Ma vie en rose

De frente, de lado, de costas. En France.


quinta-feira, dezembro 28, 2006

De outro planeta

Ela acorda às 6h30 da manhã, pega ônibus lotado, trabalha por incessantes mais de oito horas por dia, durante cinco dias na semana, cobre pautas pela noite. Passa frio, toma chuva, e agüenta o sol do verão porto-alegrense para ir fazer as entrevistas a pé ou de ônibus. Por dia, ela rende várias matérias, textos, notas, agüenta as reclamações dos clientes e os xingões do chefe e ainda tem que usar camisa e sapato. E sorrir.
Chega em casa desmaiando de cansaço. Mas, mesmo esgotada, mas não esquece nunca de ler o jornal, os livros, de responder o e-mails e mensagens dos amigos, de escrever no blog, de ligar para casa e dar atenção à mãe, e dar conselhos ao irmão.
Ela vê o dinheiro sumir da conta na metade do mês, paga aluguel, condomínio, telefone, luz, sempre contando os centavos para se manter até o próximo salário. Almoça quando o trabalho permite; o mesmo acontece com as horas de sono que deveria dormir. E, quando fica doente, se cuida sozinha.
Ela se virou em mil para conseguir cumprir com todas as obrigações do trabalho e cobrir as férias do chefe, comprou os presentes de Natal, pegou um engarrafamento quilométrico e não conseguiu chegar à rodoviária, teve que sair correndo por entre os carros com duas malas lotadas e bater na porta do ônibus implorando para o motorista considerar seu atraso.
Enfrentou seis horas de viagem em um ônibus sujo e barulhento e chegou de madrugada a casa dos pais. Levou presentes, cartões e a ansiedade de rever a família.
No reencontro, ela esperou que notassem seu crescimento, que dissessem que ela deixou mesmo de ser uma menina, que elogiassem sua performance de gente grande, seu trabalho, sua responsabilidade, sua maturidade. Em vão. Porque tudo o que ouviu de volta foi: "Mas essa menina não vive no País do sol? Está branca, magra, com essas olheiras enormes. Parece até que veio de outro planeta! Tu me deixas cada vez mais preocupada, guriazinha".

Guriazinha.

quinta-feira, dezembro 14, 2006

Na cara

- Oi, menina! Quanto tempo! Como tu estás?
- Estou bem. Trabalhando muito, na correria sempre.
- Bom te ver. Você está tão bonita... Mas tem algo diferente em ti.
- Diferente? Não sei. O que é?
- Olha aqui para mim. Ahhhh... tu estás apaixonada!
- !
- Está estampado no teu rosto, não tem como esconder...

"Ever fallen in love with someone
Ever fallen in love
In love with someone
You shouldn't've fallen in love with"
(Ever fallen in love - Nouvelle Vague)