Ma vie en rose

De frente, de lado, de costas. En France.


segunda-feira, junho 29, 2009

Explosions, but not in the sky

Constantemente, peçonhas vêm me questionar se tudo o que eu conto nesse blog é verdade ou se é pura imaginação drama girl desmiolada desse doce de pessoa que eu sou.

A verdade é que as emoções vêm ao meu encontro. Constantemente. E exemplifico.

Alguém bate insistentemente na porta do apartamento, mas eu, com os mega fones de ouvido à toda, estava muito ocupada surtando, momentos antes de ir para uma prova. Não possuía condições de interagir com algum suposto vizinho reclamando que tem "barulho de gente" (sic) no apartamento. E confirmo, tinha barulho de gente (eu) surtando.

Ao tirar os fones do ouvido, ouço estranhos ruídos de gente pelos corredores. Normal. O pré-requisito para alugar um apartamento nesse bâtiment é não bater bem do cerebelo.

Mas uma insistente sirene me convence a olhar pela janela e notar que a rua inteira estava interditada. Um bombeirinho corria de lá para cá, se sentindo importantíssimo. E muitas pessoas na esquina, todas com aquela cara básica de socorro. Preguiça de gente trágica. Da janela ao lado, alguém me contata:

- Olá, vizinha! Faz muito tempo que você mora aqui?
- Oi! Tudo bem? Faz quase dois anos.
- Nossa! Eu também! E a gente não se conhecia?

Ao que o bombeirinho interrompe, com a voz do Batman bravo (sabem, aquela voz metalizada do Bale nos momentos críticos?). Mas em francês (o que só aumenta o nível da bizarrice).

- O que vocês duas estão fazendo aí?
- Nós moramos aqui – responde a sensata vizinha. Só faltou adicionar "há dois anos".
- Pois então desçam imediatamente que o prédio corre risco de explosão.

Quando abro a porta do apartamento, uma tropa de bombeiros já estava pronto a arrombá-la. Eu, com a blusa do pijama, descalça e shortinho verão 97 Brasil, faço um pedido irrecusável ao bombeiro 3 metros de altura:

- Posso pegar um calçado?

Ele diz "muito rápido" e me espera na porta.

Mas essa não é uma decisão fácil. Na frente dos meus 57 pares de sapato penso: "se eu fosse para uma ilha deserta, quem eu levaria?". Galochas? Converse? Melissa Pequeno Príncipe? Coturnos legendários? Sapatilhas xadrez? Sapatos de bolinha? Mas ela esta lá, imponente e ainda cheirosa, recém chegada do Brasil enviada por maman, minha Melissa Anglomania Vivienne Westood. Afinal, se for pra morrer, que seja com estilo (pelo menos em uma parte do corpo).

Só cada pé têm três fivelas, né. Escolha nada prática se tiver bombeiro gritando na porta da nossa casa.

Eu, fazendo amigos:

- Monsieur, quanto tempo demora pra vocês saberem se o prédio vai mesmo explodir ou não?
- Por quê? (interessado na minha vida que só)
- Porque eu tenho uma prova em uma hora.
- Pode demorar mais que isso.
- Então vou pegar minha mochila, ok?
- Mas, mas. Ok. Muito, muito rápido.
- Aham. Já volto. À tout de suite!

Dentro da mochila vai também meu estojo de lentes de contato, que não quero morrer cega, meu celular, pra me comunicar com os meus amigos no paraíso, meus resumés da prova, um creme de cabelo, umas presilhas, um casaquinho, meu remédio pra rinite e uma caixinha de balas de framboesa. Delicia!

E desço, mochila nas costas, fones de ouvido, pijama, shortinho e melissa nova, gloriosa, escoltada por um bando de bombeiros as escadas do prédio prestes a explodir. E pode melhorar?

Pode, sim. Já me imaginei ligando para a faculdade e dizendo que eu não poderia fazer a prova porque meu prédio foi pelos ares.

Mas dizem que felicidade é que tem fim. Então, não precisei esperar muito tempo na esquina dos desesperados porque logo os amigos do Batman resolveram o problema do vazamento de gás. Mas minha Melissa fez sucesso. Teve até gente me perguntando onde eu tinha comprado os pares da belezura.

E, sim, é tudo verdade. Esse blog tem compromisso com a veracidade. Beijos e até a próxima explosão.

terça-feira, junho 23, 2009

Jornalista diplomado aprende o quê?

Por Mágda Rodrigues da Cunha, jornalista, diretora da Faculdade de Comunicação Social (Famecos), da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS)

Muitos são os debates desde o dia 17 de junho, quando o STF decidiu pela extinção da obrigatoriedade do diploma para exercício da profissão de jornalista. Fala-se em retrocesso histórico, manutenção de qualidade de parte das empresas, garantia da liberdade de expressão prevista na Constituição, comparação com outras categorias profissionais e até com arte e literatura.

Mas quem estuda para ser jornalista aprende o quê? E este é um foco pouco iluminado até agora e que é papel das instituições de Ensino Superior esclarecer. Neste texto, falamos do lugar do ensino de Jornalismo, que existe há aproximadamente 60 anos no Brasil, quando o diploma sequer era obrigatório.E o que o jornalista aprende desde então? Arte, produção de informação desqualificada, repressão à liberdade de expressão? Certamente não, mesmo que muitas declarações levem a esse entendimento.

