Ma vie en rose

De frente, de lado, de costas. En France.


quarta-feira, agosto 27, 2008

Entre o liberado e o proibido

Em uma das algumas trilhas que fizemos em Cassis, cidadezinha no litoral sul da França, chegamos a uma praia de pedra, bem longe da badalação do verão francês. Atraídos pela tranqüilidade do local, resolvemos nos estirar no sol e aproveitar da paisagem particular desse lugarzinho escondido. Até que, já instalados e fazendo uma observação mais detalhada, nos deparamos com uma baita surpresa: estávamos em uma praia nudista! Isso mesmo, todo mundo pelado, bem feliz, com ou sem a mão no bolso.

Mas, mas, como assim ninguém nos avisou? Nenhum cartazinho ou plaquinha indicava as restrições da área... Nem no mapa de Cassis, nem nas informações turísticas. Não que a gente tenha procurado, claro. Até porque o topless das francesas já me é pelação suficiente.

Agora, me digam, o que faz que alguém institua o nudismo em uma praia de pedra à beira do Mediterrâneo? Porque além da falta de areia ser desconfortável, as rochas são extremamente quentes e, como todo mundo sabe, esse mar é pra lá de salgado. Ou seja, se já amassa, queima, arde e assa com a proteção das partes íntimas, imaginem sem.

Se isso não é das maiores bizarrices, um tiozinho resolveu inovar (mais ainda?), na mesma praia, com um traje um tanto atípico. Canisso na mão (calma, canisso de pesca, minha gente!), chinelinho, boné e... um mínimo string denotando suas protuberâncias branquelas. Caetano Veloso de tanga rosa nas praias cariocas é démodé. Tamanha ousadia deixou a desejar até os os mais bagaceiros biquínis brasileiros. Désolé, gostosas! Pobre usa fio dental, schique mesmo é macho de string.

Enquanto isso, pelas ruas de Cassis, avisos proíbem os veranistas de andarem em trajes de praia pelas ruas.

Mas esse mundo está virado ou o quê?! Confesso que esse jogo de pode/não pode me deixou um tanto confusa... Desde quando se regulamenta como andar no calçadão da praia se logo ali na frente do mar está todo mundo despido?

E antes que me perguntem se entrei no clima do paraíso, NOT. Bem pelo contrário, decidi vestir meu shortinho e minha camisetinha só para não ser parte do consenso.


Acho que teve mais gente que não se deu conta que estava em uma praia nudista...

quinta-feira, agosto 14, 2008

Espírito olímpico (de porco)

Estava aqui pensando que é fácil fazer o retrato de um povo só observando seu comportamento durante as Olimpíadas. Mas é claro que eu não vou fazer porque não sou socióloga, nem antropóloga, e o Jornalismo me dá créditos suficientes pra eu escrever o que eu bem quero sem ter propriedade nenhuma. Então vamos zoar... de quem mesmo?

Os franceses diante dos jogos não são nem um pouco diferentes dos franceses do cotidiano. Para começar, eles acham que os atletas têm a obrigação absoluta de trazer medalhas de ouro e nada além de medalhas de ouro. E ficam desdenhando os bronzes e as pratas que ganham. Porque ouro é coisa de gente schique, ou phina, como diria meu amigo Rafabal.

Se o atleta perde na final, ele não é o segundo melhor, ele é le fiasco. E ainda paga a pena de ser perseguido pelos jornalistas franceses para explicar o porque de ter ganho a prata ou bronze. E os técnicos morrendo de vergonha por não terem alcançado o lugar mais alto do pódio: "Não sabemos o que dizer porque não temos justificativa para essa derrota".

Na televisão, nos jornais, na internet, não se fala de outra coisa além do fracasso da França nas Olimpíadas – vergonha nacional por conta da meia dúzia de pratas e bronzes nessa primeira semana de jogos. Aqui é oito ou oitenta, não tem meio-termo. Neguinho perdeu, vai pra guilhotina.

Felizmente os pescoços foram salvos entre hoje e ontem quando eles abocanharam dois ouros. Ganhar dois ouros em um dia só é schique. Mas não me perguntem no que, estou pouco me lixando, mais me interesso pelo teatro dos bastidores do que pelas competições em si. Além de eu achar Olimpíadas so last week, penso que é perda de tempo ficar acompanhando transmissões que a gente nem sabe se são reais. Vai que é tudo montagem do governo chinês pra ficar mais bonito na televisão.

