Ma vie en rose

De frente, de lado, de costas. En France.


quinta-feira, outubro 28, 2004

Mulheres, respeitem e sejam respeitadas!

Domingo, durante o churrasco dos Kmelianos na casa do Ricardo entrei, por acaso, na conversa de duas colegas a respeito de meninos e meninas. Fiquei pasma ao ouvir as reclamações delas quanto à “mulheres que dão em cima do meu namorado”. Pas-ma.

Muitas histórias de meninas que deixam de lado a dignidade, a moral, o bom senso, pelo simples prazer de estragar e atrapalhar a vida dos outros. Na presença ou não das namoradas.

Uma colega nos contou a história de uma amiga, que fazia o melhor estilo confidente, parceirona, e que ficou com um menino que ela ficava. E teve a cara de pau de vir pedir desculpas, como se fosse assim, simples. Poxa, esbarrei em ti, desculpa. Te apunhalei pelas costas, desculpas. Acabei com a nossa amizade, desculpas. Ferrei com teus sentimentos e com tua confiança, foi mal.

Fiquei pensando que nem a minha cachorra consegue ser tão cachorra. A Pandora tem sim noções de ética e sabe bem seus limites. E isso que, teoricamente, ela é um ser irracional. Porque, por exemplo, quando o Mateus chega na minha casa e ela o está importunando, eu grito: “Sai daqui, vagaba!”. E ela sai.

Não lembro, neste momento, de meninos importunando meninas comprometidas de uma forma tão incisiva e vulgar como tenho visto meninas importunando meninos comprometidos nestes últimos tempos. Pelo contrário, vejo que os garotos têm um código de ética implícito, que não necessita de palavras ou regras pré-estabelecidas. Elas só existem. E existem porque, para os caras, ainda há um sentimento de valor que é mais importante que desejo, vontade, avareza e inveja: chama-se respeito.

Não me refiro somente sobre respeitar ao próximo, mas respeitar a si mesmo. Querem ser respeitadas? Respeitem-se primeiro. Mulheres, tenham um pingo de dignidade, de compostura, de decência! E se não restou um neurônio para estimular sua inteligência, façam como a minha cachorra: respeitem por instinto.

sábado, outubro 23, 2004

Sobre este atual momento

Sobre este atual momento, tudo o que tenho a dizer é que estou extremamente atucanada com a monografia e incontrolavelmente apaixonada.
E bem, como ninguém mais neste mundo tem interesse em ler a minha mono, com exceção da minha orientadora, deixo aqui um textinho do Galeano que define, por completo, meus sentimentos.
E aproveito para sugerir a todos que se apaixonem e que amem muito. Deixem seus coraçõezinhos dispararem, as mãos suarem, sintam aquele friozinho na barriga e preencham-se com este sentimento.
Como toda boa pisciana, não acredito que haja nada melhor que isso.

O diagnóstico e a terapeuta

O amor é uma das doenças mais fodidas e contagiosas. Os doentes, qualquer um os reconhece. Fundas olheiras nos entregam que jamais dormimos, acordados noite atrás de noite pelos abraços, ou pela ausência dos abraços, e padecemos febres devastadoras e sentimos uma irresistível necessidade de dizer estupidezes.
O amor se pode provocar, deixando cair um punhadinho de pó de querer, sem querer, no café ou na sopa ou na bebida. Pode-se provocar, mas não se pode impedir. Não o impede a água bendita, nem o impede o pó da hóstia, nem mesmo o dente de alho serve para nada.
O amor é surdo ao verbo divino e ao conjuro das bruxas. Não há decreto de governo que possa com ele, nem poção capaz de evitá-lo, ainda que as curandeiras preguem, nos mercados, mandingas infalíveis com garantia e tudo.

quarta-feira, outubro 20, 2004

Raiz

Segunda-feira de ressaca, de cansaço, de saco cheio, de monografia para fazer.

Abro o portão bem rápido, sem olhar para os lados, fingindo cara de sono, antes que a zeladora, sentada em uma cadeira branca de plástico, no jardim do prédio, faça algum daqueles comentários típicos com seu sotaque colônia italiana que azedam o meu dia, a minha semana e às vezes toda a minha existência.

Ela me observa, esperando o momento exato para o disparate. E isso sempre acontece na hora do "ufa, ela não vai falar nada".
Ahan, e eu pensei isso de novo.

– Menina, ô menina, tu não vais mais pintar o teu cabelo?

