O francês é uma língua danada, que parece tão simples quando a gente começa a estudar por conta da origem latina. Só depois de algum tempo a gente percebe que o idioma tem um milhão de entonações impossíveis para quem não nasceu francofone, diferentes pronúncias para uma mesma grafia, consoantes que figuram nas palavras com zero finalidade e lá vai fichinha...
E quando a gente já está blasé porque sabe que jamais resolverá todos os enigmas idiomáticos e nada mais na língua francesa nos surpreende, descobre-se coisas que nem Victor Hugo explicaria.
Se você achava um baita falcatrua aquele seu colega de escola que, durante os ditados, acentuava todas as palavras (tipo ÚRÚBÚ), explico: ele estava mesmo era exercitanto o francês. Porque só esse idioma permete grafias como génère, côté, préféré, déjà, créée...
Hoje, em uma das eternas leituras para a dissertação de mestrado, descobri CINCO acentos em uma única palavra. Bom dia, amiguinhos, apresento a vocês HÉTÉROGÉNÉITÉ, a palavra que leva mais acentos em francês.
Todo esse exagero só pra indicar que o E é pronunciado como Ê e não como eles o pronunciam normalmente (E sem acento em francês tem quase o som de Ô). Choro sangue até hoje pela pobre criatura que ficou plantada no terminal O do aeroporto depois de ouvir o aviso sobre a mudança da porta de embarque de seu voo enquanto todo mundo se dirigia ao terminal E.
Eu sei, é inútil dizer que a tradução dessa bagaça de hétérogénéité é heterogeneidade. Não porque eu duvide da capacidade associativa de vocês. Mas porque depois de se deparar com uma grafia assim bizarra, a gente dispensa significantes e significados (Charles Sanders Peirce feelings).