Ma vie en rose

De frente, de lado, de costas. En France.


domingo, julho 30, 2006

Santiago

Há alguns dias, Sabrina vinha se sentindo mal, tinha enjôos, tonturas, mal-estar; faltava o trabalho recém-aceito com freqüência. Ao final, resolveu aceitar o conselho do namorado e foi ao médico. Depois do check-up, o mistério foi desvendado.
- Tudo isto é conseqüência da gravidez – disse o clínico, sem rodeios.
- Ahn? Gravidez?
- Três semanas. Tu não sabias?

Foto: Aline Ebert
 

Santiago já veio ao mundo fazendo peraltices. Libriano que deve ser, já era de se esperar. Até porque, fruto de um cartunista e uma bailarina, não poderia ter um resultado muito diferente. De certeza mesmo, é que, por fora, a gente já vê que ele vai ser a coisamaisfofadomundo. E com um rol de fãs tão grande que vamos ter que competir para ver qual é a tia mais babona. Com licença, eu já estou na fila!!! Posted by Picasa

quinta-feira, julho 27, 2006

A cura

"Why are you so far away?, she said" (Just Like Heaven - The Cure)

Nota da autora: Me refiro ao Robert Smith

quarta-feira, julho 26, 2006

Handebol

Nunca fui muito sociável, é verdade. Deve ser por isso que até hoje eu odeio esportes e toda aquela integração necessária que dizem que precisamos para que o time ganhe. Na época do colégio, nas aulas de Educação Física, o que eu queria mesmo era que o meu time perdesse para que eu pudesse sentar de novo no banquinho velho de madeira e ficar olhando para cima, tentando me distrair, quando a vontade era voltar para dentro da sala de aula e ter aula de Literatura, Português, História, Geografia... Até Matemática aliviava os jogos terríveis e forçados de handebol. Eu começava a suar de aflição só de imaginar minhas pequenas coleguinhas 2mx2m se aglomerando em cima deste corpo atlético que vos fala quando tinha a posse da bola. Aliás, eu raramente tinha a posse da bola porque eu a atirava para fora, para cima, para outra dimensão, se fosse necessário. Desde aquela época eu tinha a consciência que a minha existência valia muito menos que muita coisa, mas bem mais que um jogo de handebol. Para melhorar, ainda tive a sorte de o meu colégio ter uma acirrada e comemorada tradição nos campeonatos estaduais da modalidade...

...

Em qualquer atividade que envolvesse interação eu era uma tragédia. Nem nessas brincadeiras de criança eu dava muito certo. Acabava me obrigando a perder para acabar logo com a aflição que gerava toda aquela correria de pegar, se esconder, encontrar. Eu era tão palhaça que ficava encostada no muro contando até 100, de olhos bem fechados, quando todo mundo já tinha desistido de brincar e ido embora. Quando eu me virava já não havia mais ninguém – situação que não ficou restrita a minha infância. Quantas vezes, durante esta quase longa vida, eu, a certinha, a ética, a amiga, a fiel, fiquei ali, de costas para o mundo, com os olhos tapados, acreditando que, quando eu desse meia-volta, as pessoas estariam ali por mim também. Não estavam. Não estão.

Sinceramente, se eu pudesse voltar no tempo hoje, gostaria de recomeçar a ter aulas de handebol. Parece que ainda não aprendi a jogar.

“Todos nós estamos na sarjeta, mas alguns de nós olham para as estrelas”
(Oscar Wilde)

“E quem olha se fode”
(Hilda Hilst)

sábado, julho 22, 2006

A (quase) louca

"Se eu fosse acreditar mesmo em tudo o que penso, ficaria louco."

Faço minhas as palavras dele.

quarta-feira, julho 19, 2006

Io non ho paura

Tu queres saber do que eu tenho medo? De barata, de filmes de terror, da Samara de “O Chamado”, de Linda Blair em “Exorcista”, de sangue, de ser burra, de voltar a morar em Tubarão, de fenômenos e histórias paranormais, da voz do “The Number of the Beast” do Iron Maiden e da risada de Thriller de Michael Jackson, de aniversários (e especialmente a parte em que cantam “parabéns pra você”), de ser assaltada (novamente) mas, especialmente, de perder minha mãe e meu irmão. Talvez esse último medo seja o mais grave e, com certeza, é o mais aterrorizante. E que eu evito de pensar, e até nem sei porque estou escrevendo isso aqui mas, enfim, veio bem a calhar e agora não tem mais volta porque este texto já foi publicado. Porque registrar é confirmar; e admitir meus medos é pior que reconhecer meus erros. E tu não sabes disso, mas eu não erro jamais.
É sério que tu achas sinceramente que, depois de eu ter passado uma infância reprimida, uma adolescência enclausurada, ter sido a esquisita do colégio, a problemática da família, a incompreendida dos amigos, vivesse/falasse/escutasse/conhecesse/quisesse/fizesse coisas que ninguém tinha a menor idéia do que se tratava, e só ter conseguido respirar um pouco depois de ter vindo pra essa cidade – que também é uma bosta, mas é melhor do que antes – e ter enfrentado a separação dos meus pais, a depressão da minha mãe, o alcoolismo do meu pai, estar longe do meu irmão quando ele mais precisou de mim, ter visto partir quem eu considerava ser “a pessoa” da minha vida e, mais recentemente - em ordem cronológica (preciso falar em ordem de importância?) -, ter saído do meu melhor emprego, ter visto meu pai morrer de câncer, ter perdido meu namorado e grande parte dos meus amigos, e ter recomeçado tudo do zero dois meses depois, mas estar aqui, de pé, agora, tu achas mesmo que, depois de tudo isso, eu realmente teria medo de me apaixonar?

