Ma vie en rose

De frente, de lado, de costas. En France.


sábado, outubro 02, 2004

Dany e as baratas

Eu nunca tive grandes problemas com sapos, aranhas, grilos e afins. Inclusive, quando encontrava algum desses bichinhos pernudos dentro de casa, costumava removê-los para um lugar mais interessante e divertido (para eles e para mim) para não ter que matá-los. E não tem nada a ver com budismo, não. Pura piedade.
Mas as baratas sempre atrapalharam a minha calma e minha tranqüilidade (para quem ainda acredita que eu sou calma e tranqüila). Quer me ver tendo ataques de pânico, de histeria e desespero? Há, só com as baratas.
Em Tubarão sempre tinha alguém para dar uma chinelada e cessar meu escândalo. Aqui em Porto Alegre só fui morar com a Carol Andreis depois que ela me garantiu que nunca nenhuma barata havia colocado uma perninha para dentro do apartamento dela. Um ano depois, quando fui morar com a Mari e entrei no apartamento, já vi que ali tinha barata. Porque é assim: eu entro no lugar e penso “aqui tem barata”. E pode apostar que tem.
Um dia eu estava no quarto e ela gritou. De cara já fui pensando: barata. E era mesmo. Às onze e meia da noite estávamos nós duas na cozinha gritando nos mais inalcançáveis decibéis. Ela com uma vassoura na mão e eu escondida atrás dela. A barata passeou bem feliz por toda a cozinha. Depois, acho que devido à nossa má recepção, se cansou e foi embora. Eu só ficava imaginando quando a minha room-mater fosse para a casa dela do interior de Santa Catarina. Quem iria me proteger das baratas?
Um dia eu estava bem feliz, tomando suco de laranja na sala e uma fdp saiu correndo da cozinha e ficou parada no corredor me olhando. Primeiro gritei. Depois pensei: “Cara, o que eu vou fazer?”. Liguei para o Paulista e para a Carol Andreis. Liguei para o namorado da Mari que tinha aula por perto. Mas ninguém atendeu. E a barata esperando. Aí lembrei do Miguel, zelador do prédio da Carol, que era perto de onde eu morava. Pedi para a barata esperar e fui apelar para ele. Depois de rir bastante da minha cara e perguntar se a barata era maior que um skate, ele foi até o meu apartamento munido de uma arma mortal: um tubo de Raid. Claro que a barata já tinha ido embora. Mas ele procurou e conseguiu achá-la. Aí pude dormir aquela noite tranqüila.
Um dia descobri onde elas moravam: em um armariozinho debaixo da pia. Seguindo o exemplo do Miguel, despejei um tubo de Raid e fechei a portinha do armário. Um dia o namorado da Mari resolveu abrir a porta. A partir daí não consegui mais dormir direito naquele apartamento. Porque havia um milhão de baratas mortas-vivas vivendo no armário debaixo da pia. E eu tinha pesadelos com elas. Elas vinham, em fila indiana, até o meu quarto me buscar.
Aí fui morar com o meu primo: o Thiago. Só que ele estava no último semestre de Medicina e quase sempre estava fora de casa. Quando ele estava no apartamento e me ouvia gritando, já vinha com um chinelo na mão. Quando não, eu dava meus chiliques sozinha. Uma vez cheguei de O Sul tri tarde, morrendo de fome. E tinha uma viada de uma barata que corria por toda a cozinha. Quando acendi a luz, ela voltou para a casinha dela: também na portinha debaixo da pia. Não tive dúvidas: liguei para o Tito e chorei,chorei,chorei. Estava morrendo de fome, precisava comer. E pelo telefone ele me deu as coordenadas para que eu pegasse a comida sem desviar os olhos da pia. Que momento!
Tenho um histórico enorme de chiliques por causa de baratas. Uma vez no Rio, na fila para pagar a consumação, saiu uma barata pela portinha de onde o cara cobrava. Não tive dúvidas: gritei, esperneei, me descabelei e incentivei todas as outras meninas da fila a fazer o mesmo. Quando eu ia ou vinha do Ocidente com o Vini pela Oswaldo era um show à parte. Agarrada no braço dele, eu ia gritando desde a esquina com a Ramiro até a João Telles.
Aqui neste apartamento da Henrique Dias nunca tinha encontrado nenhuma. Aí na quarta-feira, estava comendo na sala quando a Pandora deu um grito na cozinha e veio chorando se queixar para mim. Não dei muita bola. A Pandora é uma cachorra muito fresca – pensa que é gente. No outro dia à noite fui fazer um chazinho e quando abri a gaveta tinha uma senhora barata bem feliz. Aí entendi o susto da Pandora (ela deve ter aprendido comigo). Gritei. Liguei para o Mateus. “Amanhã vou aí matar pra ti”. Mas ele acabou esquecendo, e eu, quando estou com ele, também esqueço de tudo.
O resultado de tudo isso é que não entro na cozinha desde quinta-feira. Já pensou se eu estou lá e a barata me ataca? Caio dura, na hora. E a Pandora também.

1 Comments:

  • At 5:47 PM, Anonymous Anônimo said…

    Além da maneira que vc escreve ser um show literário (me lembra muito o Vinícius quando escrevia críticas para o cinema no jornal!), conhecia algumas partes da história e me diverti muito!! Mas o legal é a qualidade dos textos! Danny, sempre elegante e divertida... Me faltam elogios!!

     

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