Ah, maravilha!

– Vou sim.

Podia fazer de conta que não ouvi e seguir caminhando. Onde estão meus fones de ouvido nessas horas?

– É que tu tá com uma raiz enorme. Tá feio assim, tem que pintar.

Assim começam todas as segundas-feiras de todas as semanas...

Di-ver-são!



segunda-feira, outubro 18, 2004

O Mundo

Um homem do povoado de Neguá, na costa da Colômbia, pôde subir até o céu. Na volta, contou. Disse que contemplou, lá de cima, a vida humana. E disse que somos um mar de foguinhos.
– O mundo é isso – revelou. Um montão de gente, um mar de foguinhos.
Cada pessoa brilha com luz própria entre todas as demais.
Não há fogos iguais. Há fogos grandes e fogos pequenos e fogos de todas as cores. Há gente de fogo sereno, que nem se dá conta que existe o vento, e gente de fogo louco, que enche o ar de faíscas. Alguns fogos, fogos bobos, não iluminam nem queimam; mas outros ardem a vida com tanta vontade que não se pode olhá-los sem piscar, e quem se aproxima, se acende.

Eduardo Galeano

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Sem palavras, Galeano é maravilhoso. Claro que qualquer ser humano que se preze já filosofou sobre essa idéia de que todos somos únicos. Mas o Galeano vai muito mais além: suas palavras é que são únicas.
Aí quando estava voltando da aula hoje no Universitária bus, fiquei imaginando qual desses fogos sou eu. Concluí que, primeiramente, sou o fogo de todas as cores. Sou mesmo uma pessoa multicolorida e acredito que transmito isso para os outros. Aliás, tenho uma história muito engraçada sobre isso. Uma vez, passei na casa da Mari para irmos no Ocidente. Os pais dela estavam lá e ficamos conversando por um tempo. No outro dia ela me disse que o pai dela tinha dito: "Que engraçado a tua amiga. Parece uma borboleta de tão colorida". Só que neste dia, quando conheci os pais da Mari, eu estava vestida toda de preto.
Depois sou o fogo que arde com muita vontade. Eu a-mo viver. E olha que sou uma das piscianas mais sofredoras que já tive notícia! Mas acredito que até na dor há prazer. O prazer, de por exemplo, tu rires de uma situação chata que já passou. Ou de lembrar com alívio a ferida já cicatrizada. E ah, as coisas boas! Amar, beijar, abraçar, rir, sorrir, sair, dançar, cantar, viajar, sonhar, conhecer, sentir, saber, desconhecer, aprender, tocar, ver, comer, provar, aprovar, falar, ouvir, querer, conseguir, ter...
Costumo comentar com as pessoas mais próximas que tenho tantos planos, tenho tantas vontades, quero tanta coisa, que não sei se uma vida só é suficiente para realizar tudo. Acho que preciso no mínimo, de uns 500 anos para fazer tudo o que pretendo. E por enquanto estou só no 24° capítulo desta jornada.


sexta-feira, outubro 15, 2004

Para cima e para baixo

Minha vida continua de cabeça para baixo, mas eu, thank God, sigo de cabeça para cima. As coisas acontecem em uma velocidade impressionante, tudo corre, tudo voa... E se a gente olha para um lado para ver alguma coisa, se perdem muitas outras do outro lado!
Eu que rezei tanto para esse ano acabar logo antes que ele acabasse comigo. E agora estou pedindo uma freada nos dias. Preciso entregar o segundo capítulo da monografia agora no dia 25. Feira no livro no dia 29. Feriadão de novo no começo de novembro (e isso á ruim). Fotos e cd da formatura para a comissão no meio de novembro. Alguém pára 2004, por favor!
Essa semana passou assim, em uma piscada de olhos. Nem desarrumei minhas malas ainda. Tem livro sobre entrevista jornalística por todos os cantos do quarto. Louça fazendo aniversário na pia. Chuveiro elétrico ainda estragado (sim, estou tomando banho com água gelada). Aluguel atrasado. Minhas lentes de contato pifaram de vez. Estou usando um óculos com dois graus a menos. Minha cachorra tentando se suicidar do sofá. E pior que todas essas coisas juntas: A BARATA ARRANJOU UM BARATO E ELES SE MUDARAM DE VEZ PARA A PIA!
Mas apesar de tudo, me sinto muito muito muito feliz. Estou em uma fase perfeita com o Teus. Entreguei o primeiro capítulo da mono (estou empolgadíssima). Estou falando com o meu pai, depois de três anos. Meu óculos desenho animado chega de viagem amanhã de manhã. Minha mãe comprou Hello Kittys para mim. Mix Bazaar esse finde. Muitas fofocas e diversão no plantão com a Fabi e Late Bar no Ocidente amanhã. Churras dos formandos no domingo. E hoje festinha super divertida com a Mari, a Angel, o Gus e o fofucho no Cabaret Voltaire. E depois dormir bem juntinho com o Teus.
É, 2004 não é assim tão terrível...
:)

