Ma vie en rose

De frente, de lado, de costas. En France.


sábado, março 17, 2007

Noiva em busca

No trabalho, às 9 horas da manhã, atendo o telefone.

- Alô, Daniela?
- Sim, eu mesma. Com quem eu falo?
- É a Márcia, tudo bem? Eu só queria te avisar que está tudo certo com o repertório das músicas do teu casamento.
- Como é que é?
- Não, fica tranqüila. É só pra te avisar que ensaiamos ontem e não na terça, como havíamos te dito. E eu também queria te pedir desculpas porque...
- Espera, espera. Meu casamento?
- Teu casamento vai ser no sábado, não vai?
- Ah, vai ser no sábado, é?
- Porque, o que aconteceu? Tu mudaste a data?
- Não, não. É que sábado é um tempo bastante curto pra eu arranjar um noivo.
- Tu não és a Daniela que vai se casar neste sábado?
- É que eu nem tenho noivo ainda. Mas, prometo, vou conseguir, vou conseguir!

Eba, tem festa hoje! E tá todo mundo convidado!!!

segunda-feira, março 12, 2007

Na pele



Ontem, revendo as fotos de um feriado, elegi uma preferida: calmamente, ele caminha para o mar, ao lado de um amigo. Observar o momento, clicado por mim, me trouxe à tona a sensação do toque e da temperatura da pele dele naqueles dias. A imagem levou ao meu inconsciente o quanto eu gostaria de repetir aquele ato tão comum: estender a palma da mão nas costas dele, medindo o calor do sol na epiderme bronzeada. Depois o abraço, aproximar minha face à coluna, entornar seus ombros com os meus braços, sentir a pele quente nos meus lábios. Mas o carinho não vinha só, era sempre acompanhado pelo sentimento de angústia por saber que aquilo, em um dia bem próximo, tinha data marcada para o fim. Por sorte, ainda consigo repetir o gesto em sonhos como o da última noite – um alívio temporário, mas doloroso. Porque quando acabam, passam ser uma ilusão, assim como as lembranças. Porque sonhos também têm fim. Mas não a tristeza, como já dizia o poeta.

Ouvindo: Not over yet - Klaxons
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domingo, março 04, 2007

Perdidos

Estava sozinha na parada de ônibus, na frente do Hospital Mãe de Deus, depois de uma pauta. Quando o T2, o ônibus que eu aguardava, estava a menos de duas quadras, um senhor bem velhinho se aproximou para pedir informação. Pelo forte sotaque, percebi que ele era de alguma dessas cidadezinhas do interior, provavelmente descendente de alemães. Perdido, queria saber que ônibus ele poderia pegar dali até o centro de Porto Alegre. Respondi que nenhum ônibus que passa ali vai até o centro.
- Eu estava na outra parada, do outro lado da rua, esperando o T5, mas me disseram que eu tenho que pegar o T5 deste lado – me explicou.
Neste momento, o T2 parou para eu entrar.
- O que eu faço? – perguntou ele, completamente desnorteado, enquanto eu me perguntava o que deveria fazer. O motorista, com o olhar, me fez a mesma indagação.
Antes de subir no ônibus, ainda tive tempo de dizer que o T5 passava ali, mas não ia até o centro. Pela janela, percebi que o senhor continuara no mesmo lugar, olhando para os lados, provavelmente procurando outra pessoa que lhe desse alguma informação útil, ao contrário da minha.
Me senti muito pequena, ridícula, egoísta, boba, idiota. Talvez, se eu tivesse permanecido no local e o ajudado, eu perdesse dez minutos do meu tempo, mas faria o bem a alguém – o que era nenhum favor, mas, naquele momento tornou-se quase uma obrigação.
Eu sabia o que era o certo e o que me acalmaria, e me segurei para não descer na próxima parada e voltar correndo, pedir desculpas pelo desdém e auxiliar o senhor. Como uma típica covarde, escolhi um lugar, me sentei e me encolhi, tentando conter o choro e esconder minha vergonha do resto do mundo. Quando olhei novamente pela janela, eu já não sabia onde estava. Me conformei pensando que, naquele estado, não valeria mesmo a pena ajudar ninguém. A verdadeira perdida era eu.

sexta-feira, março 02, 2007

Casa

Ao chegar em casa do aeroporto, olhei ao redor e não me reconheci em nada. Tu, ao contrário de mim, estavas por tudo. A cama desarrumada, as taças de champanhe na pia da cozinha, as toalhas ainda úmidas do banho da manhã.Não tive coragem de tocar em nenhum objeto, como quando um estranho chega em uma residência alheia. Caminhei pelo apartamento, olhando cada detalhe, relembrando passagens e acontecimentos. Tentei visualizar tua movimentação pelos cômodos naquela última manhã que passaste por aqui, desejando profundamente que o tempo retrocedesse para que eu não precisasse reviver sozinha tudo aquilo. Em vão. Uma solidão escura e dolorida pairou e choro foi inevitável. Estavas por tudo, mas não estavas comigo. E nada do que havia era só meu. Os cds, os livros, os dvds, as roupas espalhadas, uma embalagem de um presente: tudo compartilhado por nós dois. Brinquei de imaginar que estavas às minhas costas, mas a dor foi maior ainda quando tive vontade de me virar – fui barrada pela realidade da tua ausência. Nem as minhas lembranças são só minhas.Quando retornei à sala, encontrei um bilhete dizendo o que eu jamais consegui. Me culpei pelo egoísmo de nunca haver explicitado, a esse ponto, meus sentimentos. Mas, agora, não tinha mais volta, já estavas a milhares de quilômetros de distância. Me restou sentar no chão, que sempre foi chão – meu, teu e de todo mundo – para esperar o tempo passar. Porque agora estou sem casa.

“E até mesmo no vão entre a cama e a parede
na televisão e nas janelas
e no marco da porta.
Onde quer que se passe
essa casa cheirando a flores.
Essa casa é assombrada”
(Nessa Casa – Tom Bloch)
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