Ma vie en rose

De frente, de lado, de costas. En France.


terça-feira, novembro 02, 2004

Tempo, tempo, tempo

Feriado. Sete da manhã e a criatura já acordada. Isso acontece desde os anos mais remotos da minha infância. Acordar mais cedo que todo mundo. Tentar, em vão, acordar todo mundo. Passear de pijama pela casa procurando alguma coisa interessante para fazer. Abrir a geladeira. Ligar a televisão e ver Campo e Lavoura. Ou Pequenas Empresas, Grandes Negócios. Jogar Resta Um. Aquela vontade de gritar pela janela. Ter que sentar e esperar.

Numa dessas manhãs infantis de insônia coloquei fogo na mesa da cozinha. Aí meus pais acordaram. E até hoje nunca mais conseguiram dormir tranqüilos...

Todos os dias quando acordo não tenho mais o tempo que passou, mas já tenho um milhão de coisas na cabeça. Fazer isso, fazer aquilo. Acabo não fazendo a metade do que preciso. Mas pelo menos a obrigação me mantém desperta. Hoje, por exemplo, já fiz muitas coisas que não teria feito se continuasse dormindo. Claro que nada de muito útil. Mas, vamos combinar, que a vida é 90% futilidade. E isso não é divertido?

Fico pensando que é perda de tempo dormir tanto. Imagina se usássemos esse tempo para trabalhar, produzir, pensar, viver. Eu já teria visto todos os filmes que gostaria de ver. Teria lido todos os livros que gostaria de ler. Já teria terminado a minha monografia. Faria exercícios (físicos e mentais). Não negaria convites para festas. Poderia me divertir muito mais sem consciência pesada no outro dia.

Quando olhei no relógio faltavam dez minutos para as seis. Levantei, fui ao banheiro, tomei água. Aí me dediquei a acordar o Mateus. "Não consigo mais dormir". Se ele me ouviu nem vai lembrar depois. Como no dia em que colocou dois relógios para despertar e me pediu para ajudá-lo a acordar porque tinha aula de alemão. Os relógios despertaram. Eu acordei. Desliguei os alarmes e o chamei. "Não, Dany, quero ficar aqui dormindo". "De certeza? Não vais mesmo para a aula?". "Não, estou muito cansado". Ao meio-dia levanta desesperado, xingando os despertadores e perguntando porque não o chamei.

Já caminhei pelo apartamento, olhei os CDs dele, comi negrinhos, respondi e-mails, comentei no blog da Caramelo. Depois me dediquei a fazer barulhinhos. Tossi, espirrei. Ele abriu os olhos. Sorriu, pediu para eu voltar para a cama. Voltei, mas levantei novamente. Liguei para a Angel, conversei um pouco com ela. Liguei para casa, mas minha mãe tira o telefone do gancho para evitar algum telefonema meu pela manhã.

Dez horas. Tem um sol maravilhoso lá fora. A Feira do Livro já deve estar funcionando. Segundo capítulo da mono pedindo para ser terminado. Três fitas de entrevista para serem decupadas. Fata Morgana, do Herzog, esperando para ser visto. Cartier-Bresson no Santander. E as pessoas continuam dormindo.

Me desculpem os dorminhocos, mas quero viver enquanto há tempo.

Tá, vou tentar acordar o Mateus de novo. Porque não achei nenhum fósforo no apartamento dele.


4 Comments:

  • At 5:04 PM, Anonymous Anônimo said…

    "Because life is short but sweet for certain"

     
  • At 11:33 PM, Blogger cherrytati said…

    Dani, eu tinha o mesmo problema quando morava sozinha, acordava cedo pra caramba e logo ligava pra minha mãe (sim, porque alguém tinha que compartilhar aquela insônia matinal comigo). Mas depois que o Leo veio morar comigo, eu olho pra ele dormindo e parece que dormir é a melhor coisa do mundo, e isso me dá uma vontade de dormir... ;-)

     
  • At 8:15 AM, Blogger Dany Darko said…

    Tati, o problema é que eu só acordo quando eu não tenho que acordar cedo. Murphy, Murphy! :) E me impressiono com o Mateus... ele coloca três relógios para despertar e ainda pede que eu o ajude a acordar. O mais engraçado é que nem sempre eu consigo...

     
  • At 1:52 PM, Anonymous Anônimo said…

    Minha querida Dani: os sonhos nos permitem conhecer coisas além da realidade. Sem sonho, não há crescimento. Sem dormir, não há sonho. A vida não é desperdiçada ao dormirmos, e sim ampliada. Além disso, não reconhecemos nada sem conhecer seus opostos: se não dormíssemos, como saberíamos o que é (e como daríamos valor para) estarmos acordados? Não saberíamos a diferença!
    Um beijão do seu amigo de São Paulo,
    Rodrigo

     

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