O jornalismo é, talvez, a mais multidisciplinar das carreiras, pois, para transformar os fatos em narrativas jornalísticas, é preciso conhecer a realidade, sua construção, contexto e as formas de melhor apurar o fato, investigá-lo e difundi-lo. O jornalista aprende a ser o guardião da narração eticamente correta. O principal produto do jornalismo contemporâneo, a notícia, não é ficção. Os acontecimentos ou personagens das notícias não são invenção dos jornalistas. Como aponta a própria campanha de “45 anos de Zero Hora”, o jornal não publica nenhuma notícia, a menos que ela aconteça.

Um jornalista aprende português, filosofia, história, legislação, sociologia, entre outras disciplinas. O que não quer dizer que indivíduos com a formação nessas áreas possam narrar os acontecimentos. Um jornalista aprende técnicas específicas de sua profissão, como reportagem, edição, linguagens para as diferentes mídias, estudos de recepção, formas adequadas de tratar um acontecimento, considerando princípios éticos. Jornalismo não oferece risco de vida?

Imagine-se as consequências para qualquer indivíduo que tenha acontecimentos mal apurados e amplamente divulgados na mídia a respeito de sua vida. E que condições emocionais tem um soldado de narrar os fatos por seu blog, diretamente de uma guerra? Pode um torcedor narrar o jogo de seu próprio time e garantir alguma imparcialidade?

Em plena sociedade da informação, é impossível falar em restrição à liberdade de expressão. A telefonia celular e a internet já estabelecem novas relações entre os cidadãos e o poder. Cada um é capaz de contar a sua história, mas não o fato sob suas muitas dimensões. Isto é função do jornalista. Nessa mesma sociedade, precisamos de garantias legais e regulação para que estejam bem formados aqueles que vão fazer a mediação em meio a tanto conteúdo.

Aqueles que vão garantir credibilidade aos fatos que nos chegam das mais diversas frentes. Os soldados e torcedores não desejam narrar os fatos jornalisticamente. Desejam apenas, como apontam as pesquisas, usufruir da liberdade de expressão que as modernas tecnologias oferecem. O jornalista aprende na universidade exatamente sobre qual é o seu lugar dentro da narração de um fato.

(artigo publicado em Zero Hora desta terça-feira, dia 23)

A cozinha do Gilmar

Jornalistas do Rio Grande do Sul criaram e eu recomendo:

http://www.acozinhadogilmar.blogspot.com/

Todo mundo pra cozinha, então!

quinta-feira, junho 18, 2009

A liberdade profissional no âmbito da culinária

Um revisor de uma empresa onde eu trabalhava tinha sempre essa frase no msn dele: "Estou aqui, mas não estou". Passei o um ano e meio que eu trabalhei lá tentando desvendar esse mistério da ausente presença online do tiozinho.

Tudo isso só pra dizer que estou na mesma que ele. Depois de um mês de desespero "preciso entregar minha dissertação", estou de volta. Mas não estou porque, reflitam com a tia: o que a gente faz depois de entregar um puta de um trabalho fodido de um ano ralando a caixola que vai ser apedrejado por uma banca de professeurs pós-dotôzinhos que desprezam estudantes de mestrado?

A gente senta e escreve um outro projeto de dissertação para o próximo ano. Porque a vida é fácil como um pacotinho de Nissin Miojo. E eu tive a sorte de escolher um mestrado onde eu tenho que apresentar duas dissertações.

[Palmas para mim]

Obrigada.

E agora alguém me responde o que eu estou aqui fazendo na França estudando Communication et Information, gastando o que eu não tenho, criando rugas atras desse computador que já começa a mesmo se negar a ligar quando vê minha lata se... eu podia estar na terra brasilis sendo cozinheira, profissão comparada à do jornalista pelo presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Gilmar Mendes.

Meldels. Alguém tem uma explicação coerente para isso aqui ?

"'Quando uma noticia não é verídica ela não será evitada pela exigência de que os jornalistas frequentem um curso de formação. É diferente de um motorista que coloca em risco a coletividade. A profissão de jornalista não oferece perigo de dano à coletividade tais como medicina, engenharia, advocacia nesse sentido por não implicar tais riscos não poderia exigir um diploma para exercer a profissão. Não há razão para se acreditar que a exigência do diploma seja a forma mais adequada para evitar o exercício abusivo da profissão'.

Mendes chegou a comparar a profissão de jornalista com a de cozinheiro. 'Um excelente chefe de cozinha poderá ser formado numa faculdade de culinária, o que não legitima estarmos a exigir que toda e qualquer refeição seja feita por profissional registrado mediante diploma de curso superior nessa área. O Poder Público não pode restringir, dessa forma, a liberdade profissional no âmbito da culinária. Disso ninguém tem dúvida, o que não afasta a possibilidade do exercício abusivo e antiético dessa profissão, com riscos eventualmente até à saúde e à vida dos consumidores', disse."

Jornalistas, bora pra cozinha!

E me avisem quando abrir inscrição para faculdade de motorista, per favore, que a concorrência vai ser das brabas!

(é isso? ou intindi errado?)