Ma vie en rose

De frente, de lado, de costas. En France.


terça-feira, junho 28, 2005

Gabo

E nesta fase de estar aprendendo e me conhecendo melhor, descobri que, no momento, todos os meus desejos consumistas se resumem a livros (ainda que "resumem" não seja a melhor expressão, afinal, quero muitos, muitos títulos).
Há duas semanas atrás saí com o Mateus na 37ª tentativa de escolhermos um tênis para ele (ahan, piscianos) quando os dois fomos sugados para dentro de uma livraria. Ele, para o lado das artes, e eu, para o lado dos latino-americanos. Ficamos mais de duas horas bagunçando as prateleiras da Siciliano enquanto os atendentes nos seguiam com olhos desesperados (talvez com a esperança que levássemos tudo o que manuseávamos, ou com o pressentimento de que não íamos levar nada).
Sem um tostão no bolso saí de lá com a alma vazia, como se tudo o que eu precisasse e quisesse estivesse ficando para trás – e estava. Mas para alívio da dor da pobreza, anotei dois trechos de dois livros de García Márquez. O de "Viver Para Contar", coloquei logo ali após o título do blog, e o de "Doze Contos Peregrinos", fala sobre escrever, a única atividade produtiva que tenho executado nestes últimos tempos, embora eu continue acumulando arquivos e papéis sem saber muito porque e para quê.
De qualquer forma, quando receber meu primeiro salário de meu primeiro emprego oficial, comprarei "Viver Para Contar". E espero que isso aconteça ainda esta semana, caso contrário também vai faltar dinheiro para comer e para me locomover.
O trecho que anotei de "Doze Contos Peregrinos" transcrevo aqui:
"... o esforço de escrever um conto curto é tão intenso como o de começar um romance. Pois no primeiro parágrafo de um romance é preciso definir tudo: estrutura, tom, estilo, ritmo, longitude e, às vezes, até o caráter de algum personagem. O resto é prazer de escrever, o mais íntimo e solitário que se possa imaginar, e se a gente não fica corrigindo o livro pelo resto da vida é porque o mesmo rigor de ferro que faz falta para começá-lo se impõe na hora de terminá-lo. O conto, por sua vez, não tem princípio nem fim: anda ou desanda. E se desanda, a experiência própria e a alheia ensinam que na maioria das vezes é mais saudável começá-lo de novo por outro caminho, ou jogá-lo no lixo...".

C´est tout, por enquanto...

sábado, junho 25, 2005


(Crédito: Mateus Bruxel)
E depois de uma semana corrida e estressante, malinhas arrumadas para ir para Estrela. Hoje e amanha quero ser como o Migalha, o gato do Mateus: tranquilidade...
Posted by Hello