E bom finde para todos!

terça-feira, outubro 12, 2004

Balanço do finde

Fazia tempo que eu não passava um final de semana pensando em não pensar em nada. Esquecer tudo, deixar as obrigações em Porto Alegre, levar na mala só a vontade de me divertir, de rir e trazê-la cheia de coisas boas para dividir e para contar.
Quando cheguei em Tubarão na sexta-feira de manhã, não imaginei que um final de semana cheio de surpresas fosse me esperar. E foram coisas tão boas que hoje, em pleno feriado, estou aqui, de pé às 8h da manhã, me preparando para terminar o primeiro capítulo da monografia. E melhor que isso: estou feliz, completa, revigorada, cheia de energia.
Cheguei em Tubarão sexta-feira de manhã bem cedinho. Minha mãe já tinha programado todo o dia. Oftalmo, compras, presente de aniversário para o meu irmão, supermercado. Saí de casa às 8h da manhã, voltei às 8h da noite. Capotei de roupa, por cima das cobertas e sem tomar banho. Acordei só no outro dia com o telefonema do Mateus, às 5h da manhã.
Churrasco de aniversário do Fê: 20 aninhos. Dei um jogo de toalhas do Bob Sponja para ele. Ganhou miniaturas também do Bob Sponja do Mateus. Acho que no fundo o guri não cresce por culpa minha...
Depois Garopaba, praia do Rosa. Ouvir as catarinices do Fê até lá. É uma figura o meu "ermão". Nariz de arroba. Óculos de surfista. Buzina para a mulherada na BR. Grita pela janela. Fala com o Bob Sponja pendurado no vidro do carro. E aquela cara "mamãe quero ser mau"... tsc, tsc, não combina nada nada com o sotaquezinho barriga verde.
Encontramos a Carol e a Halina no Rosa e fomos para a entrevista. Deles, não minha. Mas obtive a permissão da Carol para fazer perguntinhas. O entrevistado: Olívio Lamas, fotógrafo, renomadíssimo, autor da primeira foto publicada de um portador de Aids na fase terminal, vencedor do prêmio Esso de fotografia em 88. O cara atendeu a gente com uma camiseta rasgada do Fórum Social Mundial, bermudão velho, havaianas. E uma simplicidade, e uma humildade, que me me brotou um ódio imenso desses jornalistinhas de merda que a gente encontra por aí achando que são o umbigo do mundo.
A entrevista foi na sala de estar de um sítio que ele tem no Rosa. A gente ali babando no cara porque ele já trabalhou para a Folha, Estadão, Veja, Globo... E ele nem aí. Só quer fazer o trabalho dele e fazer bem. Cara, que inveja. Mas não só de tudo o que ele já fez, mas a maneira como encara a vida e a percepção que tem de tudo.
Que lindo ver o Mateus fotografando. Eu sei, sou uma namorada muito babona, corujona. Mas fazer o quê: namoro o cara mais fofo do universo!
Depois da entrevista (começamos às 16h, saímos da casa do Lamas às 19h30), as gurias voltaram para Floripa. Eu e o Teus rumamos para a Ferrugem. Escolhemos uma pousada, fomos comer pizza, rimos da situação de estar passando frio em um feriado em Santa Catarina.
Vento e chuva. Dormimos abraçadinhos e acordamos às 2h da manhã morrendo de sede. Dançamos hip hop em um barzinho cheio de surfistões e cachorronas. Rimos muito da situação. Quando deixou de ser engraçado e ficou chato voltamos para a pousada para ficarmos bem juntinhos debaixo das trovoadas.
Café da manhã liberado e perdemos o ônibus de volta para Tubarão. Saímos para caminhar e fazer fotos. Pé na areia molhada, sentir a água do mar, conversar sobre coisas boas, admirar gaivotas. Quem disse que o tempo estava fechado?
O Fê foi buscar a gente. Em Tubarão, almoço com a família. Depois de três anos voltei a falar com o meu pai...
Banho tomado e fomos encontrar as âmigas. Das 16h até às 21h30 só fofocando, só relembrando nossas aventuras, só rindo. No final as bochechas da Ká já estavam com cãimbra e o meu abdômen dolorido de tanta risada. O Mateus adorou as gurias. Sim, ele agüentou do início até o fim nossa maratona luluzinha.
Chegamos em casa, arrumamos as coisas. Acordamos no outro dia antes das sete e tomamos o bus de volta a PoA, à realidade, ao tronco dos estagiários, ao tudo de novo.
Mas tudo muito melhor.

