Ma vie en rose

De frente, de lado, de costas. En France.


sexta-feira, setembro 14, 2007

Da série manual de sobrevivência: como pedir uma Coca-cola na França

Em um sabado intensivamente e desnecessariamente ensolarado, tento abrir caminho entre os 500 mil habitantes de Grenoble que resolveram todos ir ao shopping no mesmo horario. Descubro que calor, em qualquer lugar do mundo, tem o mesmo efeito para mim: morte. Quase desmaiando, paro em frente a um café.

- Bonjour. Je voudrais a Coca-cola, s'il vous plaît.
A atendente sorri e balança a cabeça, enquanto me explica e me aponta com o dedo que na geladeira nao tem o que eu pedi.
Me seguro no balcao. Ela me observa assustada provavelmente com a cor do meu rosto, que deve estar no limite entre o branco e o transparente. Atras dela, uma geladeira enorme, com 653 latinhas de Coca-cola, acena para mim.
- Coca-cola - repito pausadamente e aponto.
- Desolé - ela responde com uma vozinha amavel, virando as costas.
Minhas pernas estao bambas, sinto as costas molhadas de suor e vejo as estrelinhas da pressao baixa. Vou morrer na frente de um café français pedindo uma bebida americana: soh pode ser um complô do Sarkozy contra moi.
- Coca-cola! - reuno toda a minha força e grito, bem alto, sem medo de ser latina.
Ela se volta sem o sorriso e com uma nem tao simpatica expressao de impaciencia.
- Do you speak English?
- Oui! English! - obrigada Deus, Dieu, God! Obrigada mae e pai por terem pago 10 anos de Yazigi para mim durante a minha feliz infancia/adolescencia de Cocas facilmente acessiveis no Brasil!
- So - ela me olha no fundo dos meus olhos semi-revirantes.
- I want a Coke. A Coooooke. Vous comprenez?
- Ah! A Cocah! - ela repete exatamente o que eu estava dizendo, desde o começo, com o acento agudo no A.
Pago o absurdo de 2,5 euros pela Cocah, faço papel de latina escandalosa e acéfala e ainda devo explicaçoes ao namorado que foi proibido de me ajudar e observou tudo de longe.
- Mas é tao dificil assim de pedir uma Cocah?
- Tu nem imagina. Rende um post no blog.

Rende ainda um final tragicômico quando percebemos que, ao lado do café, uma maquina de refrigerantes vendia, automaticamente, latas de Coca-cola a 1 euro.

quinta-feira, setembro 06, 2007

Le barbecue

Traumatizada pela overdose de queijo, aceitei na hora um convite para um barbecue. Depois do susto de ver o preço da carne no supermercado - um bifinho custa dez euros! - me animei toda com a possibilidade de retomar o que é quase uma obrigaçao nos finais de semana no Brasil: o churrasco. Mas minha desconfiança começou quando fui informada que a cerveja nao estava gelada. Alias, na Europa, ela nunca estah nem nunca vai estar. Dizem por aqui que o excesso de refrigeraçao acaba com o sabor da bebida. Hum, ok. Alias, no nosso churasco à francesa, pudemos sentir bem o gosto da Heineken que fervia nas bochechas com o calor de mais de 30 graus da ultima semana.
E estamos todos reunidos, bem felizes, comendo baguette com pepino e ebulindo a cevada na frente do fogo. Eis que procuro, em vao, o sal grosso. Começo a especular que, assim como cerveja quente, o churrasco seja feito sem a especiaria: pourquoi pas? O fogo estah aceso, mas nada de a carne dar o ar de sua graça. Começo a ficar realmente preocupada - e decepcionada - quando esganiçadas linguiças sao espalhadas pela grelha. Ai, que medo!
"Mas, e a carne?" - pergunto, em portugues, para o meu namorado. "Estah ali, assando", ele aponta a brasa. I predict a riot: o churrasco deles é feito com chipolatas, um salame, que, pelo nome, presumo que seja italiano, e que nao tem um quinto do tamanho dos nossos salsichoes! Ei, quero explicaçoes: "Mas é um churrasco sem carne?" - insisto. "Nao é um churrasco, é um barbecue", Florent responde se deitando de tanto rir da minha expressao de dor e infelicidade.
Eis entao que resolvo explicar o que é um churrasco no Brasil. Um grupo de franceses ouve, incredulo, com os olhos arregalados e verdadeiramente impressionados, que usamos um pedaço de carne enoooooooorme, mostro o tamanho com as maos: "comme ça", com muito sal, muita cerveja gelada, e que saudade! com chimarrao. Estufo o peito, orgulhosa: "c'est ainsi au Brésil, c'est mon pays". Eles sorriem, comentam entre eles, vibram com a historia. Até que um dos churrasqueiros resolve achar que eu estou menosprezando as apimentadas, demilinguidas e caloricas chipolatas (imagina, eu!) e resolve me mandar de volta para o Brasil. Engulo mais um pedaço de pao com pepino e um gole de cerveja quente. "Excuse moi..."
De volta em casa, meu estomago se recusa a digerir a mistura de carne de porco, pimenta e muita gordura do churrasco frances. Durante toda a madrugada, temos longas conversas e travamos um acordo para que ele aceite o nobre alimento. Ao meu lado, o estomago do Florent tambem relembra os quase dois anos de Brasil. E admite, mesmo que isso renegue suas raizes: parece que nao sou soh eu que sente falta de uma boa picanha.