Rir ou chorar

- Bom dia, gostaria de fazer uma reclamação.
- Qual o seu nome, por favor?
- Daniella.
- Senhora Daniella, em que posso ajudar?
- Quando fiz a solicitação deste número de telefone, pedi que não fosse incluído o serviço de secretária eletrônica. E algumas ligações estão caindo na secretária.
- Por favor, senhora Daniella, me confirme o número de seu telefone com o código DDD.
- É cinqüenta e um, três...
- Senhora Daniella, no cadastro da Brasil Telecom esse número não possui o serviço de secretária eletrônica.
- Sim, eu pedi que fosse retirado esse serviço. Mas acontece que quando toca mais de cinco vezes, ou quando o telefone está ocupado, a ligação cai em uma secretária eletrônica.
- As pessoas ligam e quando toca mais de cinco vezes, ou quando o telefone está ocupado, a ligação cai em uma secretária eletrônica?
- Sim, foi o que eu acabei de falar.
- Impossível, senhora Daniella.
- Por quê?
- Porque o seu telefone não possui o serviço de secretária eletrônica.
- Mas...
- O que deve estar acontecendo, senhora Daniella, é que as pessoas podem estar ligando para um outro número, que não é o seu, e que tem o serviço de secretária eletrônica.
- Ok. Eu mesma liguei para o meu número, deixei tocar cinco vezes e caiu em uma secretária eletrônica.
- Impossível, senhora Daniella.
- Por quê?
- Porque o seu telefone não possui o serviço de secretária eletrônica.O que deve estar acontecendo, senhora Daniella, é que a senhora pode estar ligando para um outro número, que não é o seu, e que tem o serviço de secretária eletrônica.
- Espera aí, amiga. Tu estás realmente querendo me convencer de que eu digitei errado o número do MEU telefone?
- Sim, senhora Daniella.
- Acontece que eu não digitei número nenhum. Eu tenho o meu telefone gravado na agenda do meu celular.E eu liguei do MEU celular para o MEU telefone e caiu em uma &*$%#! de secretária eletrônica que eu não pedi, que existe e que eu NÃO QUERO. Vou falar bem devagar para tu entenderes: eeeeeu que-ro can-ce-lar a se-cre-tá-ria e-le-trô-ni-ca.
- Impossível, senhora Daniella.
- Por quê?
- Porque o seu telefone não possui o serviço de secretária eletrônica.
- (Respiração profunda). Tá e será que tu podes me dizer como é que eu faço para acessar a secretária porque as pessoas estão ligando e estão deixando mensagens.
- Impossível, senhora Daniella.
- Por quê?
- Porque o seu telefone não possui o serviço de secretária eletrônica.
- (Rindo muito) Ah, é? E para onde vão as mensagens que as pessoas deixam? Para o além? Para uma outra dimensão?
- (Impaciente e irritada) A senhora gostaria de solicitar um reparo na linha?
- (Barriga doendo de tanta risada). Não, pára tudo. Acho que trocamos de papel, não é? Quem deveria estar irritada era eu, não tu. Mas sim, quero solicitar um reparo na linha, se é que isso é necessário para cancelar a secretária.
- Mas o cancelamento não será possível, senhora Daniella. Porque a senhora não possui...
- Tá, por favor, não me repete mais isso, senão vou ter falta de ar de tanto rir. Solicita esse serviço e era isso...

terça-feira, junho 21, 2005

Olheiras

Nessas duas últimas semanas tenho aprendido muito sobre mim mesma. E, definitivamente, só faço bem o que eu gosto de fazer. Pior, não sei fingir quando algo me desagrada, me magoa ou me cansa.
Quinta-feira passada me olhei no espelho e olheiras profundas se cavavam no meu rosto. Mais profundas do que as da época em que minhas energias se esgotavam pelas 12, 13 horas seguidas de trabalho ordinário na redação do jornal O Sul. Ou mais profundas do que quando as idéias sobre minha tese não me deixavam dormir, e eu varava madrugadas. Essas também são olheiras bem mais graves que as que eu cultivei com os meus últimos dois meses de desemprego, findos há uma semana.
Tenho andado longe, dispersa, em uma distração dolorida e um tanto consciente porque sei o motivo de todos estes fenômenos pessoais. É que só faço bem se quero se gosto e quando quero e quando gosto. Esforço, para mim, está diretamente relacionado a desgosto – exatamente como agora. Mas, no momento, não tenho como escapar desta situação.

domingo, junho 12, 2005

Dia dos Namorados 2

Ontem à noite recebi pela Angel um presente que o Vini comprou para mim em Londres: um mini LPcom duas das novas músicas do Coldplay. Fiquei tão, mas tão feliz, que levei para a casa do Mateus, um também apaixonado pelo Coldplay.
Cheguei na casa dele me esperneando de alegria: "Olha aqui! Olha aqui! Ganhei do Vini!". Quando ele viu o símbolo do novo álbum da banda impresso na capa do LP, fez uma cara de desânimo e só conseguiu pronunciar um decepcionado "Ahhhh". E em um esforço supremo, sorriu amarelo olhou para mim e disse "Que legal".
Percebendo a gafe, apressadamente tratei de tirar o disco da capa dizendo: "É um mini long-play. Tem duas músicas do cd novo". "Ah, só tem duas músicas?", os olhinhos dele brilharam. "Ah, que legal!", disse, desta vez verdadeiramente.
Poucas horas depois, pertinho da meia-noite, ganhei "X&Y", o novo CD do Coldplay.