quarta-feira, outubro 06, 2004

La Vida Loca - Parte 2

De repente não sei mais onde estou. Vou fazendo tudo por instinto e tudo muito rápido. De repente está tudo de cabeça para baixo e não encontro mais nada, nem mais ninguém, nem a mim mesma. Minha casa está em total desorganização, no meu quarto tem roupa pendurada até no lustre, minha cachorra está suja, o chuveiro elétrico queimou na semana passada, acabou a água, a louça está fazendo aniversário na pia, acho que a barata continua na cozinha.
Na Casa de Cultura, só loucura. A nossa sala está sempre cheia, os telefones não param de tocar um segundo, descobrimos esta semana que temos que fazer um material para divulgação para semana que vem. Além disso, não consegui ainda terminar meu primeiro capítulo da monografia e tenho que entregar o primeiro e o segundo na próxima quarta-feira. Recebi meu salário ontem de manhã, à noite a metade dele já tinha ido no pagamento das taxas da formatura.
Não tenho dormido, nem comido. Não tenho conseguido falar com a Mari, com a Ângela e com a Keila. Essa semana ainda não vi o Mateus. Aliás, vi sim. Ele passou na Casa para deixar o dinheiro para eu comprar a passagem dele para Tubarão.
Meu oftalmo cancelou a consulta que eu tinha no sábado. Nasceu um fungo na minha lente de contato. Meus óculos quebraram. Tive que marcar uma consulta de emergência no oftalmo na sexta-feira. Vou para Tubarão na quinta de madrugada, em um ônibus pinga-pinga. Sete longas horas de viagem em uma poltrona dura e fedorenta.
Cortaram minha energia elétrica. A TIM mandou uma mensagem para o meu celular dizendo que se eu não comprasse créditos meu chip seria cancelado.
Meu cabelo está com uma raiz escura enorme. Estou com olheiras profundas. Meu horóscopo de hoje diz para eu dar um tempo nas coisas e refletir.
Só que, se eu parar pra refletir corto os pulsos no primeiro segundo.

La Vida Loca - Parte 1

Chego em casa às nove e meia da noite. Aperto o interruptor da entrada. “Ué, queimou a lâmpada?”. Caminho pelo corredor, aperto o interruptor da sala. “Queimou a lâmpada na sala também?”. Saio desesperada procurando uma lâmpada que acenda. “Putamerda, a conta de luz!”. No escuro procuro o telefone.

- Mateus, cortaram a minha energia elétrica. O que eu faço?
- Pega um ônibus e vai lá pra casa.
- Não dá, não tenho um puto no bolso.
- Passa no banco, pega dinheiro, pega um ônibus e vai lá pra casa.
- Não dá, nove e meia, o Banrisul já fechou.
- Liga pra CEEE e vê porque cortaram a tua luz.
- Não dá, estou no escuro, como é que vou achar o número da CEEE?

Mateus no telefone. Moço da CEEE no celular.
- Moço, moço, cortaram a minha energia elétrica.
- Vamos verificar. Aguarde um momento, por favor. Você não efetuou o pagamento da fatura, por isso sua energia foi cortada.
- Moço, eu esqueci, juro. Mas se eu fizer o pagamento vocês tornam a ligar meu telefone?
- O telefone não, a conta de luz sim.
- Isso! A conta de luz. Vocês religam quando?
- Em até quatro horas.
- Hoje ainda?
- Sim, mas só se você efetuar o pagamento.
- Estou indo lá então.
- Mas só se você ligar avisando que efetuou o pagamento.
- Peraí. Eu vou lá no banco, faço o pagamento, ligo para vocês e, em até quatro horas vocês religam minha energia?
- Exato.

