Ma vie en rose

De frente, de lado, de costas. En France.


quarta-feira, outubro 06, 2004

La Vida Loca - Parte 1

Chego em casa às nove e meia da noite. Aperto o interruptor da entrada. “Ué, queimou a lâmpada?”. Caminho pelo corredor, aperto o interruptor da sala. “Queimou a lâmpada na sala também?”. Saio desesperada procurando uma lâmpada que acenda. “Putamerda, a conta de luz!”. No escuro procuro o telefone.

- Mateus, cortaram a minha energia elétrica. O que eu faço?
- Pega um ônibus e vai lá pra casa.
- Não dá, não tenho um puto no bolso.
- Passa no banco, pega dinheiro, pega um ônibus e vai lá pra casa.
- Não dá, nove e meia, o Banrisul já fechou.
- Liga pra CEEE e vê porque cortaram a tua luz.
- Não dá, estou no escuro, como é que vou achar o número da CEEE?

Mateus no telefone. Moço da CEEE no celular.
- Moço, moço, cortaram a minha energia elétrica.
- Vamos verificar. Aguarde um momento, por favor. Você não efetuou o pagamento da fatura, por isso sua energia foi cortada.
- Moço, eu esqueci, juro. Mas se eu fizer o pagamento vocês tornam a ligar meu telefone?
- O telefone não, a conta de luz sim.
- Isso! A conta de luz. Vocês religam quando?
- Em até quatro horas.
- Hoje ainda?
- Sim, mas só se você efetuar o pagamento.
- Estou indo lá então.
- Mas só se você ligar avisando que efetuou o pagamento.
- Peraí. Eu vou lá no banco, faço o pagamento, ligo para vocês e, em até quatro horas vocês religam minha energia?
- Exato.

Mateus no telefone:
- Dany, o banco já fechou.
- Putamerda. Espera. Pela internet. Eu te dou minha senha e tu fazes o pagamento para mim?
- Nunca fiz isso.
- Tudo bem, vou te dizendo o que tens que fazer.

Moço da CEEE no telefone:
- Estou ligando para avisar que fiz o pagamento da fatura e para solicitar o religamento da minha energia.
- Preciso conferir uns dados.
- Tudo bem, mas em quatro horas vocês religam minha energia?
- Em até quatro horas.
- Moço, tenho o primeiro capítulo da monografia para terminar, não pode vir ninguém aqui antes?
- Em até quatro horas. E você tem que ligar a chave do dijuntor.
- Chave? Que chave? O que é um dijuntor?
- Pede para o seu zelador fazer isso.
- Não é zelador. É uma zeladora. Fofoqueira. Metida. Amanhã toda a Henrique Dias vai estar sabendo que cortaram minha luz. Vocês não podem ligar a chave do... como é mesmo o nome?
- Dijuntor. Não podemos por uma questão de ética.
- Ahn? Putz... Mas eu posso né?
- Sim. É só puxar a chave do dijuntor para cima.
- Ah, aquela caixa preta. Isso é o dijuntor?
- Sim.
- Eu puxo o quadradinho da caixa para cima, é isto?
- Sim.

Minha mãe definitivamente vai me matar. Acendo uma vela, não para iluminar o apartamento, mas para rezar. Trinta minutos depois interfone. CEEE. E Deus criou a luz.

Oito da manhã desço as escadas devagarinho. Nada no corredor. Nada no jardim do prédio. Abro o portão. Saio. Fecho o portão.
- Menina! Ô menina!
Minha zeladora e seu sotaque colônia italiana.
- Onte os rapaz da CEEE viero aí corta tua luz.

Ainda bem que ela me avisou. Senão eu não teria nem percebido.
E esse é só o começo do meu dia...

3 Comments:

Postar um comentário

<< Home