O Nobel do Le Clézio

Preciso expressar minha felicidade com a notícia do novo prêmio Nobel de Literatura: o escritor francês Jean-Marie Gustave Le Clézio. Não posso dizer que conheço muito de sua obra. Aliás, só ouvi falar dele aqui mesmo na França, há menos de um ano, durante as aulas de Literatura Francesa do curso de Língua e Cultura, que eu fazia antes de começar o master.
Confesso que eu ficava um tanto decepcionada quando eu comentava por aqui que eu estava lendo Le Clézio e, à parte do meu professor de Literatura, ninguém mais o conhecia. Lendo uma das principais obras dele, "Le Chercheur d'Or" (traduzido em português para "O Caçador de Tesouros"), ficava imaginando que eu não podia ser a única a me encantar tanto com as suas mágicas descrições multisensoriais, as doces memórias de infância, os instigantes desejos e relatos de viagens de seus personagens. Para mim, foi impossível não se apaixonar.
Imagino o quanto uma carreira literária deve ser complicada na França, com tantos autores franceses que se tornaram universais. Meu professor chegou a comentar que dos anos 50 para cá, o país passou mesmo por uma crise de produção por conta dessa gama de escritores clássicos que acabam por "ofuscar" os mais recentes. Especialmente depois que Camus se tornou o escritor francês mais traduzido internacionalmente e o escritor moderno mais lido por seus conterrâneos.
Se o Clézio conseguiu ultrapassar essa barreira de preferências e tradições (aspecto ao qual os franceses são exageradamente apegados), ele já é um vencedor. O Nobel de Literatura é uma simples conseqüência disso. Sim, é indispensável ler Victor Hugo, Zola, Flaubert, Baudelaire, (ok, ok, Camus também - tenho uma implicância básica com ele, mas vá lá!) e o Beckett não é francês, apesar de ter vivido e produzido aqui durante boa parte da sua vida. Mas também é preciso abrir espaço e cabeça para novas obras e autores. Vamos combinar que Le Clézio nem é mais um mocinho. Aos 68 anos e uma carreira iniciada aos 23, conta com 35 obras publicadas. Tem que ler.