Mateus no telefone:
- Dany, o banco já fechou.
- Putamerda. Espera. Pela internet. Eu te dou minha senha e tu fazes o pagamento para mim?
- Nunca fiz isso.
- Tudo bem, vou te dizendo o que tens que fazer.

Moço da CEEE no telefone:
- Estou ligando para avisar que fiz o pagamento da fatura e para solicitar o religamento da minha energia.
- Preciso conferir uns dados.
- Tudo bem, mas em quatro horas vocês religam minha energia?
- Em até quatro horas.
- Moço, tenho o primeiro capítulo da monografia para terminar, não pode vir ninguém aqui antes?
- Em até quatro horas. E você tem que ligar a chave do dijuntor.
- Chave? Que chave? O que é um dijuntor?
- Pede para o seu zelador fazer isso.
- Não é zelador. É uma zeladora. Fofoqueira. Metida. Amanhã toda a Henrique Dias vai estar sabendo que cortaram minha luz. Vocês não podem ligar a chave do... como é mesmo o nome?
- Dijuntor. Não podemos por uma questão de ética.
- Ahn? Putz... Mas eu posso né?
- Sim. É só puxar a chave do dijuntor para cima.
- Ah, aquela caixa preta. Isso é o dijuntor?
- Sim.
- Eu puxo o quadradinho da caixa para cima, é isto?
- Sim.

Minha mãe definitivamente vai me matar. Acendo uma vela, não para iluminar o apartamento, mas para rezar. Trinta minutos depois interfone. CEEE. E Deus criou a luz.

Oito da manhã desço as escadas devagarinho. Nada no corredor. Nada no jardim do prédio. Abro o portão. Saio. Fecho o portão.
- Menina! Ô menina!
Minha zeladora e seu sotaque colônia italiana.
- Onte os rapaz da CEEE viero aí corta tua luz.

Ainda bem que ela me avisou. Senão eu não teria nem percebido.
E esse é só o começo do meu dia...

segunda-feira, outubro 04, 2004

Parabéns, âmiga!

