Ma vie en rose

De frente, de lado, de costas. En France.


quinta-feira, maio 12, 2005

Sobre a nossa televisão

Três semanas de desemprego, tudo encaixotado para a próxima mudança, vida de acampamento. O que me sobrou foi aquele aparelhinho quadrado de catorze polegadas em cima de uma mesa improvisada. Nunca em toda a minha vida assisti a tanta televisão como nesses últimos tempos. Talvez nunca em toda a minha vida os meus livros tenham ficado encaixotados sob ordens ameaçadoras (minha mãe fica puta quando mexo nas caixas) e nem eu fiquei tanto tempo sem fazer nada, como agora.
Às vezes é irritante, outras, engraçada, e a verdade é que, com exceção do Bob Esponja, pela manhã, não tem mais nada aproveitável na televisão aberta. Quanta porcaria massificada! Quanto tempo desperdiçado!
O que é esse programa da Adriane Galisteu à tarde?! Um dia, depois de todas as barbaridades indagadas ao Jonas Bloch, em uma suposta entrevista, ela apresenta a chamada para o bloco seguinte: “Nossa equipe fez uma reportagem ma-ra-vi-lho-sa em uma feira de acessórios para animais. Não é o máximo, Jonas?”. Ele responde, interessadíssimo: “É, sim”. E ela continua: “Alguma vez na sua vida você imaginou que cachorro usaria óculos?”. Ele: “Não, nunca imaginei”. Nesse momento transmiti toda a minha solidariedade à loira e senti muita, mas muita vergonha, por ela.
Ainda no ramo idiotices em programas de besteirol, Ricardo Macchi, aquele que afundou com qualquer indício de carreira artística decente depois de interpretar um cigano que tinha sempre as mesmas falas em uma novela global, soltou essa: “A falta de diálogo do casal para um bom sexo é um problema social”. E repetiu, querendo dar ênfase à tão estupenda idéia: “É um problema social!”.
E na novela onde a protagonista consegue fugir de um presídio norte-americano, meter-se dentro de uma caixa de televisão e ir parar na casa do Caco Ciocler, seu par romântico acha que o pai encarnou em um boi. Sem mencionar as legendas quando acontecem as mudanças de local. Porque o público jamais perceberia a diferença entre Miami, Rio de Janeiro e Boiadeiros: é tudo uma mesma rua do Projac...
Jornal Nacional anuncia nas principais manchetes o fim do casamento de Cicarelli e Ronaldinho. Para os comerciais, nada melhor que Luciana Gimenez fazendo propaganda de sua burrice: “Chester é mineral”.
Pierre Bourdieu teria espamos de ódio, crises de pânico, ataques de epilepsia se visse o estado de nosso meio de comunicação mais popular...