O mais divertido é que lá na terra das bananas, onde fazemos uma propaganda forçadíssima de todos os nossos atletas e temos um narrador do inferno pra ficar gritando "vai, Brasil!" de dois em dois segundos e repetindo que "o importante é competir" a cada 15º lugar que a gente leva, temos quatro bronzes. Mas estou acompanhando só pra rir as estripolias dos nossos atrapalhados atletas verde-amarelos. A equipe feminina de ginástica olímpica é um prato cheio. Faz 47 anos que são as mesmas gurias a cair de de pernas abertas e de bunda no chão, a dançar o "Brasileirinho" (de novo?) na prova solo e a abrir o bocão e chorar na frente de todo o mundo o desgosto da derrota, como se ela fosse novidade. Fotos de Jade se esgoelando toda melecada estão em vários sites de notícias – que vergonha minha gente! E não era tão bom ficar com o 15º lugar? Medalha de papel pra vocês!

Pior é que quando voltarem para casa, todos enrolados na bandeira do Brasil, ainda vão aparecer no Fantástico para explicar o quanto eles são coitadinhos e ainda desfilarão em carro de bombeiro. Cá entre nós: coisa de pobre!
Saudades mesmo era da época em que eu via os jogos com o meu pai. A gente torcia muito, muito mesmo. Pela Argentina.
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Vendo competição de esgrima:
- Acabou a competição e os dois ficaram vivos. Gente sem graça!
- Ahn? Do que tu estas falando?
- Que se eu estivesse disputando esgrima eu ia querer matar meu adversário com um golpe final. Não tem graça deixar o perdedor viver.
- Tu tá louca, Dany?
- Se bem que se eu perdesse eu ia ficar com tanta raiva que eu ia mesmo era bater no adversário. Tipo no judô. Quem perde, poderia dar um chute no outro. Pra compensar, entendeste?
- Eu acho é que tu não entende nada de jogos...
- Olha esse cara esse francês aí da canoagem. Como ele ficou em segundo lugar, ele poderia dar uma remada na cabeça do primeiro. Mas a mulher do segundo estava lá olhando. Então, o cara que ganhou o ouro devia ficar com a mulher do prata.
- (me olha com cara de incrédulo)
- É por isso que nunca fiz esporte nenhum na vida. Não tem emoção nenhuma!
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By the way... Sueco se irrita com juízes, atira medalha e abandona luta greco-romana, na Folha Online. Esse é dos meus!

quarta-feira, agosto 13, 2008

Boliviano, clandestino - parte 2

Aproveitei que fui na prefeitura levar o documento que haviam me pedido, e resolvi me entregar para as autoridades. Queria saber se a prisão aqui na França também é schique.
No balcão de atendimento, mostrei a carta socilitando meu comparecimento com o papel que faltava para a requisição da carte de séjour. O atendente olhou os documentos, e disse que estava tudo certo, que em pouco tempo eu receberia meu recepissé pelo correio. "Merci, bonjour, au revoir", ele se despediu na tentativa de se livrar rapidamente de mim. Pensou que fosse assim, facinho. NOT.
- Moço, não é só isso. Olha aqui meu passaporte - e fui estendendo os braços para ser algemada.
Ele fez cara de impaciência, olhou meus dois vistos e me disse o que eu já sabia:
- Ah, teu último visto venceu no dia 3 de agosto.
- Sim. Eu estou ilegal, não é?
Uma nova cara de impaciência:
- Há quanto tempo você fez seu pedido de carte de séjour?
- Três semanas. Me diz se eu sou clandestina.
Ele ri (muito bom se divertir com o desespero dos outros!).
- Calma, fica tranqüila. Você não está ilegal. É só não utilizar seu passaporte até receber seu recepissé. Ou seja, você não pode sair da França.
- E de Grenoble, posso sair?
- Por enquanto seria bom que você não saísse de Grenoble também.
- Mas moço, sabe o que é? Eu queria tirar férias.

E ele me lança um olhar de ira, faíscas saindo dos olhos. Agradeço, guardo meu passaporte no fundo falso da bolsa (porque sempre tem polícia na prefeitura) e vou correndo para o meu esconderijo em casa. Quatro dias depois do incidente, ontem, recebo meu documento temporário pelo correio. Pronto, amiguinhos, vocês não precisam mais ir tomar champagne com caviar comigo na cadeia. De quebra, ainda acabei com a diversão da criatura que atende o telefone e diz para os amigos que eu não posso falar porque estou escondida da imigração debaixo da cama.
Mas ainda estou cantando Manu Chao. Inferno!

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- Minha vez de escolher o brinde.
- Ah, Dany, mas eu já tinha escolhido...
- Tá bom, tá bom, faz. A quê?
- Um brinde a tua primeira semana como clandestina!

quarta-feira, agosto 06, 2008

Peruano, clandestino

Remexendo na minha bolsa, encontro meu passaporte abandonado desde a última viagem, há um mês. Abro na página do visto e o pânico toma conta deste corpo. Desesperada, procuro um calendário e tenho a confirmação de que estou ilegal na França há dois dias.