Hoje quero dedicar prestar uma homenagem a uma das minhas melhores âmigas: Karina Silvestri, também conhecida como Ká, Kazinha, Karina Silvestri Stallone, Frajola, Vera Fisher, Sandra Bullock loira. Ela completa 24 primaveras neste dia 4 de outubro. E pelamordedeus, estamos ficando muito velhas! Mas ainda assim, parabéns, amiga!
Conheci a Karina ainda no jardim de infância, em Tubarão, no Colégio Ginásio Santíssimo Sacramento, ou nas Irmãs Bananas, como os estudantes das outras escolas nos apelidaram, em função da fundação de nosso colégio por freiras baianas. Como 99% das meninas das Irmãs Bananas que pegaram piolho, eu e a Ká tínhamos cabelo do estilo “Joãozinho”, como sugeriam as professoras às nossas mães. Assim, de saia e tênis vermelhos e blusa branca ficávamos todas iguais. Mas a Ká eu conseguia identificar muito bem, porque além de rechonchuda, ela era toda rosinha, em função de suas alergias. Além disso, ela usava uma chuquinha quase grudada às têmporas, com os escassos cabelinhos que a mãe dela devia puxar com muita dificuldade – e que para o meu desgosto (era mesmo muito feio), minha mãe copiava. Um dia eu estava sentada em uma das mesinhas coloridas do jardim sem fazer nada (já no jardim de infância eu ficava muito de saco cheio das coisas) e a Ká chegou pra mim e disse: “Que engraçado! Tu usas uma chuquinha igual a minha”. Aí ficamos amigas.
No pré-escolar nos separaram. Como a escola era enorme (ou pelo menos naquela época parecia ser enorme) não nos vimos por um tempo. Voltei a reencontrá-la em um recreio, quando o Chester e a Bibiana, as duas crianças mais gordas do colégio, estavam correndo atrás da Karina e gritando: “Gorda! Gorda”. Eu achei tri divertido, e me sentindo parte do grupo (eu também era bem rechonchuda), saí correndo atrás dela e gritando a mesma coisa. Só porque o Chester e a Bibiana eram tão enormes que não conseguiram nos acompanhar. Fomos parar na porta do banheiro dos meninos – território proibido. Então ela se virou e me implorou, com as mãozinhas juntas, que eu cessasse a perseguição. Para ver até onde ela ia, continuei gritando e avancei mais um pouco. Ela não teve dúvidas e se escondeu no banheiro masculino. Achei o máximo: eu jamais entraria (nem nunca entrei) no banheiro masculino. Um tempo depois um menino insistiu nas provocações contra a Ká. Só que ela já devia estar muito cansada dessa história de ser chamada de gorda. Não teve dúvidas. Pegou um paralelepípedo que estavam usando na construção da gruta do colégio e atirou na cabeça do guri. Pelo que me lembro, ele passou umas boas semanas no hospital.
Depois disso, só fui reencontrar a Karina na 8ª série. Ela era de uma turminha que achava que dominava o colégio, que ria das pessoas, que intimidava os colegas, que se achava o máximo. Um dia fui entrar no banheiro e não pude porque a Karina estava com uma perna na porta de entrada cantando “Teresinha de Jesus”. E não saiu. Chateada, vi que várias colegas tinham muitas reclamações dessa turma. Chamamos a professora regente da classe e reclamamos. Combinamos de conversar tudo em uma aula, onde todas as prejudicadas exporíamos nossas opiniões. Só que na hora, as prejudicadas se esquivaram e disseram que nunca haviam tido problemas com a turminha do mau, que não era tão má assim, e que acabou me adotando. Passei para o outro lado e, partir daí, fiquei muito amiga da Karina e da Milaine – como somos até hoje.
Eu e a Ká passávamos o verão na mesma praia – Laguna. Ela e Milaine adoravam Carnaval, axé music, ficar no meio da galera suada dançando: tudo que eu mais abominava no universo. Claro que eu ia junto, e ficava lá, horas a fio, camiseta do Iron Maiden, de cara amarrada, às vezes tentando imitar a desenvoltura das duas, às vezes parada de braços cruzados rogando a Deus que fizesse os segundos passarem mais rápido. E ainda tinha que ouvir a Karina cantando e apontando para mim: “Meu cabelo duro é assim, cabelo duro de pixaim”. Que momento.
Eu e a Ká temos muitas histórias hilárias juntas. Como no dia em que estávamos no máximo de nosso auge físico jogando frescobol na praia. Sábado, cinco da tarde, areia lotada, todo mundo parou para nos assistir. E quando reuni todas as minhas forças para dar a raquetada do jogo, o fecho da parte de cima do meu biquíni quebrou. Fiquei semi-nua na frente de toda a Laguna. Mas a Ká, em questão de segundos, conseguiu uma camiseta pra mim, me abraçou e me pediu pra eu ficar tranqüila.