O mais engraçado é que por pouco, por bem pouco, não compro o mesmo CD para o Mateus. No começo da semana passada, liguei para Saraiva e me informaram que "X&Y" ainda não havia chegado. Aí resolvi não arriscar... Mas, que puxa! Isso me renderia uma outra boa história do dia dos namorados...

"words go flying at the speed of sound
to show how it all began
birds came flying from the underground
if you could see it then you'd understand
oh, when you see it then you'll understand"
(Speed of Sound - Coldplay)

Dia dos Namorados 1

Dia 12 de junho, desde os primeiros anos da infância, me rende situações constrangedoras. Ao comprar presentes nesta data, eu horrorizava as atendentes das lojas. “Uma menina de sete, oito anos comprando presentes para o namorado!”. O mundo estava mesmo perdido, especialmente o daquela cidadezinha...
Um pouco mais tarde, na adolescência, ao fazer o pagamento de um cartão no caixa, a atendente me perguntou:
- É para o teu namorado?
- Não, é para o meu pai – respondi.
- Cruzes! Tu vais dar um cartão de dia dos namorados para o teu pai! – e se afastou, aterrorizada.
Ao sair da papelaria, todo o estabelecimento já estava a par da minha singela compra e das idéias pervertidas profanadas pela atendente. A compulsão pela fofoca da jovem senhora foi tão grande que ela nem me deu tempo de esclarecer que aquele era o dia do aniversário de meu pai. Fui embora com a certeza de que gente como aquela não merecia qualquer tipo de explicação.
Este ano, segue a minha saga de passar por situações constrangedoras no dia dos namorados. Com as reservas monetárias anuladas pelos últimos dois meses de desemprego, meu pai vai ficar sem presente. A diferença é que ele merece todas as explicações.

quinta-feira, junho 02, 2005

Primeiras palavras

Aos dois anos e meio de idade pronunciava apenas uma diminuta lista de sons: papá, mamá, bibi, para o carro, ba, referindo-se à água, e bu, quando queria a chupeta. Preocupada que isso estivesse relacionado a algum problema realmente grave, a mãe levou o guri ao médico, que foi categórico: "É preguiça de falar".
Ao chegar em casa, viu a oportunidade de ajudá-lo quando ele apontou para o bebedouro e disse: "Bá!".
- Filho, é água. Diga ááááááágua.
- Bá.
- Não, não é bá. É á-gua.
- Bá.
- Olha aqui pra mãezinha. Ááááááágua.
- Bá.
- Então vamos fazer assim: eu só vou te dar água quando tu disseres água. Á-gua.
Irritado, cerrou os dedinhos e, com o rosto mesclando entre o vermelho e o roxo, emitia um grunhido alto, denotando toda a sua braveza de criança contrariada. E, de súbito:
- Puta!
Absorta na incredulidade, a mãe ainda conseguiu pronunciar um "O quê?!" enquanto ele a olhava fixamente e gritava, na plenitude de sua oralidade:
- Puta! Puta! Puta!
Estava curado.
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Este é o meu irmão. Lembrei desta história verídica (que eu mesma presenciei) quando fui escrever um testemunho para ele no orkut. Hoje ele tem vinte anos, fala pelos cotovelos, continua gritando como um condenado, e desde este episódio, habituou-se a não ser contrariado nunca. Também tem um flog de besteiras e inutilidades: http://www.fotolog.net/demon_crazy (nossa, como temos coisas em comum!), mas que eu acho lindo, embora a recíproca não seja verdadeira.