Acalmem-se, o chilique foi consciente já que meu pedido de carta de residência foi feito faz duas semanas, o que, na teoria, não me torna exatamente uma fora da lei. Só se, claro, alguma autoridade resolva consultar meu passaporte e verificar que eu estou ilegal. Porque, na prática, meu récépissé , o documento temporário de permanência, deveria ter sido enviado pela Prefeitura de Grenoble há uma semana, mas não chegou ainda. E eu não tenho nada que comprove que fiz a requisição da carte de séjour. Conclusão: sou uma pseudoclandestina.

Férias na França é pior que Brasil no Carnaval: nada funciona e, se funciona, é mal. Enquanto os funcionários da prefeitura estão aproveitando o verão em Côte d'Azur, à beira de la Méditerranée (mas que eu gosto de ficar pensando que eles estão mesmo é em uma praia paradisíaca da Grécia, só pra eu ficar com mais raiva ainda), sigo trancada nesse apartamento, olhando movimentos suspeitos pelas frestas da persiana (acabou de passar uma viatura!!!), sem fazer barulho, sem atender a campainha e o telefone, mimi de medo que alguém me descubra e me denuncie. E vocês não fariam isso, não é, amiguinhos?

Confesso que saio de casa somente pra correr no parque, porque aí ninguém me pega. Explicome: no desespero de que meu récépissé não chegue, estou treinando pra fugir da polícia. Porque, afinal, eles também devem estar de férias... onde mesmo? Já sei, na Polinésia, estirados na areia branca, bebendo um cocktail exótico e tomando longos banhos de mar nas águas quentes até enrugar os dedos dos pés e... aaaaaaaargh, ódio!

E pra melhorar tudo, "Clandestino" do Manu Chao, não me sai da cabeça.

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- E hoje, vamos brindar a quê?
- Hummmm... vamos brindar aos teus dois dias de clandestina!

Santé!

Aline no planeta vermelho

Ou moi en France.



E não é mera coincidência!

sábado, agosto 02, 2008

Quem não se comunica...

...se trumbica:

- Olha, Dany, quantos boinhos!
- Quantos o quê?
E ele aponta para uma manada de bezerros no pasto.

Achei tão fofo que tive vontades de não corrigi-lo. E ele ia ficar puto quando lesse esse post. Mas confesso que hesitei durante um bom tempo porque seria ótimo ouvir "boinhos" de vez em quando. O dia ficaria melhor, ajudaria a amenizar minhas azedices, iluminar um momento fosco. Mas estávamos na Irlanda do Norte e na França não vemos tão freqüentemente tantos... "Boizinhos é o diminutivo plural de boi". Arf, como me odeio!

Voilà, casal misto dá nisso. Eu acho uma pena ter que corrigir errinhos meigos como esses. Talvez pelo sentimento mútuo das situações constrangedoras que podem causar essas revisões. Às vezes é chato, outras, desnecessário, e outras ainda - as piores desta mini-classificação - é cansativo. Tipassim, quando teu interlocutor é um maaaaala e não te deixa terminar a porcaria de uma frase mesmo que ele entenda exatamente o que tu estás falando. Me diz se não dá vontade de acertar um chute no saco.

Esses dias eu estava no gtalk com um amigo francês (oh, eu não falei que eu tinha um!) e não lembro exatamente qual foi o contexto que me levou a dizer que eu estava "déceptionnée". Ele vibrou com a declaração, mas logo descobri que nada tinha a ver com o meu estado saco cheio, mas com a grafia da palavra "decepcionada". Jura que ele queria me dizer qual era o correto! "Deixa assim, tão bonitinho", ele se negava. Mas, boa chantagista que eu sou (muahahahahahaha!), descobri que o certo é "déçue", embora ainda prefira o "déceptionnée"...

E aí que peço pra ser corrigida não só porque eu sou masoquista (ai, me bate, vai!), mas porque eu sou campeã em neologismos em francês. Vivo inventando verbos através de substantivos ou adjetivos e vice-versa. Às vezes o chute é bem sucedido, outras vezes mando lá na torcida - em certas ocasiões, propositalmente. Se cair na adversária, então, melhor. Dou risada tão alta que não ouço a correção (repreensão?). Porque nem sempre a gente quer um professor de gramática full-time te buzinando no ouvido. Nem os meus melhores professores de francês têm essa posição.

E como se não bastassem minhas dificuldades de não falar bem francês (ainda?) e de ter esquecido o inglês e o espanhol por conta do aprendizado intensivo que tem pouco menos que um ano, agora começo a esquecer o português, a grafia de algumas palavras, a naturalidade das conversações. Parodiando a Cansei de ser sexy, não sou loira e nem sou burra. Anotem: se isso não for Alzheimer, considerarei seriamente a possibilidade de aprender a língua dos sinais.