"Wonder more
Want more than we did before
Try the new tease
Well, quiet you
Get over me
The shit is running and it runs deep"
(Way Out - Yeah Yeah Yeahs)

quarta-feira, julho 12, 2006

Voyeur

Levanta devagar, acende um cigarro, traga, senta. Olhar fixo no nada, despeja lentamente a fumaça no ar. Apóia o cotovelo no joelho, leva o cigarro até a boca. Inspira, expira. Me pergunta alguma coisa que eu não ouço, nem quero ouvir – não faço a menor questão. Sorri: “Tem certeza?”. Claro que eu não tenho, nem sei do que se trata. Faço que sim com a cabeça.
Coloca as cinzas em um recipiente improvisado (não tenho cinzeiro em casa). Repete a cena. Cigarro, boca, inspira, expira. Várias vezes. Com os olhos, sigo seus movimentos, leves, lentos. As formas rígidas, brancas, que quase nada se alteram com a entrada e a saída do ar dos pulmões. Perfeito.
Não sei quem és. Por que e para que apareceste? Talvez nem sejas de verdade, mas mais uma daquelas criaturas imaginárias que cultivo desde a infância. Inatingível, inalcançável. E também já não me importo com isto. “What difference does it make?”, canta Morrissey. Porque neste momento tudo o que quero é saber tua presença, real ou não. Te admirar e...

“Yo te prefiero fuera de foco
Inalcanzable
Yo te prefiero irreversible
Casi intocable”
(Persiana Americana – Soda Stereo)

sexta-feira, julho 07, 2006

Obs:

"Teu riso de vidro
Desce as escadas às cambalhotas
E nem se quebra, Lili!"

(Lili - Mario Quintana)

quinta-feira, julho 06, 2006

Depois das seis

Ela chega em casa, tira os fones do ouvido, o casaco, bebe um copo d’água e vai para o quarto. Tapa o espelho com um lençol (tem problemas ao se deparar com seu reflexo sem que haja a intenção de se ver), escolhe um cd da pilha fora de ordem, aperta o play.
Ela dança de olhos fechados passando a mão pelos cabelos, balançando a cabeça, sorrindo. “Come into my life forever” – ela se arrepia, rodopia, abraça o ar, canta alto. Um amigo invisível se aproxima, a puxa para perto dele, dança junto dela, sussurra ao seu ouvido. Os dois riem um para o outro, mas de olhos cerrados.
Ela se movimenta lentamente, balançando os braços para cima, dubla “Love is suicide, love is suicide”, envolve os ombros com os braços. Joga o corpo para frente, curvando-se bem devagar, depois volta, pescoço para trás, sacode a cabeça. E só abre os olhos muito tempo depois, quando o corpo já não agüenta o cansaço. Se atira na cama, ao fim do Mellon Collie, melancólica, mas feliz, sem ainda entender como pode tudo isso acontecer ao mesmo tempo.

Ela sente (tanto) a tua falta.

quarta-feira, julho 05, 2006

Cemetry gates

Foto: Roberto Nasi














A dreaded sunny day
So let's go where we're happy
And I meet you at the cemetry gates
Oh, Keats and Yeats are on your side
A dreaded sunny day
So let's go where we're wanted
And I meet you at the cemetry gates
Keats and Yeats are on your side
But you lose cause weird lover Wilde is on mine

(Cemetry Gates - Smiths)

domingo, julho 02, 2006

Polyanna

Hoje acordei com uma vontade imensa de dançar. Pulei da cama logo cedo, fiz mil planos para o dia, aceitei o convite de passear com a minha mãe, coloquei meias coloridas, tic-tac de lantejoulas, subi a lomba da João Telles sem reclamar, caminhei feliz pela Independência explicando para ela qual e como vai ser minha próxima tatuagem. Tive vontade de gritar de felicidade, ri alto, pulei. Fui ao supermercado sem reclamar do atrolho típico dos finais de semana de Porto Alegre. Cantei enquanto empurrava meu carrinho pelos corredores do Zaffari. As pessoas me olhavam e eu sorria de volta, na intenção de propagar meu sentimento. Bebi vinho e me diverti muito com a minha mãe torcendo contra o Brasil, gritando “Allez, France!” e ouvindo os xingamentos dos vizinhos contra nós. Baixei músicas da Nouvelle Vague na internet enquanto decidia ir na Casa de Cultura assistir a “Caché”. Falei com a Rosana, a Lu Thomé, encontrei a Fabi e o Napp. Comi chocolate e torta Miss Daisy. Recebi emails lindos lindos lindos e tive mais vontade de cantar alto, de rir, sair rodopiando pelo apartamento. Hoje foi um desses dias simples, nem sol, nem chuva, mas que a gente fica acordada até de madrugada só para tentar prolongar um pouquinho mais... Posted by Picasa

"Everybody get together
Free!
It’s okay if you can stand to let her dance
It’s okay it’s your right, come on and take a chance
True Romance, when you dance
Free!"
(You are free - Cat Power)