ficar na França? Aproveita que agora tu não podes mais sair!"


Olha, tia da prefeitura, como tu me fez sofrer!