Ma vie en rose

De frente, de lado, de costas. En France.


quinta-feira, janeiro 31, 2008

As plastificadas que me perdoem

Mas minha sanidade mental é que é fundamental. Porque voltar ao Brasil é também retornar à neura da beleza física, do corpo perfeito, do bronzeado em dia e dos cabelos (a)lis(ad)os e dourados. Ou seja, exatamente o contrário do que eu sou.
Durante cinco meses na França, passava sem medo pelas farmácias, já que lá não é tão fácil assim encontrar uma balança. Nos primeiros meses, até encarei correr no parque porque, sem hipocrisia, gosto de exercícios físicos. Mas depois que esfriou (muito), eu me divertia mais comendo queijo e bebendo vinho em casa.
Ainda não descobri qual é a fórmula mágica, mas os franceses são um povo magro por natureza, apesar da sua dieta (teoricamente) calórica. Além disso, ninguém lá fica discutindo plástica, lipospiração, drenagem linfática ou sei lá mais qual futilidade estética, como se faz aqui no Brasil. Não é à toa que somos o segundo país em número de cirurgias plásticas, só ficamos atrás dos Estados Unidos. Um absurdo se pensarmos que vivemos em um país onde falta educação, emprego, segurança, saúde e... o que mais mesmo? Só não falta silicone.
Na França, ao invés de passarem publicidade de mulher pelada tomando cerveja, as propagandas de qualquer produto alimentício sugerem a ingestão de frutas e legumes diariamente. Além disso, o povinho se movimenta e não foge dos exercícios físicos. Nas randonnées, muitas vovós me colocaram no chinelo: encontrei até casais de idosos fazendo jogging nas montanhas. E ai de quem me diga de que as francesas são feias!
O fato é que desde o momento em que voltei, tive que ouvir que estou gorda, que estou branca, que estou flácida, ao que eu respondo sem o menor remorso: estou feliz. Meu contentamento não cessou ao ver as moçoilas em seus mínimos trajes da estação, exibindo sua cor alaranjada de bronzeadores artificiais. Ou ver as últimas novidades de combate à celulite, ou o que fazer ter um abdômen de tanquinho em uma semana ou as dietas milagrosas que ensinam a tomar meio copo de vinagre antes de cada refeição: assuntos que renderam "importantes" matérias em revistas femininas daqui e que eu li dando muita risada.
Em uma das aulas sobre cultura e sociedade francesa, no semestre passado, discutíamos sobre beleza física. É óbvio que ela é importante, em qualquer parte do mundo. Mas todos foram unânimes em afirmar que há um limite, tanto para o corpo quanto para a mente. Porque é doentio essa gente que passa o dia contando as calorias daquilo que come. Ou, como eu vi dias atrás em uma loja, uma menina que deixou de levar uma calça que ela provou e gostou só porque o número da calça era 38 e ela, que veste 36, não queria se sentir gorda. Foi cômico ver a garota se espremendo, em sucesso, em um minúsculo jeans que ela insistia em dizer que ele iria "ceder" depois de algumas horas de uso. Não cedeu. Pior ainda, é uma amiga do meu irmão, que contava, ansiosa, os dias para completar 19 anos. "Vais fazer uma festa?", perguntei, inocente. "Não, vou ganhar peitos de silicone dos meus pais." Diante da minha expressão incrédula, a adolescente me explicou que sofre de um agudo complexo de inferioridade por não portar vastas protuberâncias naturais.
Ah, galera, o que é isso?! Lipospiraram o cérebro das pessoas junto com a gordura, só pode. Depois de tanto me indignar com a "preocupação" alheia, e apelar para aquele famoso clichê de que tem tanta coisa mais importante no mundo pra se preocupar, resolvi me precaver para não me intoxicar com essa ignorância: reservei minha passagem de volta. Porque eu não vejo a hora de voltar a comer queijo, beber vinho e subir montanhas...

