Handebol
Nunca fui muito sociável, é verdade. Deve ser por isso que até hoje eu odeio esportes e toda aquela integração necessária que dizem que precisamos para que o time ganhe. Na época do colégio, nas aulas de Educação Física, o que eu queria mesmo era que o meu time perdesse para que eu pudesse sentar de novo no banquinho velho de madeira e ficar olhando para cima, tentando me distrair, quando a vontade era voltar para dentro da sala de aula e ter aula de Literatura, Português, História, Geografia... Até Matemática aliviava os jogos terríveis e forçados de handebol. Eu começava a suar de aflição só de imaginar minhas pequenas coleguinhas 2mx2m se aglomerando em cima deste corpo atlético que vos fala quando tinha a posse da bola. Aliás, eu raramente tinha a posse da bola porque eu a atirava para fora, para cima, para outra dimensão, se fosse necessário. Desde aquela época eu tinha a consciência que a minha existência valia muito menos que muita coisa, mas bem mais que um jogo de handebol. Para melhorar, ainda tive a sorte de o meu colégio ter uma acirrada e comemorada tradição nos campeonatos estaduais da modalidade...
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Em qualquer atividade que envolvesse interação eu era uma tragédia. Nem nessas brincadeiras de criança eu dava muito certo. Acabava me obrigando a perder para acabar logo com a aflição que gerava toda aquela correria de pegar, se esconder, encontrar. Eu era tão palhaça que ficava encostada no muro contando até 100, de olhos bem fechados, quando todo mundo já tinha desistido de brincar e ido embora. Quando eu me virava já não havia mais ninguém – situação que não ficou restrita a minha infância. Quantas vezes, durante esta quase longa vida, eu, a certinha, a ética, a amiga, a fiel, fiquei ali, de costas para o mundo, com os olhos tapados, acreditando que, quando eu desse meia-volta, as pessoas estariam ali por mim também. Não estavam. Não estão.
Sinceramente, se eu pudesse voltar no tempo hoje, gostaria de recomeçar a ter aulas de handebol. Parece que ainda não aprendi a jogar.
“Todos nós estamos na sarjeta, mas alguns de nós olham para as estrelas”
(Oscar Wilde)
“E quem olha se fode”
(Hilda Hilst)
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Em qualquer atividade que envolvesse interação eu era uma tragédia. Nem nessas brincadeiras de criança eu dava muito certo. Acabava me obrigando a perder para acabar logo com a aflição que gerava toda aquela correria de pegar, se esconder, encontrar. Eu era tão palhaça que ficava encostada no muro contando até 100, de olhos bem fechados, quando todo mundo já tinha desistido de brincar e ido embora. Quando eu me virava já não havia mais ninguém – situação que não ficou restrita a minha infância. Quantas vezes, durante esta quase longa vida, eu, a certinha, a ética, a amiga, a fiel, fiquei ali, de costas para o mundo, com os olhos tapados, acreditando que, quando eu desse meia-volta, as pessoas estariam ali por mim também. Não estavam. Não estão.
Sinceramente, se eu pudesse voltar no tempo hoje, gostaria de recomeçar a ter aulas de handebol. Parece que ainda não aprendi a jogar.
“Todos nós estamos na sarjeta, mas alguns de nós olham para as estrelas”
(Oscar Wilde)
“E quem olha se fode”
(Hilda Hilst)
1 Comments:
At 9:43 PM, Anônimo said…
Dani, a gente não tem que ser bom em tudo na vida. Foda-se se tu não bate bem das bolas(trocadilho infâme).
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