Manhã de outubro
Ele me acordou de manhã bem cedo, me vestiu, penteou desajeitadamente o meu cabelo, me calçou os tênis. Me fez uma comida muito apimentada que eu não consegui engolir. Preocupado, me ofereceu chocolate e danoninho – mas naquele momento meu nervosismo não me permitia pensar em ingerir mais nada. "Vamos?" – pedi.
Dentro do fusca branco, o tempo pareceu uma eternidade até chegarmos ao hospital. Quando entramos no prédio de azulejos amarelos e frios, tive medo das imagens dos santos penduradas, e apertei forte a mão dele. Ele também suava, apesar da manhã gelada de primavera. Paramos em frente a uma janela enorme de vidro de onde saía uma luz amarela. Me apoiei no parapeito, fiquei na ponta dos pés. Uma mulher de touca branca com a boca e o nariz tapados por uma máscara me perguntou: "Quer ver?". Fiz que sim com a cabeça.
Então ele me ergueu pelos braços e, simultaneamente, do outro lado da janela, a mulher levantou uma criaturinha rosada, murcha, com os olhos escuros e o rosto muito redondo. E, antes que eu pudesse expressar qualquer emoção, ele sorriu para mim.
Neste momento, tive uma vontade imensa de rir, chorar, gritar, me espernear e exprimir todo o sentimento que borbulhava pelo meu corpo. Mas preferi me acalmar ficar bem quietinha, aproveitando o máximo daquela imagem inédita. E retribuí o sorriso, com a certeza absoluta de que ele sabia do que tudo aquilo se tratava.
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Vinte e dois anos depois, eu me lembro de todos estes detalhes, como se aquele dia 9 de outubro de 1984 tivesse acontecido ainda hoje pela manhã. Apesar de suas poucas horas de vida, eu tenho certeza de que meu irmão também não se esqueceu de nada. Porque esse foi nosso primeiro segredo.
Dentro do fusca branco, o tempo pareceu uma eternidade até chegarmos ao hospital. Quando entramos no prédio de azulejos amarelos e frios, tive medo das imagens dos santos penduradas, e apertei forte a mão dele. Ele também suava, apesar da manhã gelada de primavera. Paramos em frente a uma janela enorme de vidro de onde saía uma luz amarela. Me apoiei no parapeito, fiquei na ponta dos pés. Uma mulher de touca branca com a boca e o nariz tapados por uma máscara me perguntou: "Quer ver?". Fiz que sim com a cabeça.
Então ele me ergueu pelos braços e, simultaneamente, do outro lado da janela, a mulher levantou uma criaturinha rosada, murcha, com os olhos escuros e o rosto muito redondo. E, antes que eu pudesse expressar qualquer emoção, ele sorriu para mim.
Neste momento, tive uma vontade imensa de rir, chorar, gritar, me espernear e exprimir todo o sentimento que borbulhava pelo meu corpo. Mas preferi me acalmar ficar bem quietinha, aproveitando o máximo daquela imagem inédita. E retribuí o sorriso, com a certeza absoluta de que ele sabia do que tudo aquilo se tratava.
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Vinte e dois anos depois, eu me lembro de todos estes detalhes, como se aquele dia 9 de outubro de 1984 tivesse acontecido ainda hoje pela manhã. Apesar de suas poucas horas de vida, eu tenho certeza de que meu irmão também não se esqueceu de nada. Porque esse foi nosso primeiro segredo.
2 Comments:
At 10:38 PM, Anônimo said…
que amor!!
At 12:51 PM, cherrytati said…
Um amor isso! Amor entre irmãos tende a ser imenso! Ainda mais quando são apenas dois, um homem e uma mulher. É assim comigo e com o meu irmão também. O Xande nasceu no dia do meu aniversário e, por mais que eu tivesse pedido aquele irmãos para os meus pais, fiquei um pouco triste porque a minha mãe não poderia ir à minha festa de aniversário!
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