sábado, janeiro 12, 2008

ET, telefone, minha casa

E então que a volta rápida ao Brasil inclui longas resoluções de várias burrocracias e problemas mal resolvidos por falta de paciência minha e empecilhos (reais ou fictícios, vai saber) gerados pelas outras partes. E então que continua minha eterna briga com as companhias de telefone. Coisamaisridículadomundo, faz seis meses que eu não moro mais aqui e eu continuo tendo um número de telefone que continua funcionando e a Brasil Telecom continua me explorando por conta deste serviço fantasma. Eis que, dizem eles, eu tenho um contrato fidelidade (que nunca assinei, nem nunca ouvi falar) da internet turbo deles por sei seiláquantotempo, porque tudo nas companhias de telefone é um mistério. Sei que, antes de viajar para a França, entregar meu imóvel em Porto Alegre e tentar fazer o desligamento do telefone, eles me informaram que eu não poderia cancelar a linha devido ao contrato fidelidade da internet turbo. Ou seja, há seis meses eles me cobram telefone e internet sem que eu ao menos esteja aqui para xingá-los. E em julho, eles me disseram que somente janeiro eu poderia fazer isso. Aí, essa semana, mais uma nova tentativa de fazer o tal cancelamento. Só que, depois de ficar mais de uma hora trocando entre um atendente e outro, eu descobri que ainda não posso fazer isso. Porque uma conta gigantesca do que eu não utilizei precisa ser paga para que os serviços sejam desligados. Resultado: enquanto eu não quitar meu "débito", adivinhem, que supresa!, a Brasil Telecom continua cobrando.
Eu havia me desacostumado com esse tipo de situação e nem me lembrava mais como eu deveria reagir. Lembro que, no primeiro mês que cheguei na França, o Florent me contou que havia recebido uma conta de gás que ele não sabia se era dele, mas ele foi lá e pagou a fatura. Um tempo depois, recebemos uma carta da companhia de gás pedindo desculpas e dizendo que aquela fatura realmente já havia sido paga e devolveram o dinheiro. Aqui, no Brasil, eu não tenho o direito nem a saber a quais serviços exatamente se referem esse valor que eu vou pagar (sim, eu vou pagar, é o preço da abolição da minha escravatura telefônica!) porque nenhuma das atendentes acéfalas soube me dizer. "Só o que podemos lhe informar é que esse valor são de faturas anteriores, senhora." Ah, sim, do jeito que enganam gente, temia até que fossem faturas posteriores. Ainda bem que ela me avisou.

quinta-feira, janeiro 10, 2008

O melhor e o pior

Temporariamente no Brasil, para visitar a famille e resolver burrocracias, eu havia me esquecido de como o verão era calor, de como as cidades ficam desertas (e as praias lotadas), de como o carnaval é irritante e dessa neura de corpo, peito, bunda, barriga sarada e bronzeado em dia que meus conterrâneos impõem a si mesmos e aos outros.
A primeira pergunta para quem chega de fora, depois de uma longa viagem, é: "Foi bom?". Foi, não. É. E vai continuar sendo. Porque fico aqui só até o começo de fevereiro. E depois: "Lá é melhor?". Resposta: "O meu desespero para voltar responde". Seqüência: "Sentiu falta do Brasil?". Resposta: "Senti falta da família, dos amigos, do Beco, do churrasco, das calcinhas brasileiras (porque na França ou a gente compra uma calça de vó ou a gente compra um string: não tem meio-termo) e de suco de laranja (porque na França tem Guaraná Antártica e caipirinha, mas não tem suco de laranja)".
Já no segundo dia de Brasil, uma briga na hora do almoço com a mãe. "Então quer dizer que tudo lá é melhor?", ela me desafiava. "Tudo não. O churrasco, as calcinhas e o suco de laranja aqui são melhores. Tão melhores que eu tive que voltar para o Brasil para comer churrasco, comprar calcinhas brasileiras e beber suco de laranja natural". Indignada, ela listava: "Mas nossa alimentação aqui é melhor". E eu: "Tirando o suco de laranja e o churrasco, tudo o que tem aqui, tem lá. Mas eles ainda têm queijo, vinho e uma culinária tri refinada". Terceiro round: "Mas a gente tem cerveja boa", ela retrucou. "É que tu não conhece a cerveja européia." "E as brasileiras são mais bonitas", começa a apelação. "Tem mulher bonita em todo o canto do mundo, mãe". "Mas as brasileiras são internacionalmente reconhecidas pelo seu charme, sua beleza...". "E as francesas por se vestirem bem." Quinto round, baixaria: "Se vestem bem, mas não tomam banho. De que adianta?" "Adianta que eles têm os melhores perfumes". "Ah, tá, guriazinha, então, se lá é tudo melhor, porque tu não voltas pra lá logo?". "Tão logo quando fevereiro chegar". Nocaute. O clima segue tenso até a hora da sobremesa. "Vai dizer que o sorvete lá é o melhor também". "Ahn? Ah, isso aqui era pra ser um sorvete? Pensei que fosse manteiga com açúcar". O que acontece depois, meu bom senso não me permite contar...
Ironias à parte, acho que todo mundo, quando viaja, tem essa sensação de que encontrou o melhor fora de seu ninho. Não acho que a França seja melhor que o Brasil ou vice-versa, mas acabamos conhecendo novas situações, sensações, pessoas e lugares (e sorvetes) diferentes daqueles aos que estávamos acostumados. O novo é sempre diferente, nos completa, nos agrega conhecimento, vivências e experiências. Tenho amigos franceses que acham que o Brasil é o melhor lugar do mundo e para eles, tudo o que eles viram/fizeram/conheceram por aqui, realmente foi o melhor que eles puderam ter comparado ao que à rotina em seus lugares sempre propiciaram.
O mais interessante de tudo isso, para mim, não é selecionar o melhor ou o pior, mas ampliar a visão, a percepção e a informação de um mundo que antes era restrito a um certo espaço, que, agora, aumentou. Ao explicar isso para a minha mãe, ela lembrou que não foi só meu conhecimento que aumentou, mas também minhas formas se expandiram, em paralelo às minhas experiências. "Bem gordinha, né!". "Pois é, mamma, tudo culpa do vinho, do queijo, do sorvete, do chocolate..."