Tem outra muito engraçada também de uma vez que eu, ela, a Manu e a Renata fomos comer batatas fritas. Quando chegou o nosso pedido, a Ká pegou todos os sachês de ketchup e, desesperada, tentou abrir um deles com o dente. Nós três ficamos só assistindo a cena em que a Karina brigava inutilmente com o sachê que não queria abrir. Usando de sua "pouca" força, ela furou o saquinho com uma dentada tão forte que voou ketchup para todos os lados, e, principalmente para dentro de nariz dela. Foi quando a apelidamos de Frajola.
Outra vez, eu, ela e Manu estávamos voltando pra casa de uma sorveteria e a Karina encontrou um menino que ela estava ficando. Toda apaixonadinha, ficou conversando e rindo com ele. Quando ele foi embora virei para ela e falei: “Tem um granulado enorme entre os teus dentes”. Ela ficou tão descontrolada com o fato de ter pago um mico que não deu nem tempo de eu desmentir minha observação. Com aquelas mini-saias onde aparecia até a alma, atravessou a rua correndo e chorando e quase foi atropelada. Essa foi uma das poucas vezes que vi a Manu muito, mais muito brava com a Karina.
Essa história é clássica. No aniversário de dezessete anos da Ká nos reunimos, como de costume, eu, Manu e Mi na casa dela para comer docinhos, salgadinhos e falar bobagens. Só que a Mi estava passando por uma fase muito ruim, cheia de problemas na família e ainda morando em Floripa, longe de tudo, sem poder ajudar e tendo que encarar a rotina pesada de vestibulanda. Por vários minutos, ela explicou tudo que estava acontecendo, desabafou as mágoas e ficou um clima tri pesadão. Um silêncio enorme. Ninguém nem sabia o que dizer. Aí a Ká levantou o dedo, como se fosse falar alguma coisa, e todas olhamos para ela. “Passa o salgadinho”, ela disse apontando para a bandeja dos salgados, como se estivesse tudo normal. Foi hilário.
Da série Que Vergonha da Karina, tem outra engraçadíssima. Pouco tempo antes de vir estudar em Porto Alegre fiquei com um menino em uma festa. No final da noite fomos para a rua e ficamos por ali. Quando a Ká, a Mi e a Manu resolveram ir embora e me encontraram com o menino ficaram impressionadas com a cena incomum. Era o terceiro carinha que eu ficava em dezenove anos de existência. A Ká ficou tão feliz, mas tão feliz, que do alto de seus muitos centímetros de salto agulha ficou em um pé só e gritou: “Uhuuuuuu!”. Gritou e caiu. Bem na frente de um carro estacionado que estava dando a partida para sair. Envergonhada, a Milaine olhava para mim, temendo que aquilo tivesse acabado com a minha diversão, e com a ponta do pé dava uns chutinhos na Karina e dizia: “Levanta, levanta”. Na maior classe, ela levantou, arrumou os cabelos e saiu andando poderosa como se nada tivesse acontecido.
Também foi a Ká que me carregou de volta pra casa quando tomei meu único, primeiro e (espero) último porre da vida. Também em um Carnaval, depois de misturar cerveja com uísque e vomitar em um balde na frente da Manu e do Vitor, na casa de praia do Milioli. A Ká me agarrou, me levou até a casa dela e ainda ia chutando os bêbados remanescentes da noite que se aproximavam da gente.
Poderia ficar horas escrevendo sobre a Karina. Ela é uma personagem e tanto. Imaginem uma loira poderosa, 1,70m de altura, bundão, peitão, desejada por todos os seres masculinos do universo. Dona de citações clássicas como “De tudo o que sei só sei que não sei nada”, estudante de medicina, hipocondríaca, maníaca por cosméticos (inclusive o memorável creme Luva Sinicone: aham siNicone), dona de uma risada de bruxa malvada, abraço de urso, a melhor intérprete da Janis Joplin que eu já ouvi até hoje, católica até o último fio de cabelo, tia corujíssima de dois meninos, imbatível bebedora de cerveja (uma época ela competia com os guris e ganhava sempre), consumidora de calcinhas e sutiãs de oncinha, de preferência, com lacinhos, autora de letras de música como “Eu perguntava tu e o holandês/E te abraçava tu e o holandês”, 100% noveleira (às vezes a gente tinha que ir mais cedo embora da praia porque ela não podia perder um capítulo da novela das seis: que ó-dio!) e com um coração do tamanho de um ônibus, desses que sobe gente em todas as paradas, porque sempre tem espaço pra mais alguém. Então, essa é a Karina.
Faz mais de seis meses que eu não vou para Tubarão. E sinto muita saudade das “âmigas”, como nos designávamos, e de todas as nossas indiadas. Hoje, quando liguei pra Karina para desejar feliz aniversário, essas histórias e muitas outras me vieram à memória. E o melhor de tudo isso é que sei que, quando eu chegar na casa do portão branco enorme, usar de toda a minha força para abri-lo, tocar a campainha, a Ká vai abrir a porta, me pegar no colo, me rodar, me jogar prá cima e dizer: “Que saudades da minha amiguinha!”. Aí vou ter a impressão de que o tempo não passou pra gente e a certeza de que nossa amizade continua ali, intacta.




