Ma vie en rose

De frente, de lado, de costas. En France.


terça-feira, março 22, 2005

Felicidade foi embora

De repente uma saudade de casa. Vontade de ter colo de mãe, as brincadeiras do irmão, a presença do pai, mesmo que às vezes indesejada. A casa amarela de grandes janelas brancas, o jardim nem sempre bem cuidado, mas constantemente florido.

Dezoito anos. Uma infância e uma adolescência inteiras em um mesmo lugar – o que me irritava profundamente. Por quantas vezes não desejei intensamente estar longe de lá. Mas guardo várias boas lembranças. O futebol no pátio com o Fê, as tardes no telhado (proibidas depois que começou a chover dentro de casa), os passeios de bicicleta, os banhos de chuva na volta do colégio, o cheiro de café pela manhã, as madrugadas de contos e poemas, a paixão pela música e pela literatura.

O mais interessante dessa saudade repentina é o artifício inconsciente de apagar as más recordações. Nessas horas de vazio e de ausência tenho vontade de voltar no tempo, reviver esses momentos tão comuns e implícitos na época; hoje tão importantes e vivos na memória. E a certeza de que o status da felicidade só é real quando ela já se foi.

"there she goes
there she goes again
racing through my brain
and I just can't contain
this feeling that remains"
(there she goes - Sixpence None the Richer)

quarta-feira, março 16, 2005

Síndrome de Hello Kitty

A Hello Kitty sempre aparece ao lado de algum amigo, seja ele um urso, um coelho, ou um gato (Chocolate, segundo o Guilherme). E quando aparece sozinha, está sempre com um ramo de flores, com uma cestinha, um lápis nas mãos. Isso é uma prova da insegurança da gatinha. Aliás, quem explica a expressão sempre melancólica dela? Nem boca ela tem, impedindo qualquer sombra de sorriso em sua cara...
Minha identificação com a Hello Kitty data do meio dos anos 80. E cada vez mais acredito que me assemelho a ela. As pessoas, as situações e o tempo só contribuem para o aumento da minha decepção, da minha desconfiança, da personalidade introvertida. Tem dias que eu acordo sem a mínima vontade de falar. E se não interajo também não faz a mínima diferença para mim. Na verdade, poucas pessoas tem importado e valido a pena.
Estou cansada de conviver com falsidade, egoísmo, avareza, maldade, de ter que estar sempre concorrendo. Odeio mentiras, prefiro errar. Odeio competir, prefiro perder. Mas sinceramente, quem se importa? Definitivamente, não sou deste e para este mundo...
Por mais que eu fale, grite, esperneie, parece que as pessoas são cegas e surdas quanto aos meus apelos e aos de alguns outros como eu que encontro por aí. Cada qual se importa consigo mesmo, olhando sempre para o seu umbigo, se importando apenas com as suas necessidades e vontades.
Decidi que vale mais a pena seguir sendo Hello Kitty, com poucos ao meu lado, ou se só, me utilizando de artifícios para me esconder de quem não me merece. Sorrisos e palavras também para bem poucos. São esses que inspiram a não desistir.

"where´s the love song to set us free
too many people down
everything turning the wrong way round
and i don’t know what life will be
if we stop dreaming now
lord knows we´d never clear the clouds”
(out of time – Blur)