Pipoca doce
Sexta-feira, 18h, rodoviária lotada, bagageiro cheio, 42 passageiros espremidos em poltronas minúsculas. Antes da partida, o ar-condicionado já circula o odor de pipoca doce e bala de iogurte. O motorista entra no ônibus e explica alguma coisa em um catarinês apressado. “Porissopeçoquevocêxcolaborem. Porrrqueissosempreacontece”. Ah, tá, eu penso. Era tudo o que faltava para completar a mais infernal das semanas. Segue a viagem. Em Araranguá, parada. “Vintiminutox!”, grita o motorista. Desço, respiro, volto, fecho os olhos: faltam só duas horas. Seguimos. Trinta minutos depois, o ônibus pára, acende as luzes, o motorista abre a porta. “Euaviseieuavisei”. Não é que alguém teve a capacidade de se perder no único restaurante da parada? Esperamos vinte minutos no acostamento da BR. Teoricamente, a criatura viria de carona em um ônibus de outra empresa. Por razões catarinas, o motorista segue por mais uns dois quilômetros e pára novamente. Conto dez minutos no relógio. E nem sinal do outro ônibus ou do passageiro perdido. Mais uma vez, o motorista abre a porta, comunica alguma coisa que o volume máximo do meu discman não me permite ouvir. E seguimos. Da criatura perdida, nem a sombra. Talvez, por vontade coletiva, ela tenha pego um atalho para o inferno. Se fosse por mim, poderia completar a pé os 200 quilômetros restantes.
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