Ma vie en rose

De frente, de lado, de costas. En France.


domingo, setembro 17, 2006

Sete meses

Todos os dias, antes de dormir, ela fecha os olhos e inicia, mentalmente, uma conversa informal de como foi seu dia, o que tem passado, seus planos, seus desejos, seus medos, suas cabeçadas. Ela ri. Diz que sente saudades. Chora. Pede desculpas pelos erros – está sempre tentando melhorar e dar o seu melhor – e ressalta suas vitórias porque, ao menos por ele, quer ser reconhecida pelos seus méritos. E também porque ela lhe deve explicações e o faz com mais intensidade do que quando estavam sempre juntos. Afinal, naquela época, aos 17, 18 anos, o tempo parecia eterno e as obrigações eram mínimas. E agora tudo está tão diferente, tantas situações se inverteram, tantas mudanças se sucederam, embora ela continue sendo aquela menina perfeccionista cheia de defeitos, tempo-triste, bicho-do-mato, que ainda fecha a porta do quarto para dançar sozinha e, freqüentemente, se esconde quando a campainha toca.
Alguns meses antes de morrer, ele quis saber se ela ainda sentia frio na barriga quando descia uma lomba, porque, antigamente, se divertia ao vê-la se contorcer de riso quando acelerava o carro em declínio: não, ela não mudou nada. Prova disto é que ela continua lhe prometendo realizações, e já tem uma lista imensa delas para cumprir, mas as segue enumerando. Só para lhe confirmar que ela tenta levar a vida a sério e que, de alguma forma, pretende dar continuidade à existência dele por meio da vida dela.
Há exatos sete meses, todos os dias, antes de dormir, ela fecha os olhos e deseja intensamente que, algum dia, de qualquer forma, "de qualquer forma" - repete - eles voltem a se encontrar. E sente tanto a falta dele.

1 Comments:

  • At 9:53 PM, Blogger RodOgrO said…

    Ok, eu ia tirar um sarro da sua cara porque fiquei chocado com o fato de que você admite errar (nunca pra mim), mas o texto ficou tão bonitosentimentaltriste que é sacanagem macular com piadas.

    Beijos!

     

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