sábado, outubro 02, 2004

Mais doce

Esse finde promete. Hoje tem festinha do Saulo na casa da Carol Andreis. Os guris do White Stripes estarão lá, a Carol deve ter coisas bem legais para contar (ela sempre tem).
Amanhã, vou para Estrela com o Mateus. Vou conhecer o gato Migalha e a minha sogra fofa e pisciana fez negrinhos para mim.
Manhã e tarde muito legais hoje. Fazer as coisas sem pressa, comer sobremesa depois do almoço, ouvir Coldplay, escutar e contar coisas engraçadas, namorar. O dia foi todo pra ele.
Voltarei cheia de histórias amanhã. Sweet, eu espero.

Dany e as baratas

Eu nunca tive grandes problemas com sapos, aranhas, grilos e afins. Inclusive, quando encontrava algum desses bichinhos pernudos dentro de casa, costumava removê-los para um lugar mais interessante e divertido (para eles e para mim) para não ter que matá-los. E não tem nada a ver com budismo, não. Pura piedade.
Mas as baratas sempre atrapalharam a minha calma e minha tranqüilidade (para quem ainda acredita que eu sou calma e tranqüila). Quer me ver tendo ataques de pânico, de histeria e desespero? Há, só com as baratas.
Em Tubarão sempre tinha alguém para dar uma chinelada e cessar meu escândalo. Aqui em Porto Alegre só fui morar com a Carol Andreis depois que ela me garantiu que nunca nenhuma barata havia colocado uma perninha para dentro do apartamento dela. Um ano depois, quando fui morar com a Mari e entrei no apartamento, já vi que ali tinha barata. Porque é assim: eu entro no lugar e penso “aqui tem barata”. E pode apostar que tem.
Um dia eu estava no quarto e ela gritou. De cara já fui pensando: barata. E era mesmo. Às onze e meia da noite estávamos nós duas na cozinha gritando nos mais inalcançáveis decibéis. Ela com uma vassoura na mão e eu escondida atrás dela. A barata passeou bem feliz por toda a cozinha. Depois, acho que devido à nossa má recepção, se cansou e foi embora. Eu só ficava imaginando quando a minha room-mater fosse para a casa dela do interior de Santa Catarina. Quem iria me proteger das baratas?
Um dia eu estava bem feliz, tomando suco de laranja na sala e uma fdp saiu correndo da cozinha e ficou parada no corredor me olhando. Primeiro gritei. Depois pensei: “Cara, o que eu vou fazer?”. Liguei para o Paulista e para a Carol Andreis. Liguei para o namorado da Mari que tinha aula por perto. Mas ninguém atendeu. E a barata esperando. Aí lembrei do Miguel, zelador do prédio da Carol, que era perto de onde eu morava. Pedi para a barata esperar e fui apelar para ele. Depois de rir bastante da minha cara e perguntar se a barata era maior que um skate, ele foi até o meu apartamento munido de uma arma mortal: um tubo de Raid. Claro que a barata já tinha ido embora. Mas ele procurou e conseguiu achá-la. Aí pude dormir aquela noite tranqüila.
Um dia descobri onde elas moravam: em um armariozinho debaixo da pia. Seguindo o exemplo do Miguel, despejei um tubo de Raid e fechei a portinha do armário. Um dia o namorado da Mari resolveu abrir a porta. A partir daí não consegui mais dormir direito naquele apartamento. Porque havia um milhão de baratas mortas-vivas vivendo no armário debaixo da pia. E eu tinha pesadelos com elas. Elas vinham, em fila indiana, até o meu quarto me buscar.
Aí fui morar com o meu primo: o Thiago. Só que ele estava no último semestre de Medicina e quase sempre estava fora de casa. Quando ele estava no apartamento e me ouvia gritando, já vinha com um chinelo na mão. Quando não, eu dava meus chiliques sozinha. Uma vez cheguei de O Sul tri tarde, morrendo de fome. E tinha uma viada de uma barata que corria por toda a cozinha. Quando acendi a luz, ela voltou para a casinha dela: também na portinha debaixo da pia. Não tive dúvidas: liguei para o Tito e chorei,chorei,chorei. Estava morrendo de fome, precisava comer. E pelo telefone ele me deu as coordenadas para que eu pegasse a comida sem desviar os olhos da pia. Que momento!
Tenho um histórico enorme de chiliques por causa de baratas. Uma vez no Rio, na fila para pagar a consumação, saiu uma barata pela portinha de onde o cara cobrava. Não tive dúvidas: gritei, esperneei, me descabelei e incentivei todas as outras meninas da fila a fazer o mesmo. Quando eu ia ou vinha do Ocidente com o Vini pela Oswaldo era um show à parte. Agarrada no braço dele, eu ia gritando desde a esquina com a Ramiro até a João Telles.
Aqui neste apartamento da Henrique Dias nunca tinha encontrado nenhuma. Aí na quarta-feira, estava comendo na sala quando a Pandora deu um grito na cozinha e veio chorando se queixar para mim. Não dei muita bola. A Pandora é uma cachorra muito fresca – pensa que é gente. No outro dia à noite fui fazer um chazinho e quando abri a gaveta tinha uma senhora barata bem feliz. Aí entendi o susto da Pandora (ela deve ter aprendido comigo). Gritei. Liguei para o Mateus. “Amanhã vou aí matar pra ti”. Mas ele acabou esquecendo, e eu, quando estou com ele, também esqueço de tudo.
O resultado de tudo isso é que não entro na cozinha desde quinta-feira. Já pensou se eu estou lá e a barata me ataca? Caio dura, na hora. E a Pandora também.