Ma vie en rose

De frente, de lado, de costas. En France.


domingo, outubro 12, 2008

O Nobel do Le Clézio


Preciso expressar minha felicidade com a notícia do novo prêmio Nobel de Literatura: o escritor francês Jean-Marie Gustave Le Clézio. Não posso dizer que conheço muito de sua obra. Aliás, só ouvi falar dele aqui mesmo na França, há menos de um ano, durante as aulas de Literatura Francesa do curso de Língua e Cultura, que eu fazia antes de começar o master.
Confesso que eu ficava um tanto decepcionada quando eu comentava por aqui que eu estava lendo Le Clézio e, à parte do meu professor de Literatura, ninguém mais o conhecia. Lendo uma das principais obras dele, "Le Chercheur d'Or" (traduzido em português para "O Caçador de Tesouros"), ficava imaginando que eu não podia ser a única a me encantar tanto com as suas mágicas descrições multisensoriais, as doces memórias de infância, os instigantes desejos e relatos de viagens de seus personagens. Para mim, foi impossível não se apaixonar.
Imagino o quanto uma carreira literária deve ser complicada na França, com tantos autores franceses que se tornaram universais. Meu professor chegou a comentar que dos anos 50 para cá, o país passou mesmo por uma crise de produção por conta dessa gama de escritores clássicos que acabam por "ofuscar" os mais recentes. Especialmente depois que Camus se tornou o escritor francês mais traduzido internacionalmente e o escritor moderno mais lido por seus conterrâneos.
Se o Clézio conseguiu ultrapassar essa barreira de preferências e tradições (aspecto ao qual os franceses são exageradamente apegados), ele já é um vencedor. O Nobel de Literatura é uma simples conseqüência disso. Sim, é indispensável ler Victor Hugo, Zola, Flaubert, Baudelaire, (ok, ok, Camus também - tenho uma implicância básica com ele, mas vá lá!) e o Beckett não é francês, apesar de ter vivido e produzido aqui durante boa parte da sua vida. Mas também é preciso abrir espaço e cabeça para novas obras e autores. Vamos combinar que Le Clézio nem é mais um mocinho. Aos 68 anos e uma carreira iniciada aos 23, conta com 35 obras publicadas. Tem que ler.

quinta-feira, outubro 09, 2008

C'est normal!

Todos os franceses que lêem este blog, me fazem reclamações freqüentes sobre o conteúdo dos posts que eu publico aqui. Faz sentido, né? Se não fossem franceses, não reclamariam...

.................................................................................

- Bom dia. Tenho aula de natação às 12h30, mas ainda não tenho a carteirinha da piscina, então não posso passar pela roleta.
- A que horas você tem aula? (olha no relógio)
- Às 12h30. (mas, por conta do meu sotaque, ele entende 2h30)
- Mas o que você quer aqui essa hora então?! Venha no seu horário! (grita)
- Senhor, estou no meu horário. Minha aula começa agora mesmo, mi-di-et-de-mi.
- Ah, bom. É que eu não tenho obrigação de entender se você não fala certo!
- E eu não tenho tenho obrigação de me controlar quando quero dar um soco em você!

É claro que eu não respondi isso. Ainda não cheguei nesse estágio da impaciência. Mas que dá vontade, dá.

.................................................................................

- Bom dia. Eu sou estudante do master de Ciências da Informação e Comunicação e a professora Abry me disse para eu passar aqui e fazer a inscrição na disciplina Cultura e Tradições Populares, já que essa matéria é da unidade de Letras e eu sou do Instituto de Mídias.
- Foi você que ligou ontem e fez uma confusão aqui na secretaria, não foi? (tira os óculos e lança faíscas pelos olhos)
- Ahn?
- Você sabe que atrapalhou todo o nosso trabalho, não é? Você gerou vários problemas para nós! Você...
- É que eu não liguei para cá ontem.
- Não foi ontem? Quando você ligou para cá e fez toda aquela confusão, hein?
- Eu nunca liguei para vocês. Nem sabia que essa sala tinha telefone...
- Tá, mas afinal, o que você quer? - (bufando)
- Eu preciso fazer minha matrícula na disciplina Cultura e Tradições Populares porque não sou desta unidade.
- Mas quem falou para você que, por não ser desta unidade, você deveria fazer a inscrição aqui?
- A professora desta disciplina, Madame Abry.
- Olha, sinceramente, vocês estudantes, só me arrumam preocupação! Vou ligar para sua unidade e falar com a secretária do seu master que você está aqui me causando confusões. (pega o telefone e disca)
- Mas qual é o problema? Eu devo fazer a matrícula em outro lugar, é isso?
- Claro que não! (desliga o telefone) Ninguém atende na sua unidade.
- Ahm... então onde eu devo fazer isso? Lá mesmo na Comunicação?
- Você ainda não entendeu? Mas que dificuldade, hein! Você deve se inscrever aqui mesmo!

Que pena que eu não estava com a minha maletinha primeiros socorros terroristas para explodir toda aquela sala, que pena. E não é que agora já consigo até fazer cara de blasé quando esse tipo de episódio acontece? Estou seguindo um dos melhores conselhos do meu copain. Da série "como sobreviver na França": "Te acostuma a ser xingada".

domingo, outubro 05, 2008

Baleia fora d'água

Estou numa fase muito esportista, né. Tenho até tênis profi de jogging e voltei a nadar. Comprei maiô da Adidas, óculos Speedo, touca prateada: um luxo!
Mas eis que chego na piscina da universidade e me deparo com a mulherada de biquíni de praia. Pior: biquínis floridos, desbotados, anos 90, daqueles que a gente guarda pra fazer depilação, sabe? Terrible. E eu, toda olímpica, alongando meus músculos, me sentindo a própria Laure Manaudou (nadadora francesa perdedora, mas goxtosa), obrigada a dividir espaço com uma criatura que usa traje de praia branco transparente e maquiagem na piscina. Zeus me livre!
Ainda pude constatar outras bizarrices da natação francesa. Primeiro, vestiário completamente aberto, sem repartições: todo mundo vê a gente se pelando. Não goxtei. Segundo: antes de chegar na piscina, a gente é obrigado a se lavar com sabonete na frente do treinador e a passar por uma mini-piscina lava-pés (que nojo!) no melhor estilo Jesus andando por cima da água. Terceiro que, no banho, depois de nadar, ninguém pode tirar o maiô porque o banheiro coletivo é completamente aberto (e que, aliás, é aquele mesmo chuveiro que a gente tem que lavar antes de entrar na piscina). Quarto que, na saída do vestiário, me deparei com vários secadores de mão (aqueles de banheiro, sabem?) e que descobri que, na verdade, o objetivo deles é secar os cabelos. E quinto e pior de todos: que infelicidade nadar com colegas que não se depilam. Sovaco cabeludo é pra lá dégueulasse...